Se as tramas de Duro de Matar fossem acompanhadas em tempo real, ao estilo do seriado 24 Horas, a franquia não existiria. Para cada minuto de Jack Bauer, o relógio de John McClane conta pelo menos uma meia hora.
Passa-se um tempão dentro da história, às vezes um dia inteiro, mas na tela McClane viaja de set piece em set piece em questão de segundos. Agora ele está explodindo o poço do elevador, mas basta piscarmos e a cena já corta para McClane duelando sobre a asa do avião. A compressão extrema do tempo rivaliza com o carisma de Bruce Willis como segredo do sucesso da série.
duro de matar
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E a boa notícia é que o mediano diretor Len Wiseman (Anjos da Noite, Anjos da Noite - A Evolução) soube entender e reproduzir o conceito em Duro de Matar 4.0. Quem procura o personagem mais famoso de Willis já está esperando muita ação inverossímil e pouca explicação, e nesse sentido o quarto filme da série está à altura dos seus antecessores.
Desta vez, o policial precisa proteger um hacker (Justin Long) que pode ajudar a salvar os Estados Unidos - o feriado de 4 de julho está aí e um grupo terrorista cibernético atacou as redes de comunicação do país, forçando um colapso nacional nos sistemas do governo. A reversão do dinheiro do seguro social de todos os trabalhadores do país para uma conta bancária privada é só uma das ameaças que McClane vai tentar impedir.
"Tentar" é ironia, claro. Willis sacramentou nos anos 80 o papel do homem-ordinário-em-situação-extraodinária, mas com o tempo McClane foi ficando cada vez mais super-homem - e não só um cara "duro de matar". Se há um deslize que bota em jogo todo o sucesso no quesito ação de Duro de Matar 4.0 é justamente a caracterização do herói. Willis está "perfeito" demais, suas frases de efeito estão "perfeitas" demais. Quando atua com os jovens, então, Willis parece Buda.
Felizmente, a falibilidade fundamental de McClane continua valendo: seu fracasso como homem. A eficiência do policial beira a deidade, mas como esposo McClane sempre foi uma negação. O grande trunfo de roteiro do quarto filme não é inventar um sidekick (Justin Long já fez papel de Robin até em vídeo na Internet...), mas replicar uma situação do primeiro longa: sai a esposa em perigo que odeia o marido e entra a filha em perigo que odeia o pai.
Nos poucos minutos de calmaria dentro das duas horas de metragem, quando não está detonando viadutos em cima de caminhões e caças F-14, Duro de Matar 4.0 se equilibra bem sobre personagens como Lucy McClane. Quando tudo na série já era visto e conhecido, um jogo ganho diante de uma torcida fiel, a atriz Mary Elizabeth Winstead entra como risco e como novidade, e surpreende.