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Hollywoodland | Crítica

Hollywoodland - 30a. Mostra Internacional de Cinema

05.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 27.11.2016, ÀS 08H13

Hollywoodland
EUA, 2006
Drama/Policial - 126 min

Direção: Allen Coulter
Roteiro: Paul Bernbaum

Elenco: Adrien Brody, Diane Lane, Ben Affleck, Bob Hoskins, Lois Smith, Robin Tunney, Larry Cedar, Jeffrey DeMunn, Brad William Henke, Dash Mihok , Molly Parker

No dia 16 de junho de 1959 o Super-Homem morreu. Vítima da kryptonita? Não, de algo bem pior: os poderosos e obscuros dogmas que regem Hollywood. Claro que não estamos falando do filho mais nobre de Krypton. O assunto aqui é o ator George Reeves, que protagonizou o super-herói na TV norte-americana durante a década de 50. Hollywoodland (2006) é uma reunião de várias peças desse intricado quebra-cabeças que foi a morte de Reeves. A que vai completar o mosaico cabe ao espectador decifrar, ou melhor, escolher. O título original do filme é uma referência às famosas letras brancas fincadas no Monte Lee, em 1923, na cidade de Los Angeles. Em 1949 a expressão foi abreviada porque a placa precisava de reparos, mas o seu significado ganhou ainda muito mais força com o passar dos anos.

Na trama, acompanhamos o detetive particular Louis Simo (Adrien Brody) tentando desvendar a misteriosa morte de George Reeves (Ben Affleck). Simo foi contratado por Helen Bessolo (Lois Smith), pois ela não acreditava que seu filho seria capaz de se matar. Durante as investigações, o detetive descobre uma série de pormenores que indicam que a versão oficial tinha vários furos. Na cena do crime, o cartucho da bala foi encontrado debaixo do corpo de Reeves, que estava deitado nu em sua cama. A arma estava caída no chão entre seus pés e não tinha impressões digitais. O ferimento na cabeça do ator e suas mãos não tinham vestígios de pólvora. Da forma que a bala entrou em sua cabeça, não poderia ter se alojado no teto. Havia outras marcas de bala no chão do quarto, que a noiva de Reeves, Lenore Lemmon (Robin Tunney), disse que foram feitas dias antes, acidentalmente. E Lenore, que estava na casa acompanhada por 3 amigos, demorou 45 minutos para chamar a policia após o tiro fatal.

O roteiro escrito por Paul Bernbaum utiliza uma narrativa multidimensional. Simo representa o tempo real da trama, enquanto cenas protagonizadas por Reeves remontam o passado em flashbacks. Com esse recurso, muitas das lacunas são preenchidas, e ficamos sabendo também as verdadeiras motivações dos personagens. É justamente nas seqüências com Reeves que vamos descobrindo particularidades de sua vida que ajudarão na elaboração das possíveis teorias sobre a sua morte.

Durante a sua trajetória, Reeves conhece Toni (Diane Lane), uma mulher oito anos mais velha que ele, e esposa de Eddie Mannix (Bob Hoskins), um dos executivos da Fox. Reeves acreditava que ela poderia abrir as portas para ele. Ao mesmo tempo, Toni via em Reeves uma maneira de sentir-se jovem e amada. Ela comprou para ele uma casa e financiava sua vida. Vale dizer que Eddie e Toni tinham um acordo matrimonial. Contanto que ela estivesse feliz, Eddie não se importava com seus casos extraconjugais. Mas o que parecia um ótimo negócio, acabou se mostrando um estorvo para o ator. Temendo ser abandonada, Toni nunca o ajudou em sua carreira.

Após o cancelamento da série do Super-Homem, Reeves resolveu ir a Nova York com a esperança de fazer sua carreira tomar outro rumo e, quem sabe, se tornar um diretor. Lá ele conheceu Lenore e se apaixonou. Ao retornar a Los Angeles, acabou o caso com Toni. Isso a deixou devastada, o que conseqüentemente não deixou Eddie nem um pouco feliz. Nesta época, Reeves se apoiava cada vez mais no álcool. Aos 45 anos, já sem o mesmo visual de galã, foi convidado para participar de programas de luta livre. Dias depois foi encontrado morto em seu quarto.

