3 Macacos (Üç Maymun, 2008) chega ao circuito brasileiro semanas depois do lançamento de Climas, o filme anterior, de 2006, do diretor turco Nuri Bilge Ceylan. Ainda é um panorama estreito, mas já dá pra ter uma ideia do trabalho do cineasta que saiu do Festival de Cannes ano passado com o prêmio de melhor diretor.
3 macacos
3 macacos
Ceylan é adepto de narrativas com pouco texto e muito subentendido. A história começa com um atropelamento numa estrada chuvosa, à noite. O político que guiava o carro, às vésperas de uma eleição, teme ser julgado pelo crime. Ele convence seu motorista a assumir a responsabilidade do atropelamento - em troca, promete um bom dinheiro quando o empregado terminar de cumprir a pena.
O político promete também pagar um salário à esposa e ao filho do motorista, os dois protagonistas da história. A mãe, o filho e o marido encarcerado, vividos respectivamente pelos expressivos atores Hatice Aslan, Ahmet Rifat e Yavuz Bingöl, são os tais símios do título - em referência aos três macacos do folclore japonês, o que nada vê, o que nada diz e o que nada escuta.
A trama sobre a incomunicabilidade da família contaminada pela corrupção, que de legado só conseguirá deixar o sentimento de culpa, se adequa bem ao estilo monossilábico de Ceylan. O texto ralo, porém, não significa que o visual seja igualmente minimalista. Pelo contrário, o cineasta abraça com vigor o tipo de exotismo oriental que costuma fazer sucesso em festivais de cinema.
A ambientação, antes de mais nada, hiperboliza o caráter de danação: trovoadas, rajadas de vento e céus fechados com raios tímidos de sol cobrem as cabeças condenadas dos protagonistas. A claustrofobia, intensificada pelas onipresentes cores pálidas, se completa na geografia: a casa da família fica ao lado de uma linha de trem que a todo momento, com o apito férreo, nos relembra as amarras que prendem pai, mãe e filho àquele local.
E quando estão à beira-mar, tradicionalmente uma metáfora para a mudança, eles ficam de costas para o porto.
Junte a esse cinema de simbolismos um pouco de sobrenaturalidade - fantasmas, mesmo - e temos um filme que, ainda que não nos diga nada, parece estar cheio de mensagens ocultas, abafadas. 3 Macacos impressiona, mas é pela intimidação.