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Amor sem Fronteiras | Crítica

<i>Amor sem fronteiras</i>

25.03.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H15

Amor sem fronteiras
Beyond borders

EUA/Alemanha, 2003
Drama/romance, 127 min.

Direção: Martin Campbell
Roteiro: Caspian Tredwell-Owen

Elenco: Angelina Jolie, Clive Owen, Noah Emmerich, Teri Polo, Linus Roache

Quando veio a fama, Angelina Jolie era a beiçuda e tatuada filha de Jon Voight, que carregava o sangue do marido no pescoço e beijava o irmão em público. Hoje continua sendo a filha de Voight, mas substituiu a vida libertina por um bebê cambojano adotado e por atividades humanitárias na Unicef. Nada contra. O problema é que a carreira de Jolie ("bonita" em francês) despencou na chatice.

No tempo em que interpretava a interna de manicômio, a puxadora de carros e a arqueóloga torneada, a falta de talento ficava escondida atrás do fetiche provocado nos homens. Agora, diante de dramas e romances sofríveis como Pecado original (Original sin, 2001) e Uma vida em sete dias (Life or something like it, 2002), fica difícil não reparar na inépcia da atriz. Amor sem fronteiras (Beyond borders, 2003), do diretor Martin Campbell, é o ponto alto desta mediocridade.

Repare na trama. Jolie vive Sarah Jordan, norte-americana recém-casada com o empresário inglês Henry Bauford (Linus Roache). Durante a cerimônia, que também levanta fundos para caridade, o pai de Henry discursa sobre o dinheiro da família gasto com missões assistencialistas na África. De repente, invade o salão o médico Nick Callahan (Clive Owen), com um menino etíope nos braços. Ele esbraveja contra a falta de recursos de sua equipe, contra os desperdícios da família Bauford, contra a insensibilidade da aristocracia londrina. Nick sai chutado pelos seguranças. Claro que a embasbacada Sarah se apaixona.

Não demora, e lá está ela negligenciando a vida com o marido em troca da filantropia mundo afora. Em sua primeira viagem à África, enfim conhece o trabalho e a intimidade de Nick. Anos depois, já como uma gabaritada funcionária da ONU, Sarah é chamada para escoltá-lo no Camboja. A paixão se confunde com a admiração, até que uma conturbada passagem pela Chechênia em guerra marcará o destino do casal.

Não seria necessário repetir, mas espanta o amadorismo do roteirista estreante Caspian Tredwell-Owen. Se o contexto político por trás da trama renderia bons frutos, ele consegue eliminar todo e qualquer rastro de sutileza ao criar um Henry insensível e adúltero e investir na idéia desbotada do amor impossível. A coisa piora com o desenrolar da fita. O que começa como libelo humanitário desemboca em insuportável dramalhão. Nesse ponto, com a sua fotogenia de estrela da Televisa, Jolie potencializa a sensação de novela mexicana.

Pouco importa o esforço do bom ator Owen, assim como as locações bem escolhidas pelo diretor de fotografia Phil Meheux. Com a sua estabanada mistura de vida e ficção - foi a partir deste filme que Jolie se aproximou do altruísmo -, a atriz comprova que, pelo menos dentro da tela, é só um belo par de lábios, olhos, seios e pernas. Bem que poderia voltar ao tempo em que sabia usá-los com competência.

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