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Alguém ainda duvida que comédias românticas têm uma fórmula fixa? Se você não sabia disso (e tem raiva de quem sabe), passe longe de Como fazer um filme de amor (2004). O jornalista José Roberto Torero usou este seu trabalho de estréia como diretor de longas-metragem para desmistificar as histórias de amor perfeito presente tanto nos filmes estrelados por Meg Ryan quanto em livrinhos baratos do tipo Bianca, Sabrina e Júlia.
Pegando todos os clichês possíveis, Torero usou um Narrador (Paulo José) para escrever certo (e perfumadamente) por linhas tortas. A presença deste ser onipresente e onipotente é essencial tanto para contar a história quanto para fazê-la seguir o rumo correto. Se não fosse o Narrador, a mocinha poderia ser uma mulher acima do peso, ou então velha demais. É ele quem elege Laura (Denise Fraga): bela, mas nem tanto; segura de si, mas nem tanto; e, o principal, de bom coração! Para o papel do galã, foi escolhido um ricaço de coração partido e nome estrangeiro: Alan Macdermonth (Cássio Gabus Mendes), dono da Macdermonth Models.
Apesar de passar o dia todo rodeado de belas mulheres, Alan é um cara infeliz, pois acha que não pode mais amar, afinal ainda chora a morte de sua esposa, Bárbara, vítima de um crime bárbaro. O humor de Torero é assim, sem medo de repetir as piadas ou situações, afinal, um filme romântico nada mais é do que repetição do que já foi dito e feito inúmeras vezes. Em meio às suas citações, estão trechos de músicas de Wando e Agepê, cantorias na sacada, paródias de filmes clássicos e piadas que deixariam Mel Brooks e os ingleses do Monty Python orgulhosos.
As vidas de Laura e Alan se cruzam duas vezes. Na primeira, há um repúdio imediato, mas como a linha entre o ódio e o amor é muito fina, não demora muito para rolar um clima entre os dois, que logo estão totalmente apaixonados. Para fazer o filme durar mais ou menos uma hora e meia, é necessário haver um conflito. Surgem então Lilith (Marisa Orth) e seu fiel capacho Adolf (André Abujamra), que farão de tudo para tentar separar os dois. Em vão, claro. Afinal, a justiça e o amor sempre vencem no final, certo?
Apesar de dividirem os créditos em Boleiros - Era uma vez o futebol (de Ugo Giorgetti, 1998), os quatro atores principais não chegaram a contracenar uns com os outros neste filme, pois a estrutura do longa tinha histórias independentes entre si. E mais, esta é a primeira vez que o casal de pombinhos formado por Denise e Cassio trabalha junto e o resultado é caricato na dose certa e bastante engraçado.
Como o custo total de produção ficou em modestíssimos 1,5 milhão de reais, os atores tiveram de trabalhar mais pela vontade de fazer o filme acontecer do que propriamente pelo cachê. Esta cumplicidade com o diretor e com o filme aparece na tela. Todos estão bem à vontade, mas cientes do que deveriam fazer, principalmente o diretor. Em entrevista ao Omelete, Denise Fraga e Cassio Gabus Mendes confirmam que, embora este seja o primeiro longa de Torero, ele sabia exatamente o que queria de cada cena e isso facilitou muito o trabalho do elenco.
Muito desta segurança é conseqüência do diretor ser também um dos roteiristas, ao lado de seu amigo Luiz Moura. E é justamente o script a grande estrela do filme. Dos diálogos dos protagonistas, aos discursos do narrador, passando pelo surrealismo de algumas cenas, o humor negro de outras e os motivos fortes e até kitsch dos cenários, tudo já estava no roteiro (leia um trecho aqui) e fica ótimo na tela grande. Só quem não viu muita graça foi a mãe de Laura... mas ela é cega.
Autor: José Roberto Torero
Ano: 2004
País: Brasil
Classificação: 14 anos
Duração: 84 min
Elenco: Denise Fraga, Cássio Gabus Mendes, Marisa Orth, Paulo José
