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Gomorra

Filme italiano pré-indicado ao Oscar mostra que os mafiosos são feios, sujos e malvados

22.10.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H41

Quando Francis Ford Coppola direcionou sua câmera para mostrar o funcionamento do crime organizado em O Poderoso Chefão (1972) ele descerrou as cortinas de uma sociedade secreta, pouco conhecida, mas que sempre fascinou por seus códigos e dogmas muito particulares. E, em contrapartida, conferiu um estilo, um certo glamour à vilania que os mafiosos da vida real se esforçam por imitar.

Mas nem todos almejam a pompa do Chefão de Coppola. Os dois jovens aspirantes a criminosos de Gomorra preferem a crueza de Tony Montana à classe do Don Corleone e se divertem encenando trechos de Scarface (1983) na abertura do filme. Já os agasalhos usados por parte do elenco lembram os saudosos capangas da série Família Soprano.

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Dirigido por Matteo Garrone, vencedor do Grand Prix do último Festival de Cannes e candidato italiano a uma indicação ao Oscar, Gomorra é a adaptação do livro homônimo do jornalista e escritor Roberto Saviano que entrevistou personagens e conviveu com integrantes da Camorra, a Cosa Nostra napolitana. Best-seller na Europa, o livro vendeu milhões e tornou seu autor alvo da Máfia, que prometeu matá-lo até o final deste ano.

O filme conta cinco histórias sobrepostas de personagens ligados ao crime organizado. Começa com a trajetória de dois jovens amigos que vivem de pequenos crimes e são suficientemente estúpidos para se meterem a besta com uma facção mafiosa; um menino que entra para o crime; um costureiro que comanda confecções ilegais de alta costura; um homem que faz os pagamentos para as famílias de mafiosos presos e um "empresário" que ganha dinheiro para se livrar do lixo tóxico de grandes corporações.

No filme de Garrone tudo soa verdadeiro demais. Cruel demais. O cenário é pobre, de uma feiúra perturbadora, os protagonistas, com exceção de um ou outro personagem, inspiram repulsa por serem justamente a antítese daquele ideal mafioso forjado no cinema hollywoodiano. Ninguém aqui é bonito, bem-vestido ou ligeiramente sedutor.

A máfia de Gomorra é tão imunda, e parece tão real, quanto às ruas de Nápoles, que até há pouco tempo estavam entupidas de montes de lixo, com a paralisação da coleta municipal.

Oitavo filme de Garrone, Gomorra se encaixaria num neo-realismo italiano contemporâneo, se tal movimento existisse. Ele filmou um retrato cruento da Máfia napolitana, descrita com loquacidade por Saviano. Vê-se a organização criminosa em sua forma mais perversa, sem espaço para glamourização.

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