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Crítica

Maria Cheia de Graça | Crítica

<i>Maria cheia de graça</i>

07.04.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

Maria cheia de graça
Maria, Llena eres de Gracia
EUA / Colômbia,
2004
Drama - 101 min.

Direção e roteiro: Joshua Marston

Elenco: Catalina Sandino Moreno, Yenny Paola Vega, Virginia Ariza, Johanna Andrea Mora, Wilson Guerrero, John Álex Toro, Guilied Lopez, Patricia Rae, Orlando Tobon, Fernando Velasquez

Maria cheia de graça (Maria Llena Eres De Gracia, 2004) podia até ser um filme tecnicamente regular que ainda assim teria pontos positivos. Principalmente porque a analogia estabelecida pelo californiano Joshua Marston em seu longa de estréia beira a genialidade. A Maria do título, que no cartaz aparenta receber a comunhão, não é a mãe de Jesus, mas carrega em seu ventre frutos que muitos consideram bendito: 62 pacotes de cocaína, cuja "graça" efêmera encontra paralelo no fervor religioso.

Mas a metáfora religiosa pára por aí. A história tem o pé plantado firme na Terra. Grávida de uma criança que não deseja, gerada com um namorado que não ama, a protagonista vive numa pequena comunidade rural colombiana. Cansada da vida indigna numa plantação de rosas, onde trabalha longas horas tirando espinhos dos talos das flores por salário de fome - que tem que dividir com a mãe, irmã e sobrinho -, a garota decide aceitar um trabalho como "mula" num momento de ousadia. Dessa forma, aquele traficante do noticiário, o malandro do Datena, ganha um rosto. E apesar de bonito, não é um rosto para o qual gostamos de olhar.

Convencida por um intermediário, ela aceita levar dentro de seu corpo uma carga de drogas aos Estados Unidos. Cada pacote do tamanho de uma uva. E se apenas um deles vazar, a morte é certa. Sem qualquer perspectiva e agora responsável por uma nova vida, Maria opta pela saída mais fácil, rápida e arriscada. A decisão espelha as tomadas pelas crianças do brasileiro Cidade de Deus, algo que clama há décadas por solução e que, apesar de ser motivo de vergonha nacional, continua cada vez pior. O rosto fica ainda mais feio...

Acompanhando esta menina de 17 anos, o público tem contato com o universo do tráfico de drogas internacional do ponto de vista mais baixo. O processo de preparo dos pacotinhos, o jejum para recebê-los, a dura viagem até Nova York, onde a carga deverá ser entregue. Tudo dolorosamente realista. Dolorosamente compreensível.

A segunda metade da co-produção dos Estados Unidos e Colômbia se passa em Nova York, onde Maria encontra a solidariedade entre seus pares. Se estabelece na comunidade colombiana no bairro pobre do Queens. Nesse ponto a realidade também parece um reflexo da nossa, algo que está sendo discutido atualmente até nas novelas: a vida dos imigrantes ilegais, a eterna busca pelo gramado mais verde do vizinho e o lado negro desse sonho.

Mas se a história de Maria é igual a milhares de outras, como anuncia o slogan do filme, a linda, talentosa e estreante Catalina Sandino Moreno a torna especial. Sua atuação, pela qual foi indicada ao Oscar de melhor atriz 2005, é naturalmente comovente e em momento algum parece falsa ou forçada. Aliás, essa é também a atmosfera geral do filme, que recebeu honrarias em inúmeros festivais internacionais. O diretor abre mão dos recursos consagrados nesse tipo de drama. A música não sobe, ele não chama o público às lágrimas. Diz não ao melodrama barato. Prefere retratar a realidade de forma natural, herança, talvez, de seus anos como jornalista e cientista político. Decisão acertadíssima. Afinal, pra quê aumentar se a realidade já é suficientemente dramática?

Nota do Crítico
Excelente!
Maria
Mary
Maria
Mary

Ano: 2005

País: Itália, França, EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 83 min

Direção: Calin Peter Netzer

Roteiro: Gordan Mimic, Calin Peter Netzer

Elenco: Diana Dumbrava, Horatiu Malaele, Serban Ionescu, Luminita Gheorghiu, Rona Hartner, Florin Calinescu, Florin Zamfirescu, Ana Ularu

Onde assistir:
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