Olivier Assayas (Carlos, Horas de Verão), realizador querido da crítica e público em festivais, retorna em Depois de Maio (Après Mai) ao tema de seu primeiro filme aclamado, Água Fria (1994): as revoluções culturais e políticas buscadas pela juventude estudantil na França no início dos anos 1970.
Apres Mai
A obra começa em 1971, nos arredores de Paris, onde o aspirante a pintor Gilles (Clément Métayer) e seus amigos Alain (Félix Armand), Jean-Pierre (Hugo Conzelmann) e Christine (Lola Créton), trabalham na disseminação de ideias revolucionárias e anarquistas. Quando um protesto dá errado, porém, eles precisam afastar-se da cidade em que vivem. Iniciam então jornadas distintas de conhecimento, de busca por ideias, inspiração e aprendizado.
Trata-se também de uma história com teor autobiográfico, já que Assayas envolveu-se com movimentos políticos na adolescência e, como o protagonista, cresceu com um pai roteirista de televisão. A trama acompanha Gilles enquanto ele amadurece sutilmente seu apreço pelo cinema, arte que no começo do filme é motivo de debates acalorados entre os movimentos de esquerda, que a enxergam como "pequeno-burguesa" e rechaçam até mesmo essa linguagem ("do inimigo") como maneira de narrar histórias importantes para seus movimentos.
Com excepcional trabalho de reconstrução de época de Francois-Renaud Labarthe e belíssima fotografia de Eric Gautier (Na Natureza Selvagem), o filme tem uma estrutura solta, orgânica, sem arcos de personagens ou uma trama convencional estabelecida. A história interessa-se apenas em acompanhar pessoas em busca de quem são - que mudam de amizades, relacionamentos e ideologias a cada passo. Os personagens não têm grande profundidade, porém, mas isso funciona favoravelmente ao filme, já que ele está muito mais interessado em mostrar o processo dessa construção de personalidades do que o resultado em si.
Assim, ao final, Depois de Maio é sobre o desejo de experimentar, de descobrir-se e deixar sua marca no mundo. "Você tem sorte, sabe o que vai ser", diz um dos personagens a Gilles. Mas saber o seu desejo não significa conhecer todas as etapas do processo e as fascinações que podem desviá-lo do caminho. É justamente isso que interessa Assayas.