Crítica: Rio Congelado
Vencedor do Festival de Sundance é o típico filme explorador de losers
Vencedor do prêmio do júri de melhor filme de ficção em Sundance 2008, Rio Congelado (Frozen River, 2008) é o típico trabalho que agrada organizadores e frequentadores do festival, colocando o drama de losers em primeiro plano. O problema do filme da estreante Courtney Hunt é que ela força a mão demais para mostrar essa miséria - que já é, antes de mais nada, naturalmente chamativa.
Estamos nos limites do Estado de Nova York, quase na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, onde há um território indígena reservados aos Mohalk. Problema comum nos EUA, uma mãe (vivida por Melissa Leo) não tem dinheiro para quitar sua casa nova, então precisa enfrentar o frio com os dois filhos na base da esperança. Quando ela encontra uma garota indígena (Misty Upham) em situação parecida, elas se juntam num negócio ilegal e rentável: transportar imigrantes ilegais do Canadá para os EUA.
rio congelado
rio congelado
Courtney Hunt encontra uma imagem poderosa para ilustrar esse abismo de desesperança que divide brancos e índios em meio ao lugar-nenhum: o vasto e branco rio congelado do título, o St. Lawrence, que atravessa a reserva Mohawk entre os dois países, por onde a mãe de família e a jovem índia passam a buscar, de carro, os ilegais. Naturalmente uma poderosa metáfora, o rio vira cenário de eventos aflitivos. Porque são em filmes como Rio Congelado que as desgraças mais bizarras acontecem.
Particularmente, uma cena que termina, na noite de Natal, emulando à beira do risível a manjedoura de Belém. Mas não estraguemos o filme...
O que há de mais problemático na mão pesada da diretora é esse esforço canhestro de intensificar o drama. Então tome close-up da criança, do adolescente de olhos azuis, tome plano-detalhe mostrando a mão da mãe que conta moedas todo dia, o revólver e o maçarico apontado para a câmera... É num misto de exploração dos personagens e de constrangimento do espectador que Rio Congelado se desenvolve.
Não se deixe enganar pelo desfecho otimista, dizendo que as almas caridosas têm livre arbítrio para fazer o bem. Rio Congelado faz de personagens fantoches, e é impondo-lhes o azar com um roteiro esquemático que ganha seu pão.