Dois mestres do minimalismo, Jim Jarmusch (Ghost dog) e Bill Murray trabalharam juntos pela primeira vez em Sobre café e cigarros (Coffee and cigarettes, 2003), a divertida coleção de curtas do cineasta. Flores partidas é seu primeiro longa-metragem juntos... e que venham muitos mais.
O drama cômico conta a história de Don Johnston (Murray), um solteirão mulherengo que acaba de ser deixado pela namorada. Você me trata como sua amante, mas nem sequer é casado, reclama a moça. Melancólico e solitário, ele recebe quase que simultaneamente uma carta anônima. Dentro do envelope cor-de-rosa, sem remetente, a informação bombástica de que ele tem um filho de 19 anos. Johnston não demonstra interessa na missiva, mas seu vizinho xereta, o etíope Winston (Jeffrey Wright, excelente!), apaixonado por romances policiais, o convence a investigar o assunto e encontrar a mulher que escreveu a carta. Assim, o hesitante Don embarca numa viagem através dos Estados Unidos em busca de cinco antigas namoradas que podem ter pistas de seu filho.
Flores Partidas
Flores Partidas
Flores Partidas
Murray está mais uma vez perfeito como o protagonista, homem de emoções represadas, mas indisposto a romper o dique para deixá-las sair. Sua interpretação segue a linha contida/pensativa de Encontros e desencontros e A vida marinha com Steve Zissou. Coincidência ou não, dois dos melhores filmes estadunidenses dos últimos anos. Com este Flores partidas são três.
Mas o ator está em excepcional companhia. Sharon Stone, Frances Conroy, Jessica Lange, Tilda Swinton, Julie Delpy e Chloe Sevigny. Cada uma delas fica não mais do que cinco minutos na tela, mas roubam as cenas. É palpável nos encontros de Johnston com as ex-namoradas a velocidade com que o passado vêm à tona. Aliás, esse é o grande trunfo do filme. Na maioria dos road movies, o protagonista sai em busca de experiências novas. Neste, parte para reencontrar o passado. Obviamente, em nenhum dos casos há como permanecer o mesmo.
Jarmusch é um mestre em sua arte. Deixa a câmera parada, sem excessos de estilo, com a iluminação e cores mais naturais possíveis. Conhece a força de seu roteiro e dá um passo atrás para deixar o filme nas mãos dos atores e seus personagens. O único recurso de que se vale é a música, companhia de Johnston na estrada. E a seleção é extremamente feliz. O cineasta nos apresenta Mulato Astatke, um jazzista etíope, e mistura a exótica sonoridade do músico com Marvin Gaye e uma pitada de rock alternativo.
Sabe aqueles filmes em que você pensa se terminasse agora seria perfeito? Flores partidas é exatamente assim. Concluiu num momento tão perfeito que a edição parece ter sido feita em nível subatômico. Nem um átomo antes, nem depois. Deixa o espectador com vontade de ver mais, de conhecer mais aqueles personagens, de descobrir o passado, de acompanhá-los no futuro. Mas, como os casos passageiros do protagonista, encerra a relação logo, partindo-a como as flores do título.
Ano: 2005
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 106 min
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Elenco: Bill Murray, Julie Delpy, Jeffrey Wright, Sharon Stone, Frances Conroy, Chloë Sevigny, Jessica Lange, Tilda Swinton