A frase "Era uma vez..." é muito ligada aos contos de fada, aqueles bonitinhos em que a a princesa se casa com o príncipe encantado e os dois vivem felizes para sempre. No mundo real a história é outra. Os desafios são maiores que qualquer gigante, mais feios que os dragões e mais cruéis que madrastas com verruga na ponta do nariz. Apesar de alguns elementos estrategicamente plantados para justificar o título, o filme Era Uma Vez... (2008) tem pouco das histórias felizes que são contadas para as crianças.
O cenário é o Rio de Janeiro. A princesa, Nina (Vitória Frate), não mora em um castelo, mas sim em um apartamento de frente para a praia de Ipanema. E seu príncipe encantado é Dé (Thiago Martins), um dos milhares de jovens que desce o morro diariamente atrás de trabalho honesto. Da barraca de côco que fica na frente do apartamente dela, Dé acompanha o dia-a-dia da moça, as festas, as amigas, os problemas com os namorados. Sonha com o dia em que vai vencer a timidez e falar com ela.
era uma vez
era uma vez
era uma vez...
A distância entre o casal é física, cultural e social, mas seria também intransponível? Não para os dois, que querem ficar juntos apesar de seus caminhos apontarem para horizontes diferentes.
O que acabou se tornando este romance dramático que você vai ver no cinema - e os lindos enquadramentos que eles fizeram do Rio de Janeiro merecem esse esforço seu - teve um início bem diferente. Quando Breno Silveira era o diretor de fotografia de Santa Marta - Duas Semanas no Morro (1987), de Eduardo Coutinho, ele passou um tempo na favela e decidiu que aquele duro cotidiano continha tudo o que era necessário para a sua estréia como diretor. Tentou, então, comprar os direitos de um livro chamado Cidade de Deus, de Paulo Lins. Chegou atrasado. Fernando Meirelles já tinha passado antes e o resto é história.
A solução foi chamar o mesmo Paulo para ajudá-lo a escrever uma nova história. Mas mesmo com o roteiro pronto e em mãos, Breno acabou se envolvendo com um outro projeto: 2 Filhos de Francisco, a história de Zezé de Camargo e Luciano. No papel, o filme tinha elementos para carregar o que a palavra popular tem de negativo. No entanto, o que se viu na tela foi um belo drama, muito bem filmado, que usou a popularidade dos biografados e se converteu na maior bilheteria nacional desde a Retomada.
Breno gosta de contar que fazer 2 Filhos de Francisco criou nele um gosto muito forte em falar de amor e emocionar as pessoas. Foi este sentimento que o levou a pegar a história escrita com Paulo Lins, que era bem mais violenta e reescrever, desta vez com a ajuda de Patrícia Andrade, a mesma que assinou o roteiro de 2 Filhos com Carolina Kotscho.
Se adicionou dramaticidade e elementos românticos, a trama caiu no clichê de recontar a história de Romeu e Julieta. Apesar de clássica e muito bem interpretada (com exceção do pai de Nina, papel do Paulo César Grande), a opção era óbvia demais. Mas Breno sabia disso e usou a última cena para fazer tudo ganhar novo sentido. Sabemos que no mundo real não dá para vivermos todos "felizes para sempre", mas ainda dá para melhorar muito!