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Luzes na Escuridão | Crítica

Luzes na Escuridão

22.09.2006, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 16H02

O cineasta finlandês Aki Kaurismaki não é conhecido do grande público, mas seus filmes costumam freqüentar Festivais e Mostras. Seu cinema autoral tem como característica o humor sem expressão, irônico e com um tom absurdo. Seu novo projeto nessa linha, Luzes na escuridão (Laitakaupungin valot, 2006), marca o fim da trilogia urbana do homem perdedor, iniciada por Drifting clouds (1996) e O homem sem passado (2002).

O protagonista da vez é Koistinen (Janne Hyytiäinen), um homem solitário, que trabalha como guarda noturno em um shopping center de Helsinki. Ele tem pouquíssimos amigos, e, mesmo com eles, trava uma relação desconfiada. Koistinen é um homem tão esquecível, que seu chefe continua perguntando seu nome mesmo sendo empregado da empresa há três anos. Certo dia, quem cruza seu caminho é Mirja (Maria Jarvenhelmi), e a paixão é imediata. Mas uma quadrilha de gângsteres se aproveita de sua paixão por ela e de sua posição como vigilante para tramar um assalto a uma joalheria do shopping.

O filme foi visivelmente inspirado no cinema noir dos anos 40. Até o estilo de edição é o mesmo, embora Kaurismaki imprima o seu próprio ritmo. Todos os personagens se movem vagarosamente, enquanto a cidade de Helsinki parece estar isolada e coberta por um silencio extremo. Não há pessoas esbaforidas, trânsito ou vizinhos barulhentos. Só o grupo de gângsteres e alguns outros personagens que casualmente se envolvem na trama.

O que faz do filme uma pequena obra-prima é a maneira contida como tudo acontece - um brilhante exemplo de como o menos significa mais. Mesmo nos momentos mais hilários e patéticos protagonizados por Koistinen não acontece nenhum tipo de alteração do ritmo do filme. Ninguém sorri ou esboça uma reação. Parecem fotogramas ambulantes, dando uma idéia de uma história em quadrinhos que vai sendo contada página a página. O único personagem que esboça alguma emoção é Aila (Maria Heiskanen), uma mulher que tem um daqueles trailers que vende comida. Percebemos que ela gosta de Koistinen. Mas nem mesmo ela consegue expressar seus sentimentos.

Os diálogos são rígidos e não deixam espaço para a inflexão verbal. Mas não ache que o filme seja frio. Mesmo com os atores parecendo estátuas, a narrativa é envolta de um calor brilhante.

Os cenários também são fenomenais. Os elementos de cena surgem na tela de forma harmônica e arrumada. Helsinki é apresentada como uma cidade industrial. O apartamento de Koistinen é escuro e quase sem mobília, mas suas paredes são pintadas de forma exuberante para ridicularizar ainda mais seu ocupante. Tudo é extremamente colorido.

E diferente do trabalho anterior de Kaurismaki, o humor aqui é menos explicito. Mas seu estilo está lá mais uma vez e não é para qualquer um. A cena final pode deixar o público meio atônito, mas no rígido universo do diretor, um simples gesto de dar as mãos tem um significado singular.

Luzes na Escuridão

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Nota do Crítico
Ótimo
Luzes na Escuridão
Laitakaupungin Valot
Luzes na Escuridão
Laitakaupungin Valot

Ano: 2006

País: Finlândia, Alemanha

Classificação: 14 anos

Duração: 80 min

Onde assistir:
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