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Depois de conferir Na companhia do medo (Gothika, 2003), a primeira coisa que me veio à cabeça foi: "como esse filme não foi indicado ao Framboesa de Ouro 2004!??!?!"
Sem dúvida, trata-se de uma das piores produções hollywoodianas do ano passado, cujo único prazer que me proporcionou foi poder destrui-la sem dó nesta resenha.
Porém, antes de falar sobre o filme, vale avisar: Desconfie SEMPRE, mas SEMPRE, do nome Joel Silver nos créditos de qualquer película. O produtor, que teve sucessos memoráveis nos anos 80 como Máquina mortífera, Duro de matar e Predador, não realiza filmes de qualidade há pelo menos 20 anos. Claro, ele produziu Matrix em 1999, mas isso foi uma anomalia... o filme caiu no colo dele prontinho, e certamente os Wachowski não deixaram que ele metesse o dedo em sua cria. Silver hoje em dia só consegue utilizar-se de fórmulas popularescas batidas. Além disso, copia descaradamente produtores e cineastas mais originais que ele. Outra de suas habilidades é conseguir arrasar com o talento de qualquer diretor... ou será que o parisiense Mathieu Kassovitz, do ótimo Rios Vermelhos (Les Rivières pourpres, 2000), conseguiria deixar Na Companhia do medo (Gothika, 2003) tão ruim sozinho? Na história, Halle Berry (X-Men 2, A última ceia) vive a bem-sucedida Dra. Miranda Grey, uma psicóloga criminalista que trabalha na penitenciária administrada pelo seu marido (Charles Dutton). Vítima de um acidente enquanto dirigia de volta para casa, a médica acorda alguns dias depois, internada em sua própria clínica, incapaz de se lembrar de um crime que supostamente cometeu no período: o cruel assassinato a machadadas de seu marido. Tentando desesperadamente descobrir o que realmente aconteceu, ela acaba deparando-se com algumas terríveis pistas, apresentadas de forma assustadora por um espírito vingativo que assombra a instituição.
Ok, a premissa é razoável. O desenvolvimento da história idem. O elenco de apoio - Robert Downey Jr. e Penélope Cruz - não atrapalha. Mas também não ajuda. O clima da penitenciária é sombrio e as aparições da menina fantasma, uma cópia carbono da Samara Morgan - de O Chamado -, garantem sustos fáceis. O problema maior é mesmo o roteiro (de Sebastian Gutierrez), que brinda-nos com "pérolas" como o diálogo "eu não acredito em fantasmas, eles é que acreditam em mim". Nesse momento, as gargalhadas começam e seguem até o final, quando é possível descobrir o assassino com minutos de antecedência e até mesmo prever que Joel Silver - tarado por continuações - vai querer deixar um gancho para um Na companhia do medo 2. E o gancho vem. Pior... de forma absolutamente forçada e ridícula... felizmente, não deve haver uma sequência do filme, já que a produção bombou - e feio - nas bilheterias.
Um destino merecido para um filme que prova porque produções cinematográficas têm que partir de uma idéia original - da necessidade criativa - e não de uma tendência de mercado. Fora com os Joel Silvers da vida! Lugar de produtor é no escritório, não no estúdio!
Autor: Mathieu Kassovitz
Ano: 2003
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 98 min
Direção: Mathieu Kassovitz
Roteiro: Sebastian Gutierrez
Elenco: Halle Berry, Penélope Cruz, Robert Downey Jr., Charles S. Dutton, Bernard Hill