Filmes

Notícia

Motoqueiros Selvagens

Rebeldia de mentirinha, com Bon Jovi e tudo, para quem não exige muito

19.04.2007, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H24

Como paródia da rebeldia em duas rodas, Motoqueiros Selvagens (Wild Hogs) não começa mal. São quatro os easy riders da vez: Martin Lawrence (Vovó...Zona), John Travolta (Be cool), William H. Macy (Fargo, Magnólia) e Tim Allen (Um natal muito, muito louco). Eles fazem o estilo gangue de bar - tomam suas cervejas, desfilam suas Harleys, com jaqueta de couro e tudo, mas no dia-a-dia são apenas quatro sujeitos na crise de meia-idade com famílias disfuncionais e empregos insatisfatórios.

A piada com a rebeldia: na hora em que decidem largar tudo e pegar a estrada, a primeira coisa que os quatro fazem é jogar fora o celular.

3

None

2

None

4

None

Desde os primeiro minutos em que acompanhamos os Wild Hogs, nome da "gangue" de Travolta, fica evidente que o inconformismo estilo Dennis Hopper não tem mais vez. A comédia dirigida por Walt Becker segue a linha atual: pode até defender a liberdade, contanto que não magoe o gosto de nenhum espectador. Fazer o jogo do público - oferecer-lhe uma comédia com cara de inconformista mas espírito conservador - é o grande negócio. Não se espante se, a certa altura, depois de cruzarem com uma gangue de verdade (liderada por Ray Liotta), os Hogs perceberem que os valores da família são mais importantes que a lei da estrada.

Não chega a ser um filme de tiozinhos feito para tiozinhos - Motoqueiros Selvagens foi feito para não discriminar espectador algum. Fórmula-família bem-sucedida, claro: o filme foi tão bem nos Estados Unidos que já vai ganhar continuação. Para tirar como base, saber se o seu gosto bate com o sugerido no filme, responda rápido: escutar "Wanted Dead or Alive", do Bon Jovi, no momento teoricamente de maior rebeldia do personagem de Travolta, quando ele corta o combustível das motos da gangue rival, te faz sentir: a) empolgado; b) enjoado; c) indiferente?

Há uma quarta resposta possível: marginalizado. Porque, como diz o lema bonjoviano ("trezentos quinzilhões de fãs não podem estar errados"), pode calhar de você cair na sala em que todo mundo adora, gargalha e se empolga com Motoqueiros Selvagens, inclusive aquele cara, um dos trezentos quinzilhões de fãs de Bon Jovi, que canta a música junto com o filme. É a pior posição possível, a de marginalizado. Ficar indiferente diante de um filme é uma coisa. Não achar graça onde todo mundo se esborracha de rir já é quase uma tragédia existencial.

Curiosamente, para esse tipo de espectador exigente e solitário, há uma contrapartida dentro da tela: William H. Macy. Não é o ator que se vê normalmente em comédias-família, muito pelo contrário. Ele é o cara que dividiria com você a vergonha de estar ali, naquele momento. Macy é famoso por seus papéis em dramas independentes - invariavelmente, o papel de loser. A única trip libertadora de verdade em Motoqueiros Selvagens é acompanhar um ator sério como ele se despir da preocupação com o apuro estético. Macy, que só interpreta os fracassados, mergulhou no pastelão para viver um heroísmo de brincadeirinha.

No caso, despe-se e mergulha, literalmente. A cena da lagoa em que Macy dá uma "baleia branca" é tocante.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.