Durante a convenção de fãs em que foi realizada uma apresentação de Arquivo X: Eu Quero Acreditar, segundo longa-metragem da franquia Arquivo X, o criador Chris Carter disse que a única razão pela qual queria realizar o filme era "para mostrar Mulder e Scully sobre um novo ângulo". E foi exatamente o que fez.
Sem estragar qualquer surpresa, o resultado desse desejo é o maior mérito do filme: Ver... Ou melhor, rever, os dois agentes interpretados por David Duchovny e Gilliam Anderson uma década depois. É como reencontrar dois velhos conhecidos e notar como eles seguiram adiante. Bom, ao menos como ELA seguiu adiante. Sim, pois não seria Arquivo X sem a paranóica fé no sobrenatural de Mulder.
Essa motivação obsessiva do ex-agente do FBI é justamente a isca para "fisgá-lo" de volta ao trabalho. Bastou alguma esquisitisse apetitosa para que o barbudo e recluso Mulder saísse do quartinho abarrotado de recrtes onde "estava feliz feito um marisco". É como se ele tivesse vida própria (ao longo de nove temporadas de série televisiva deve ter mesmo) e os roteiristas soubessem exatamente que botões apertar para convencê-lo a voltar.
É especialmente boa a maneira como o filme resgata a dinâmica e o universo de Arquivo X recorrendo muito pouco às imagens consagradas do programa. Não há ternos, lanternas frenéticas, conspirações governamentais ou distintivos sendo mostrados a cada instante. Há, sim, duas pessoas que se lembram desses tempos com desconfiança e por conta disso relutam em voltar à ação. Relutância que desaparece em segundos quando fica claro que tal retorno pode salvar uma vida (e pelo bem da trama, claro).
Obviamente, a nostalgia existe (seria estúpido se não existisse), mas é mérito da produção não se apoiar nela como desculpa para o filme. As seis memoráveis notas da música-tema estão lá, abrindo o suspense, assim como a neblina, os pinheiros, acontecimentos misteriosos e a eterna dinâmica credulidade versus ceticismo do casal protagonista, o teimoso e a cientista. Fora isso há pouco do velho Arquivo X e a trama, que lembra um dos bons episódios de "monstro da semana" dos tempos áureos do programa, não comportaria muito mais mesmo... É prova disso a participação de Mitch Pilleggi, o Agente Skinner, que soa gratuita e sem propósito.
Só não tenho certeza se não-fãs da série extrairão qualquer coisa de Eu Quero Acreditar... Ele é focado demais em um conhecimento prévio de seus personagens para funcionar. E os elementos de maior apelo junto ao grande público devorador de suspenses não são suficientemente estimulantes. Há uma cena de ação e correria fraca, o resultado das investigações - ainda que bizarro - é pouco mostrado por medo de pegar uma censura mais alta e não há um antagonista suficientemente carismático (note ao final: O personagem que sai estampado no jornal mal foi mostrado!). Enfim, é um suspense apenas razoável. O que vale mesmo é o reencontro.
Ano: 2007
País: EUA, Canadá
Classificação: 12 anos
Duração: 104 min
Direção: Chris Carter
Elenco: David Duchovny, Gillian Anderson, Amanda Peet, Billy Connolly, Xzibit, Mitch Pileggi, Callum Keith Rennie, Adam Godley, Alex Diakun, Nicki Aycox, Fagin Woodcock, Marco Niccoli, Carrie Ruscheinsky, Spencer Maybee, Veronika Hadrava, Denis Krasnogolov, Patrick Keating, Roger Horchow, Stephen E. Miller, Xantha Radley, Lorena Gale, Donavon Stinson, Dion Johnstone, Sarah-Jane Redmond, Christina D'Alimonte, Vanesa Tomasino, Luvia Petersen, Babs Chula, Marci T. House, Joseph Patrick Finn, Beth Siegler, Stacee Copeland, Tom Charron, Brent O'Connor, Dave Cote, Chris Carter, Paul Mitton, Vanessa Morley, Michael Stevens