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Eu os Declaro Marido e... Larry!

Comédia faz graça com relacionamento gay

06.09.2007, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H28

Há uma piada clássica em Seinfeld sobre um dentista que se converte à fé judaica pelas piadas. Se ele é judeu, ninguém pode recriminá-lo por fazer graça com seu povo, certo?

De certa forma, Eu os declaro marido e... Larry! (I Now Pronounce You Chuck and Larry) segue a mesma estratégia. Como rir do universo gay, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, do ativismo GLBT, sem parecer preconceituoso no mundo politicamente correto de hoje? Disfarçando Adam Sandler (Espanglês) e Kevin James (Hitch, sitcom King of Queens) de bombeiros homofóbicos que fingem a homossexualidade, aparentemente.

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No filme, um bombeiro viúvo (James), devido a uma falha na lei, é incapaz de transferir seu seguro de vida aos filhos. A mudança, ele descobre, só virá com um segundo casamento. Mas em quem confiar, já que é o futuro dos filhos que está em risco? Apenas em seu melhor amigo (Sandler), que acaba convencido por ele a fingir-se de parceiro gay para obter a tal alteração. O problema é manter as aparências da armação, ainda mais quando o segundo se apaixona pela advogada do "casal" (Jessica Biel, mais perfeita que computação gráfica), e surge um oficial público encarregado de vigiar a suposta união (Steve Buscemi, mais sedutor que Jessica Biel, de pochete e gravatinha).

Usando seus protagonistas dessa maneira, o filme consegue fazer todas as piadas de mau-gosto possíveis, com todos os estereótipos que couberam na telona. Para não ofender, basta apenas não esquecer de mostrar depois como o preconceito é doloroso e encaixar o politicamente correto mais tarde, como uma merecida lição de vida.

Colocando nesses termos, a comédia parece até meio chata, admito. Não é. Rir de temas polêmicos é algo delicado e o filme faz isso até que bem. Exagera em incontáveis pontos, erra em inúmeros outros (piadas com gordos e flatulências não dá...), mas arranca umas risadas com uma ou outra bobagem bem empregada. Sim, o texto é inconsistente nesse nível... algo que dá pra explicar olhando os créditos de roteirista. Inexplicavelmente, ao lado do convencional Barry Fanaro (Homens de Preto II) estão Jim Taylor e Alexander Payne, dupla vencedora do Oscar por Sideways e que foi contratada para dar alguma sensibilidade ao roteiro (imagine só como o filme seria sem eles).

Pena que prevalece no roteiro a colaboração de Fanaro e que o filme opte pelo caminho descaradamente mais fácil, escancarando a pregação liberal no clímax para justificar os excessos prévios - algo a que a já citada (e genial) Seinfeld jamais precisou apelar.

Mas se isso serve para incutir alguma tolerância no público-padrão de Adam Sandler, que seja.

Ops, olha o preconceito aí...

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