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Bonecas Russas | Crítica

Bonecas russas

06.04.2006, às 00H00.
Atualizada em 28.11.2016, ÀS 02H22

Bonecas Russas
Les Poupées Russes
França/Inglaterra, 2005
Comédia/Romance
125 min.

Direção e roteiro: Cédric Klapisch

Elenco: Romain Duris, Kelly Reilly, Audrey Tautou, Cécile de France, Kevin Bishop, Evguenya Obraztsova, Irene Montalà, Gary Love, Lucy Gordon, Aissa Maïga, Martine Demaret, Pierre Cassignard, Olivier Saladin, Pierre Gérald, Zinedine Soualem, Hélène Médigue

As meninas que hoje estão perto dos 30 anos devem se lembrar da loucura que era ganhar uma matriochka (bonequinha russa), daquelas de madeira, que você vai abrindo e tirando outras de dentro, até encontrar uma bem pequenininha, quase do tamanho de uma unha. No fim dos anos 70 e começo dos 80 era bem difícil trazer coisas de fora do Brasil e eu nunca consegui ganhar a minha. É daí que vem o fascínio com que recebi a notícia de que a continuação do adorável Albergue Espanhol (2002) iria se chamar Bonecas Russas. A espera pela nova fita foi equivalente à da infância: exibida na Mostra do Rio no ano passado, chega aos cinemas paulistas mais de meio ano depois. Mas vale à pena, acredite!

Também perto dos 30 anos estão os personagens do primeiro filme, que já não moram juntos em Barcelona. De volta a Paris, Xavier (Romain Duris) tenta vencer como escritor e, enquanto não encontra a história perfeita para o seu romance definitivo, encara roteiros de telefilmes melosos e reportagens insípidas como free-lancer. Ele ainda é muito amigo da ex-namorada Martine (Audrey Tatou) que, por sua vez, continua insuportavelmente chata. Outra amizade dos tempos de intercâmbio também permanece: a de Isabelle (Cécile De France), que está ainda mais sedutora e cheia de namoradas e com quem o protagonista vai voltar a dividir a casa. Eles chegaram àquela idade fatídica em que cada passo é marcado pela autocensura e pela incômoda desconfiança de ter se transformado em fracasso.

Quando tudo está perto de desmoronar, a salvação parte de um encontro com aquele que seria o último a ser procurado: William (Kevin Bishop), o irmão da inglesa Wendy, que vivia de atormentar a todos com suas piadinhas preconceituosas e estereótipos sobre estrangeiros. À caminho de São Petersburgo, é ele quem irá reconectar os antigos amigos — colocando alguns para trabalhar juntos e levando todos, meses depois, para seu casamento com uma bailarina russa.

O reencontro pega cada personagem no meio de mais uma busca. Agora não mais a de quem se quer ser, mas sim a do que se quer conquistar - no amor ou no trabalho. Para o diretor Cédric Klapisch, essa longa jornada à procura de si mesmo e da cara-metade equivale à das garotinhas que, uma após a outra, abrem suas matriochkas na ansiedade de encontrar a última, a definitiva, a que é ao mesmo tempo tão pequena e tão perfeita.

Albergue Espanhol se dizia um filme sobre decolagem. Talvez por isso boa parte das pessoas vá preferi-lo a este segundo, que seria o equivalente ao período de um vôo que é marcado pelo que os comandantes costumam anunciar como velocidade de cruzeiro. Nesse estágio já não existe mais a excitação que acelera a cada minuto e que culmina com a saída do chão. Ao atingir a velocidade de cruzeiro, alcança-se também o trecho da vida em que rareiam os efeitos especiais. É difícil, em meio à briga para fazer emplacar um trabalho e às dúvidas quanto à sua capacidade de encontrar o grande amor, se sentir mais feliz e interessante do que no ano vivido na Espanha, numa casa lotada de amigos bacanas e com o futuro inteiro pela frente.

O mérito de Bonecas Russas, no entanto, é provar que, ainda que a maioria de nós viva preso a uma lógica dos tempos de criança — projetando o auge da própria felicidade para um ponto no futuro que parece distante, mas não muito —, também existem aqueles que se negam a tentar abrir a bonequinha para ver se existe uma outra dentro. Simplesmente porque ali, naquele momento, ela é perfeitinha demais para que nos livremos dela.

Nota do Crítico
Bom
Bonecas Russas
Les Poupées russes
Bonecas Russas
Les Poupées russes

Ano: 2004

País: França/ Inglaterra

Classificação: 16 anos

Duração: 125 min

Direção: Cédric Klapisch

Elenco: Romain Duris, Kelly Reilly, Audrey Tautou, Cécile De France, Kevin Bishop

Onde assistir:
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