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Crítica

Depois de Lucía | Crítica

Drama de luto mexicano associa bullying com autopenitência

17.10.2014, às 17H25.

Tema recorrente nas artes, o luto tem facetas diversas no cinema. Em Depois de Lucía (Después de Lucía), drama em sintonia com a safra de filmes mexicanos que circulam festivais nos anos 2000, quase sempre secos e agressivos, às vezes beirando o sadismo, o luto assume a forma da autopenitência.

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Viúvo recente, Roberto e sua filha Alejandra, de 15 anos, deixam o balneário de Puerto Vallarta e se mudam para a Cidade do México, onde recomeçam suas vidas em um novo emprego e uma nova escola, respectivamente. Nenhum dos dois lida bem com a mudança, porém, mas Alejandra sofre mais, quando se torna alvo de bullying no colégio.

Quando logo descobrimos que a Lucía do título é a mãe de Alejandra, morta em um acidente de carro, começa a ficar mais claro o sentimento de culpa que toma os dois personagens. Desde o primeiro plano-sequência do filme, quando um veículo é abandonado no meio do tráfego, entendemos que pai e filha têm dificuldade em conviver com más lembranças.

O que vem a seguir é uma sucessão violenta de outros abandonos, que despem os dois personagens desse fardo que carregam, desde o cabelo que Alejandra corta sozinha até a decisão do pai de largar-se na incivilidade. O que o diretor Michel Franco procura dizer neste seu segundo longa-metragem é que o mundo - particularmente o da Cidade do México - não consegue amparar pessoas assim. Então quando Alejandra se torna alvo de uma violência (a escola só se mostra preparada para inibir o uso de drogas, não o bullying), que ela entende como um castigo, todos se veem incapazes de ajudá-la.

Dá pra discutir, a partir daí, se é válida ou forçada essa aproximação que Franco faz entre o bullying e o luto. Do seu lado, ao invés de tentar separar as duas coisas, o diretor opta pelo impacto, para misturá-las. O barulho do carro que abre o filme é o mesmo barulho da lancha que o encerra; Depois de Lucía tem na cacofonia seus dois marcos definidores.

Assim como também é cacofônico esse realismo sem meias palavras feito pelo cinema mexicano atual, que teve em Alejandro González Iñárritu seus esboços e depois levou aos primeiros filmes de Carlos Reygadas, ao Os Bastardos de Amat Escalante (protegido de Reygadas, não por acaso) e deteriorou em Ano Bissexto de Michael Rowe.

Talvez seja a influência de outra escola contemporânea de realismo, a romena, que também faz sucesso nos festivais (Depois de Lucía ganhou a mostra Um Certo Olhar em Cannes em 2012), mas enquanto os romenos frequentemente são mais reflexivos, colocando a história do seu país em contexto, esse realismo mexicano parece mais curto, reativo, como se colocasse em prática só a primeira solução encontrada para um problema proposto, e não necessariamente a melhor solução.

Depois de Lucía | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Depois de Lúcia
Después Lucía
Depois de Lúcia
Después Lucía

Ano: 2013

País: México, França

Classificação: 14 anos

Duração: 103 min

Onde assistir:
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