Ao mesmo tempo em que isso é mostrado na tela, acompanhamos a vida de Simo. Percebemos na narrativa paralelos de sua historia pessoal com a de Reeves. O detetive está separado de sua esposa, sem emprego fixo e seu relacionamento com seu filho não é dos melhores. A investigação é a única coisa que o motiva a seguir em frente.

Super-Elenco

O grande destaque da produção é o seu elenco. Todos defendem com dignidade seus personagens, mas vale destacar os trabalhos de Diane Lane e Ben Affleck. Diane está ótima no papel de Toni Mannix. Todas as camadas da personalidade de seu personagem são desenvolvidas com extremo talento. E Ben Affleck finalmente se despe de sua aura de galã e se entrega de corpo e alma a um papel. Com certeza é a melhor interpretação de sua vida até o momento, o que lhe valeu o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza deste ano. Mas apesar do ótimo trabalho, a premiação foi exagerada, já que Adrien Brody é o verdadeiro protagonista do filme.

O diretor de fotografia Jonathan Freeman acrescenta um visual granulado típico da estética dos filmes noir. O público se sente transportado para uma Los Angeles dos anos 50, os últimos momentos do star system. Um tempo em que funcionários como Eddie Mannix eram pagos para esconder os segredos mais íntimos das estrelas. Depois disso, os estúdios não conseguiram mais esconder as verdadeiras personalidades de seus empregados e atores.

O longa-metragem marca a estréia de Allen Coulter como diretor. Antes, ele só tinha dirigido para a TV. Sua maneira de contar a história prende o espectador, que fica curioso em desvendar o caso. Três possibilidades são apresentadas como causadoras da morte de Reeves: teria sido morto acidentalmente por Lenore durante uma briga; Eddie Mannix teria mandado matá-lo; ou teria mesmo cometido suicídio pela falta de perspectivas e depressão, como consta no laudo oficial. E todas as três teses são fundamentadas.

Mas vale dizer que o filme abusa das licenças poéticas. Para citar algumas, o investigador não se chamava Louis Simo, mas sim Milo Sperilgio e Reeves só abandonou Toni porque ela se recusou a se divorciar de Eddie. E mais, Reeves nunca queimou a roupa do Super-Homem quando soube que o programa de TV foi cancelado. Na verdade, ele estava completamente deprimido devido à sua longa insatisfação com o personagem. Bebia muito e tomava muitos remédios para dor. Isso o deixava em um estado lastimável. Na noite em que morreu, ele e Lenore foram vistos bêbados e discutindo em um restaurante. Muitos acreditam que ela possa tê-lo matado, mesmo que acidentalmente. Não ajuda em nada o fato da arma ter sido encontrada lambuzada com óleo, o que escondeu as impressões digitais. Outra teoria defende que foi o próprio Reeves que a disparou a arma sem querer, enquanto a limpava.

A única pista concreta foi um pequeno filme que Reeves fez treinando para participar de um programa de luta livre, dias antes de sua morte. As imagens mostram um homem praticando com bastante vontade, mas visivelmente cansado e acabado. Refletindo sobre esse momento de profunda melancolia, constatamos que quem puxou o gatilho é o que menos importa. Suas forças estavam no fim. Hollywood tinha sido a sua verdadeira kryptonita.

Nota do Crítico
Ótimo
Hollywoodland – Bastidores da Fama
Hollywoodland
Hollywoodland – Bastidores da Fama
Hollywoodland

Ano: 2006

País: 2007

Classificação: 14 anos

Duração: 126 min

Direção: Allen Coulter

Elenco: Adrien Brody, Diane Lane, Ben Affleck, Bob Hoskins, Lois Smith, Kathleen Robertson, Robin Tunney, Todd Grinnell

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