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<i>Jurassic Park - Parque dos dinossauros</i> e <i>Mundo perdido</i>

<i>Jurassic Park - Parque dos dinossauros</i> e <i>Mundo perdido</i>

22.06.2004, às 00H00.
Atualizada em 25.12.2016, ÀS 17H02

Parque dos Dinossauros

O mundo perdido

Hook - A volta do Capitão Gancho (Hook, 1991) não figura entre os melhores filmes de Steven Spielberg, mas serve muito bem como metáfora. Como o Peter Pan que evita a maturidade, Spielberg sempre foi associado aos temas fantasiosos, traduzidos com fidelidade tecnológica, transformados em campeões de bilheteria e alimento para o folclore popular.

Paradoxalmente, Spielberg deu uma virada em direção à seriedade - a partir do Oscar de melhor filme e diretor com A Lista de Schindler (Schindlers list, 1993) - justamente numa época em que mais e mais o público-alvo da indústria se infantilizava. Hoje o cineasta rema contra a maré, mas já foi, num tempo não tão distante, o mestre do imaginário pueril. O Parque dos dinossauros (Jurassic Park), dirigido naquele mesmo ano crucial de 1993, é o ápice e o sepultamento dessa primeira fase.

Fungada real

Da mesma maneira que o cineasta superou os limites técnicos dos Filmes B para dar à luz discos-voadores e ETs, repetiu o feito com os répteis pré-históricos - animatronics cobertos de látex nos closes, seres digitalizados nos planos abertos. A cada momento que um Velociraptor batia com as garras no metal, que um Brontossauro espirrava, que um Triceratops gemia doente, que um Dilofossauro expelia veneno, a platéia delirava. T-Rex habitam o mundo do entretenimento desde sempre, mas nunca os tínhamos visto fungando de forma tão real.

E diferentemente dos seus tubarões e discos-voadores envoltos em mistério, Spielberg aqui não pensou duas vezes antes de escancarar os dinos - e matar o suspense. Comparar o diretor com o personagem principal do filme, o o cientista John Hammond, ajuda a entender o porquê. 

Na trama, Hammond (o diretor de cinema Richard Attenborough) constrói um parque-de-diversões para hospedar os bichões que clonou a partir do DNA presente no sangue de mosquitos presos em âmbar pré-histórico. Antes de abri-lo ao público, chama alguns entendidos para provar que a empreitada é segura. Não é difícil concluir que Hammond é o alter-ego de Spielberg: deslumbrado, o diretor expõe os bichões como numa vitrine, ciente do seu espetáculo técnico, do mesmo jeito que o personagem se locupleta ao ver a boca aberta dos paleontólogos. O Gandhi dirigido por Attenborough venceu E.T. no Oscar de 1983. Spielberg se "vinga" ao colocá-lo na tela como uma duplicata sua, aos seus serviços.

Galeria de caricaturas

Por esses motivos, como dissemos, Parque é, ao mesmo tempo, o cume e o fim da era do esbanjamento para o diretor. Seduz pela imagem mas se satisfaz com ela, sem se preocupar com uma dramaturgia sólida. Temos aqui, em substituição, uma galeria de caricaturas: o gordo nerd que sabota o projeto, o matemático excêntrico de roupas negras, o paleontólogo metida a Indiana Jones, a mulher que grita, as crianças que choram, apanham, mas também dão o troco.

Com isso, o filme não deixa de ser um dos melhores exemplos de entretenimento dos anos 90, mas está longe de ter potencial dramático. Spielberg sabia fazê-lo: por trás de Tubarão tinha o drama de Chefe Brody; Contatos Imediatos de Terceiro Grau dizia muito mais da libertação do pai de família Roy do que da visita interplanetária; escondido na doçura de E.T. havia um grave relato da brutalidade humana diante do desconhecido.

Rolo compressor

Toda releitura, dez anos depois do lançamento, evidentemente buscará minúcias e novas interpretações. Mas na época o rolo compressor não deixou espaço para reflexões. Parque é o filme mais lucrativo de Steven Spielberg no mercado mundial. Já foi o maior de todos os tempos. Hoje fica atrás de anéis, bruxos e jedis, no sexto lugar da lista máxima, com 919 milhões de dólares de arrecadação.

Assim, O Mundo perdido (The Lost world), de 1997, surgiu mais como uma mina de ouro, do que um desafio autoral. Mais preocupado em "crescer", Spielberg poderia embolsar uns trocados enquanto dirigia outro projeto mais íntimo, Amistad, daquele mesmo ano. O escritor do livro original, Michael Crichton, que deve o seu sucesso na ficção-científica a Parque, teria a chance de emplacar outro best-seller. Era ótimo para todo mundo. Por isso mesmo, ali repetem-se todas as inovações de 1993, com alguma ou outra mudança de elenco e roteiro.

Na história, o matemático vivido por Jeff Goldblum não se contenta: visita a ilha vizinha à experiência original para pesquisar incidências de novos dinos. Numa equipe distinta, caçadores de vários tipos, raças e temperamentos buscam enriquecer com as presas ou somente colecionar alguns troféus. Estrela do original, que ora perseguia jipes ora salvava o dia, o Tiranossauro retorna com toda a sua família. E Spielberg libera as referências aos Filmes B, King Kongs e Godzillas que formaram o seu repertório na juventude, ao soltar um T-Rex em San Diego.

A carnificina urbana, com japoneses correndo, locadoras destruídas e inúmeras pequenas piadinhas espalhadas pelo cenário, acaba como o grande atrativo do filme. Mas 1997 era também a época em que o som digital chegava ao Brasil. E testá-lo com O Mundo perdido, ser envolvido por todos os lados pelo grunhido apavorante de um Raptor - mistura digital dos sons de morsas e golfinhos - fazia valer o ingresso. A franquia nasceu com o propósito de entreter, possivelmente ainda renderá novas seqüências à medida que novas tecnologias surjam. Mas é seguro afirmar que Spielberg já se divertiu o bastante.

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