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Crítica

Crítica: Invictus

A história de Nelson Mandela é real, mas espelha a filosofia de vida de Clint Eastwood

28.01.2010, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H57

O primeiro plano de Invictus já diz tudo. A câmera está sobre a grua filmando um grupo de crianças negras jogando futebol. Ergue-se e vira para a esquerda, onde treina um time adulto de rugby, esporte de brancos. Entre um campo e outro atravessa a comitiva que festeja a libertação de Nelson Mandela, depois de 26 anos de prisão.

Quatro anos depois, Mandela assumiria a presidência da África do Sul, mas naquele 1990 já estava muito evidente o drama que ele teria que encarar com o fim do Apartheid: acomodar os anseios da maioria negra da população e, ao mesmo tempo, mostrar à minoria branca, dominante, que ela não seria negligenciada no novo arranjo político.

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Até hoje um abismo social, cultural e linguístico ainda separa brancos e negros sul-africanos, mas a solução momentânea encontrada por Mandela - que acabou permitindo que seu governo prosperasse - foi certeira para agradar a todos: transformar o rugby, sem descaracterizá-lo, também num esporte para os negros. Esse é o foco do filme de Clint Eastwood.

Atestado de hombridade

Todo filme, mesmo o mais mecânico, espelha uma visão de mundo de seus realizadores, e no caso de Eastwood - com toda a mítica que acompanha o ator e diretor - fica mais difícil dissociar Invictus, ainda que baseado em uma história real, da filosofia de vida do cineasta. Em entrevistas o velho Dirty Harry costuma apontar a infantilização do debate político nos EUA, movido hoje pelo que ele chama de "adultos juvenis". Sob essa ótica, Invictus é a defesa de um mundo de homens, de adultos de fato.

Por um lado, temos então um presidente pragmático (interpretado por Morgan Freeman no limite do caricato) descrente da burocracia e da liturgia do cargo - repare como as cenas em escritórios e reuniões são escuras, modorrentas. Do outro, a representação viril da combatividade de Mandela, o capitão do time de rugby, Francois Pienaar (Matt Damon) - filmado em câmera lenta e planos-detalhes, enfrentando sobrehumanos guerreiros maoris, sangrando e combatendo por milímetros no scrum, o amontoado de jogadores do rugby.

A juventude briosa do ator e a velhice sábia do diretor - ou pelo menos aquilo que Eastwood acredita serem ideais de mocidade e de maturidade - representadas em cena. Mandela tem até o mesmo ponto fraco de Clint, as mulheres. Afinal, como ensinam os filmes do diretor, atestado de hombridade implica ser o mais forte entre os seus, mas inepto com os filhos e com o sexo oposto.

Dá pra ir mais longe, enxergar em Invictus similaridades com o primeiro presidente negro de outro país, os EUA, que a exemplo de Mandela escolheu um tema impopular (o sistema público de saúde) para defender junto ao corpo - "colocando seu futuro político em risco", como diz uma assessora de Mandela na tela. Mas aí as interpretações se encavalam e o filme, em si, foge do controle da análise.

Antes disso, é uma obra lacrimosa e instável - com algumas imagens potentes (o chiaroscuro no túnel do estádio; a saleta dos guarda-costas; o amontoado de crianças com os jogadores) e outras tantas cenas funcionais filmadas com desinteresse (não precisava parar toda hora para explicar o jogo; é como a cena em que Mandela interrompe uma reunião para trocar banalidades com uma secretária) - sobre como fazer política na marra e sem comprometer valores.

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Nota do Crítico
Bom
Invictus
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Ano: 2009

País: EUA

Classificação: 18 anos

Duração: 134 min

Direção: Clint Eastwood

Roteiro: John Carlin

Elenco: Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge, Patrick Mofokeng, Matt Stern, Julian Lewis Jones, Adjoa Andoh, Marguerite Wheatley, Leleti Khumalo, Patrick Lyster, Scott Eastwood, Langley Kirkwood, Bonnie Henna, Danny Keough, Robin Smith

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