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Só o cinema é capaz de produzir filmes despretensiosos que se tornam campeões de bilheterias. Isso aconteceu com um certo fusquinha, quando foi a produção mais rentável de 1969. Com tamanho sucesso não demorou para ganhar mais 3 continuações, que foram caindo de qualidade a cada produção. Passados vinte cinco anos desde a sua última e pífia aparição, a Disney achou que era hora de ligar os motores uma vez mais. Herbie: Meu fusca turbinado ( Herbie: Fully loaded , 2005) chega aos cinemas com o objetivo de encantar uma nova geração de crianças. Pode até conseguir, mas não pela a qualidade da narrativa.
Apesar de trilhar o caminho deixado pelos filmes anteriores, não há a necessidade de se assistir às outras produções. Já no seu prólogo é apresentada uma colagem de imagens com os triunfos do carrinho em diversas corridas e em várias épocas. As cenas mais usadas foram as do primeiro e melhor filme Se meu fusca falasse (Lovebug, 1969). Na mesma edição sabemos o que aconteceu com Herbie: acabou indo parar num ferro velho por não conseguir mais ganhar corridas.
Resolvido o destino do pequeno automóvel, os "novos" personagens são apresentados. Se no primeiro filme o piloto que adota Herbie é um homem (Dean Jones), resolveram mudar seu novo proprietário para a gatíssima Maggie Peyton (Lindsay Lohan). Se antes era o mecânico interpretado pelo comediante Buddy Hackett quem sabia que o carro tinha vida, agora é a própria Maggie que tem o privilegio de conversar com ele. Essas mudanças são uma forma de mascarar o óbvio: uma refilmagem disfarçada de continuação.
Até várias passagens dramáticas foram copiadas. Na nova versão, o fusquinha perde uma importante corrida, quando Maggie também pensa em um carro mais possante e moderno, fazendo analogia ao seu quase suicídio do filme original. O antagonista interpretado por Matt Dillon é um rascunho do ótimo vilão criado por David Tomlinson no primeiro filme. Tomlinson parece um verdadeiro Dick Vigarista de carne e osso com seus planos mirabolantes. Dillon esta patético baseando sua interpretação em pequenos olhares e bocas de cafajeste.
As corridas que eram hilárias e criativas transformaram-se em tiros de 1000 metros, sendo que a principal acontece num circuito oval da Nascar. Todo o charme do fusquinha percorrendo estradas ao ar livre com passagens em cidades fantasma, montanhas, lagos e campos, foram trocados por voltas e mais voltas enfadonhas. A única razão para essa péssima mudança foi o enorme número de propagandas nos carros, macacões e na lateral da pista dos poderosos patrocinadores desse tipo de circuito. Apesar de muito mais velocidade e potência, o clímax é em câmera lenta. Com isso o fusquinha virou um híbrido do seu passado glorioso. Em sua carroceria, além das marcas dos investidores, foram acoplados aerofólios laterais e traseiro. E para completar uma tampa de motor transparente, tornando-o num verdadeiro sonho de suburbano.
Essa busca pela modernidade não funciona nem na trilha sonora. Se antes as aventuras de Herbie eram acompanhadas por sua música tema, agora elas são pontudas pelo estilo rock arena à la propaganda dos cigarros Hollywood. Tem Jump, do Van Halen, Working for the weekend, do Loverboy, e muitos outros. Tudo bem que esse estilo musical combina muito mais com velocidade do que grunge, new metal e as modernas bandinhas com som retro new wave dos anos 80. Mas mudar o tema de Herbie é a mesma coisa que colocar o Indiana Jones ao som de Breaking all the rules, do cantor Peter Frampton em suas badaladas cenas de ação. Simplesmente não funciona.
A produção não é só equívocos. A cena envolvendo o fusquinha e a canção Hello, do mela-cueca Lionel Richie, é impagável. Algumas peripécias de Herbie são até divertidas, mas é muito pouco para justificar seu retorno aos cinemas. Mais uma vez a Disney não se preocupou com a história. Preferiu apostar tudo só no carisma do simpático personagem, tornando-o uma máquina mais possante e moderna. Esqueceram que sem um combustível de qualidade, o carro tende a engasgar e enguiçar.
Ano: 2005
País: EUA
Classificação: LIVRE
Duração: 101 min
Direção: Angela Robinson
Roteiro: Thomas Lennon, Robert Ben Garant, Alfred Gough, Miles Millar
Elenco: Lindsay Lohan, Michael Keaton, Matt Dillon, Breckin Meyer, Justin Long, Cheryl Hines, Jimmi Simpson, Thomas Lennon