Ela é a Poderosa

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Crítica

Ela é a Poderosa

Diretor transforma drama em comédia dramática e faz filme com crise de identidade

19.07.2007, às 17H00.

O demônio alado do marketing, que patrulha os céus da cultura pop tentando atrair público para produtos problemáticos, ataca novamente, desta vez para o filme Ela é a poderosa (Georgia Rule). Vendido nas campanhas como uma comédia familiar disfuncional, o longa é muito mais denso psicologicamente que uma diversão leve com algumas lágrimas no terceiro ato. Na verdade, a trama central envolve abuso sexual - algo que nem uma canção da Dido ao fundo não consegue deixar leve.

Rachel (Lindsay Lohan) é uma adolescente sexualmente desregrada, enviada à idílica Idaho para passar o verão com sua avó Georgia (Jane Fonda). Rebelde a princípio, ela logo aprende a respeitar Georgia - e revela um segredo de seu passado, a fim de testar a lealdade da avó. Isso leva à cidade sua mãe alcóolica, Lilly (Felicity Huffman), em busca de respostas que ela não está preparada para processar.

É importante destacar o aspecto sombrio de Ela é a poderosa. Sem um conhecimento prévio, o filme poderia ser definido como uma tentativa turva de contar uma história transparente e multifacetada, uma forma diferente de mostrar a derrota universal e a dor de uma geração. É doloroso ver a tentativa do estúdio [e a da distribuidora brasileira, com seu título genérico e alegre - e sem exibição para a imprensa] de atrair pessoas com promessas de uma comédia com um final feliz a cada nova esquina. O filme não é educado assim.

Na verdade, a produção é um drama que aponta em direção a uma catarse emocional com a força de uma bomba atômica, mas que é aliviada por alguns recursos batidos da trama e um sufocante clima de amenidades. Também não ajuda a presença de Garry Marshall na direção.

Marshall teve alguns sucessos retumbantes no passado, mas Ela é a poderosa exigia alguém com mais talento para equilibrar a delicada mistura de temas e texturas, um diretor que não ficasse procurando piadinhas para pontuar as cenas. Nos últimos anos, o cineasta foi reduzido a um pau-mandado encarregado de filmes para a família - e este roteiro, com temas como texto e sofrimento, definitivamente foge ao atual perfil dele. Marshall simplesmente não consegue processar as nuances do texto. Mas é aí que o elenco de primeira cresce.

Como o núcleo familiar necessitando desesperadamente de alento psicológico, Fonda, Huffman e Lohan estão perfeitas. Cada uma das atrizes ingere as complicadas personagens com sabedoria e grande atenção, cuidando para que o que elas oferecem às câmeras não pareça excessivo. Fonda é a matriarca tranqüila, uma avó que até então nunca havia recebido a oportunidade de usar sua idade com autoridade - e só agora começa a aprender a pisar no freio. Huffman é uma mulher voltada aos seus maus-hábitos, incapaz de manter a atenção da filha. Lohan, no melhor papel de sua carreira, vive uma garota que usa o sexo como arma - e começa a perceber sua própria toxicidade. É um trio de profundidade dramática que mantém, ao menos, Ela é a poderosa real. Sem elas, ele desmoronaria.

Enfim, há esforço real em contruir um arco emocional no filme, mas ele é desconstruído gracejo a gracejo. Cada vez que o drama parece que vai encontrar seu passo, Marshall se desespera e recorre às piadinhas com as quais ele se sente confortável. Talvez a estratégia de vendê-lo como um dia eterno na praia não tenha sido tão ruim assim, afinal.

Nota do Crítico
Bom
Ela é a Poderosa
Georgia Rule
Ela é a Poderosa
Georgia Rule

Ano: 2007

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 113 min

Direção: Garry Marshall

Roteiro: Mark Andrus

Elenco: Lindsay Lohan, Felicity Huffman, Jane Fonda

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