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Além da Vida | Crítica

Não há tons pastéis no céu de Clint Eastwood

06.01.2011, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H14

Na mesma época em que o cinema espírita move multidões no Brasil, em filmes de fácil conexão com seu bem definido público, curiosamente temos a chance de analisar o tema sem o viés religioso (e os onipresentes tons pastéis) que o acompanham, através da visão de um dos maiores cineastas contemporâneos.

Não que Além da Vida (Hereafter), de Clint Eastwood, seja um filme espírita. Longe disso. O novo drama do octogenário realizador apenas se aproveita de alguns dos elementos que nos acostumamos a ver em produções com essa temática - mas não dá grande importância a isso. O personagem de Matt Damon no longa, afinal, é um médium de verdade, uma ponte entre os vivos e mortos, mas encara sua habilidade como uma maldição, preferindo fugir dela. Sua condição é algo que serve ao desenvolvimento da história e não à verdade incontestável dos filmes doutrinários.

Além da Vida

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Além da Vida

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A trama de Além da Vida costura três histórias distintas, passadas em São Francisco, Londres e Paris. Depois de uma experiência de quase-morte na Tailândia (em uma sensacional sequência de abertura), a jornalista Marie Lelay (Cécile de France) retorna à França para se descobrir mudada para sempre. Enquanto isso, em São Francisco, o operário de usina de açúcar George Lonegan (Damon), sofre pressão de seu irmão (Jay Mohr) para voltar às lucrativas leituras mediúnicas de seu passado. Em Londres, o menino Marcus (vivido pelos gêmeos George e Frankie McLaren) sofre a perda do irmão e a separação da família, com a mãe em tratamento para se livrar da dependência de drogas.

As conexões entre os três personagens demoram, mas são tão inevitáveis quanto a morte que os cerca de maneiras diferentes. Mais importante que isso, não soam forçadas em momento algum. Pistas são plantadas e respeitadas durante o lento (em alguns momentos um pouco arrastado) desenvolvimento do filme.

A primeira impressão quando analisamos o tema e a idade de Eastwood é que o cineasta veterano, depois de tantas homenagens aos gêneros que o consagraram e críticas, estaria preocupado com a morte. No entanto, em entrevistas, Eastwood disse que fez o filme apenas por ter gostado do material - "o teria feito aos 30 anos", diz - e que tem apenas uma curiosidade natural pelo tema, como qualquer um, e que a morte não é uma preocupação. Sua intenção é mostrar como a perda valoriza a vida - e aproxima os vivos.

O resultado é digno, mas carece da relevância moral de um Gran Torino ou histórica de seus filmes anteriores (Invictus, Cartas de Iwo Jima, A Conquista da Honra e A Troca). Com tema de fácil apelo, final feliz, desenvolvimentos calorosos e imagético piegas (vultos no contra-luz, nem os de Eastwood dá pra aguentar), Além da Vida trata-se, portanto, de um romance dos mais fáceis já trabalhados pelo diretor. A diferença é que através do olhar experimentado de um mestre, mesmo o roteiro mais clichê ganha valor - e extrai-se do filme outras qualidades e momentos, como a assombrosa sequência inicial, a primeira grande experiência de Eastwood com grandes efeitos especiais. E nesse ponto, o velho cineasta não decepciona.

Nota do Crítico
Bom
Além da Vida
Hereafter
Além da Vida
Hereafter

Ano: 2010

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 129 min

Direção: Clint Eastwood

Elenco: Matt Damon, Bryce Dallas Howard, George McLaren, Thierry Neuvic, Cyndi Mayo Davis, Lisa Griffiths, Jessica Griffiths, Ferguson Reid, Derek Sakakura, Charlie Creed-Miles, Frankie McLaren, Lyndsey Marshal, Rebekah Staton, Cécile De France, Jay Mohr, Richard Kind

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