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Gangues, sexualidade, armas e guitarra com wah-wah são algumas das principais características da blaxploitation, gênero que nos anos 70 levou os negros a protagonizar filmes como Shaft (1971) e Superfly (1972) e inspirou projetos mais recentes como Jackie Brown (1997) e até Austin Powers e o homem do membro de ouro (2002). O cineasta John Singleton bebeu da fonte quando dirigiu seu remake de Shaft (2000) e agora, em Quatro irmãos (Four Brothers, 2005), volta para tentar atualizá-la.
Para tornar o gênero apelativo a todo o público, fugindo da necessidade de mostrá-lo apenas aos negros, ele constrói uma família de quatro moleques de rua (dois brancos, dois negros) que em algum momento de suas vidas foram adotados por Evelyn Mercer (Fionnula Flanagan). Dona de bom coração, ela foi responsável por conseguir lares adotivos para dezenas de outras crianças, mas por serem muito encrenqueiros, os quatro sempre voltavam para sua casa no subúrbio de Detroit.
O filme começa com eles já adultos. O pavio-curto Bobby Mercer (Mark Wahlberg), o mulherengo Angel (Tyrese Gibson), o pai de família Jeremiah (Andre Benjamin, do OutKast) e o roqueiro Jack (Garrett Hedlund) se reúnem para enterrar a mãe, morta durante um assalto no mercadinho da esquina. Como os policiais são corruptos e não têm um interesse em correr atrás dos culpados, os irmãos começam uma investigação paralela e descobrem que o acidente pode ter sido premeditado.
Como era de se esperar, a sede por vigança vai levar a muita ação, correria, tiroteiro, pancadaria, perseguição de carro (na neve) e tudo que um filme de ação precisa para divertir os poços-de-testosterona-devoradores-de-pipoca. Mas não se anime muito. A desculpa para conseguir mostrar tudo isso, algo conhecido como história, é boa, mas mal desenvolvida. Falta ritmo. A impressão é que rolou brainstorm, boas idéias surgiram e os envolvidos acharam que aquilo era suficiente para filmar. Não há uma linha de desenvolvimento, apenas um trabalho mínimo de colocar tudo numa ordem lógica.
Isso reflete em algumas cenas e na forma como elas foram construídas. É constrangedora a seqüência que mostra os quatro comendo o tradicional peru do Dia de Ação de Graças e se lembrando dos conselhos da velha. O que deveria aumentar a dramaticidade do momento, acaba causando um certo desconforto em quem assiste. Em vez de ficar sentido pela perda dos personagens, dá uma certa pena é da falta de tato do diretor para criar o clima certo. Por outro lado, Singleton mandou bem na hora de escolher o elenco e deixá-los à vontade. Nas pausas de sua vendeta, os quatro irmãos ficam tirando sarro um do outro e demonstram o bom clima que deve ter rolado nas filmagens e é transportado para a tela.
Na hora de dar novos ares à blaxploitation, Singleton se saiu bem vestindo seu elenco (com exceção do vilão, que continua com pinta de cafetão) de forma mais contemporânea e empregando as gírias da atual geração. Ele comprova também a fama conseguida com Os donos da rua (Boyzn the hood, 1991), mostra que tem estilo. Porém, ainda lhe falta algo. Ficar brincando de gangue, polícia e bandido ou tirando racha é divertido, mas está na hora de mostrar maturidade.
Ano: 2005
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 109 min
Direção: John Singleton
Roteiro: David Elliot, Paul Lovett
Elenco: Mark Wahlberg, Tyrese Gibson, André Benjamin, Garrett Hedlund, Terrence Howard, Josh Charles, Sofía Vergara, Fionnula Flanagan, Chiwetel Ejiofor, Taraji P. Henson, Barry Shabaka Henley, Jernard Burks, Kenneth Welsh, Tony Nappo