Logo de cara, temos um paradoxo que não pode ser desprezado. Filmes como Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004), de Mark S. Waters, propõem uma visão sarcástica das futilidades colegiais, mas se direcionam justamente para essa massa adolescente que evita ser provocada, evita pensar além dos clichês. Como ironizar as loiras anoréxicas, os atletas e os bailes de formatura sem afugentar o público-alvo? Parece uma missão impossível...
Pois o retrospecto diz que o segredo é ser malvado, mas não tão mau assim.
Manifestos que não fazem concessões comerciais e que levam a crítica até as últimas consequências, como o inteligente Eleição (Election, de Alexander Payne, 1999), costumam fracassar nas bilheterias. Já comédias que esboçam acidez, mas terminam consagrando as habituais fórmulas de finais felizes, como As Patricinhas de Beverly Hills (Clueless,de Amy Heckerling, 1995), caem no gosto popular.
Diante dos números de bilheteria de Meninas Malvadas, um dos grandes sucessos da temporada dos EUA, não é difícil concluir que o filme se encaixa no segundo caso. As patricinhas estão de volta.
Mais perigoso que a savana
A trama fala da dificuldade de se adaptar a uma nova escola. Mas o drama de Cady (Lindsay Lohan) é maior. Filha de zoólogos que viveu durante anos na África e sempre estudou em casa, ela precisa aprender a rotina de um ambiente muito mais hostil do que as savanas: o colegial numa cidade suburbana de Illinois. No começo, quando o rostinho bonito lhe assegura lugar no clubinho das "Plastics" dondocas e esnobes, a estudiosa Cady não se mostra afeita às intrigas. Mas logo a vida fútil, um duelo amoroso e a inveja entre amigas periga corromper o coração da menina.
O currículo da roteirista Tina Fey - a primeira mulher a ser roteirista-chefe do Saturday Night Live - sugeriria uma diversão com comentários sociais acima da média. De fato, Meninas Malvadas tem algumas sacadas iluminadas: a melhor delas mostra, pelos olhos de Cady, como seria o horário do intervalo, com o refeitório cheio de "panelas" étnicas, econômicas e culturais, se os conflitos velados fossem substituídos pela selvageria sincera das planícies africanas.
O problema são as concessões ao padrão teen. A certa altura, quando a panela-de-pressão está para estourar, a clássica redenção chega para salvar os personagens. Neste ponto, não basta incluir alguns atropelamentos: aquilo que poderia ser bem mais corrosivo fica somente no anedótico. Uma pena, pois Tina Fey prova que tem muito mais fôlego criativo do que os seus pares de SNL que migraram ao cinema, como Rob Schneider e Adam Sandler.
Claro que o filme não deixa de ser engraçado. Se você se satisfaz com mais uma rainha-do-baile, mais um amor que dá certo no final, fique tranquilo. Mesmo porque a protagonista Lindsay Lohan, nova coqueluche da geração MTV, atua bem. Atriz desde os dez anos, que acertou ao trocar a TV pelo cinema em 2003, a meiga e fotogênica garota nova-iorquina já ostenta as curvas típicas dos dezoito anos. E pode, muito bem, ser a Alicia Silverstone dos anos 2000.
Ano: 2004
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 97 min