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Horton e o Mundo dos Quem

Ótima animação gera polêmica... mas a culpa não é do elefantinho

13.03.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H34

No simpaticíssimo Horton e o Mundo dos Quem (Horton Hears a Who, 2008), um elefante bonachão (existe outro tipo?) descobre sem querer que há vida num grão de poeira, quando a diminuta partícula passa flutuando perto das suas aguçadas orelhonas. Desacreditado por toda a floresta em que vive, o paquiderme coloca-se à disposição dos habitantes do grão - moradores da cidade de Quem-Lândia - para ajudá-los a encontrar um abrigo seguro, mesmo que isso signifique colocar sua própria liberdade em risco. Enquanto isso, o prefeito da microscópica cidade enfrenta seus próprios obstáculos, não menos desafiadores que os do elefante.

O Blue Sky Studios faz seu melhor trabalho até aqui, superando os dois primeiros A Era do Gelo, com Horton. A animação por computação gráfica - que inclui dois bacanas segmentos em desenho animado tradicional (um é mangá!) - inspirada no romance infantil de Dr. Seuss (1904-1991, criador de O Grinch e O Gato), tem visual cativante e estilizado e uma trama extremamente bem construída e interessante tanto para os pequenos quanto para os adultos. Aliás, esse segundo grupo é mesmo quem mais deve discutir o longa-metragem...

Isso porque Horton foi alvo de manifestações pró-aborto e pesquisas de células-tronco nos Estados Unidos. Sim... a animação infantil é considerada panfletária por alguns grupos, o que imediatamente a tornou bandeira de manifestantes pró-vida. Tudo por conta de uma frase repetida quatro ou cinco vezes ao longo da trama, algo mais ou menos como "uma pessoa é uma pessoa, não importa seu tamanho". O acalorado debate, porém, não é de hoje, assim como não é novidade o sequestro político da frase e do filme, algo que o próprio autor, que publicou sua história em 1954, detestava, prova de que o texto não foi pensado para defender essa ou aquela posição.



Obviamente, tudo isso passa batidaço pelas crianças, que vão mesmo gostar das lindas cenas de perseguição, do visual amalucado da Quem-Lândia e... hum... de ouvir a voz de Tom Cavalcante dublando (decentemente, vale dizer) o Prefeito, personagem cuja voz é de Steve Carrell no original. Aliás, o filme marca a reunião de Carrell com Jim Carrey (pela segunda vez num filme de Seuss, depois de O Grinch), que dubla Horton - eles trabalharam juntos em Todo Poderoso, comédia de 2003.

Ciente do inevitável burburinho, o filme até faz graça com tais idéias, especialmente numa canção final, na qual o Prefeito de Quem-Lândia fica apontando certas frases da letra e comentando "ei, isso é uma metáfora! isso também!". Ótima idéia... e um lembrete de que Horton é um entretenimento leve e que se tem algum intuito "educacional" é meramente o de promover o entendimento. E a genialidade do texto vai além... na minha análise a idéia do "mesmo que você não possa ver ou provar algo não significa que não existe" é muito mais deliciosamente científica (Horton me pareceu um Galileu paquidérmico fugindo da inquisição do que um pró-vida extremista) ou mesmo religiosa. E há ali pelos cantos um bichinho fofo amarelo e bizarro, uma das crianças, que é praticamente um experimento metafísico/lisérgico. Definitivamente um filme a ser conferido e discutido.

Veja clipes do filme



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