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Albergue Espanhol | Crítica

<i>Albergue espanhol</i>

27.11.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Albergue espanhol
L´Auberge espagnole

França/espanha
2002 - 122 min.
Comédia/romance

Direção: Cédric Klapisch
Roteiro: Cédric Klapisch

Elenco: Romain Duris, Judith Godrèche, Audrey Tautou, Cécile De France, Kelly Reilly, Cristina Brondo, Federico DAnna, Barnaby Metschurat, Kevin Bishop, Xavier De Guillebon, Wladimir Yordanoff

Quando a gente é pequeno, não vê a hora de entrar na primeira série. Projeta nela toda a felicidade que consegue imaginar e suplica para o tempo passar rápido. Então, finalmente chega o grande dia e não acontece nada. Mas nada para por aí: a quinta série se transforma no momento em que a vida realmente começará a acontecer. E na quinta série, o grande momento é transferido para o início do colegial, que é quando se passa a sonhar com as maravilhas da vida na faculdade. Uma vez lá, o sonho pula para o primeiro emprego e a conquista do primeiro milhão. E, na maioria das vezes, aquilo que se queria ser quando criança acaba perdido pelo meio do caminho, para sempre.

É nessa altura da vida que encontramos Xavier (Romain Duris), o protagonista de Albergue Espanhol (LAuberge Spagnole, 2002). Aos 25 anos, ele foi indicado por um amigo de seu pai e está prestes a obter uma excelente posição no Ministério das Finanças. O curso de economia está no fim e, para assumir o cargo, só lhe falta aprender a falar espanhol. Assim, ele deixa para trás a mãe hippie, a namorada possessiva (vivida por Audrey Tautou, de Amélie Poulain) e segue para Barcelona - rumo ao que pode ser o último ano do resto de sua vida.

Sua jornada começa como a de muitos personagens da literatura mundial que, numa terra distante, primeiro se perdem para que possam, ao longo do caminho, se encontrar. Enfrenta a burocracia do programa de intercâmbio da comunidade européia, o Erasmus, percorrendo longos corredores e preenchendo montanhas de formulários para depois, já em Barcelona, procurar desesperadamente por uma boa casa para morar. É então que ele chega ao albergue do título que, nas palavras dele mesmo, será um lugar para viver e ganhar vivência.

Submete-se à entrevista conduzida pelos outros moradores, todos estudantes, e fica encantado com a idéia de viver num lugar que representa tão perfeitamente a sua confusão interior - e a da própria comunidade européia.

É a partir desse ponto do filme que nos damos conta da maestria com que Cédric Klapisch conta a história. O diretor, que nos lembra de sua presença o tempo todo, valendo-se de uma série de recursos de edição, desaparece quando os eventos da nova vida de Xavier começam a ganhar significado.

As colagens, cortes, pausas e grafismos cedem espaço à beleza da cidade de Barcelona, retratada de maneira poética e apaixonada. Em primeiro plano, figuram os companheiros de apartamento: Wendy, a inglesa obcecada; o italiano Alessandro; Soledad, a única espanhola do grupo; o alemão Tobias; um dinamarquês e todos os agregados (irmãos, namoradas, amigos, casos). Nas entrelinhas estão as dificuldades de adaptação, o às vezes duro processo de entendimento cultural e uma visão bem-humorada dos estereótipos e preconceitos que todo mundo carrega, inevitavelmente.

Mais do que um filme sobre a Europa e os europeus, Albergue Espanhol é também um filme sobre a chegada à vida adulta - e o que cada um resolve fazer dela. Para fazer um contraponto interessante, (re)veja O Último Ano do Resto de Nossas Vidas (St. Elmo´s Fire, 1985, Joel Schumacher), clássico dos anos 80, com Demi Moore e Rob Lowe no comecinho da fama.

E se você já fez intercâmbio, prepare-se para a saudade dos amigos distantes e a vontade de chorar que Albergue Espanhol vai te dar. Se você ainda não fez, se segure para não sair correndo do cinema para o aeroporto mais próximo.

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