O Assalto | Crítica
O assalto
Durante os preparativos de um golpe, os ladrões Joe (Gene Hackman) e Bobby (Delroy Lindo) aliviam a ansiedade com uma conversa. Joe chacoalha algumas moedas e diz: Isto aqui faz o mundo girar, o ouro. Algumas pessoas dizem que é o amor, retruca Bobby. É... estão certas. É o amor. O amor pelo ouro, finaliza Joe.
Particularmente importante para o desfecho do filme, o diálogo soma-se a outros tantos, igualmente irônicos, e que fazem de O Assalto (Heist, 2001) um filme bacana. David Mamet, o roteirista e diretor, oriundo do teatro, responsável pelo ácido Deu a louca nos astros (State and main, de 2000), colaborador no roteiro de Mera coincidência (Wag the dog, de Barry Levinson, 1997), especializa-se em piadas rápidas, respostas cortantes, na crítica aos clichês e nos roteiros intrincados.
Em O Assalto, Mamet conta com um elenco afinado, encabeçado pelo carismático Gene Hackman e pelo histriônico e hilariante Danny DeVito, além da sensual Rebecca Pidgeon, sua esposa na vida real, presente em sete dos dez filmes do diretor. Aparentemente simples, a trama começa quando Joe e seus comparsas invadem uma joalheria. Um roubo corriqueiro, mas de conclusão trágica. As câmeras de segurança do local flagram Joe em ação. Marcado, o larápio opta por um merecido descanso, ao lado da sua atraente esposa, Fran (Rebecca).
Joe, no entanto, precisa de dinheiro para bancar sua aposentadoria precoce. Assim, sucumbe às pressões de Bergman (DeVito), um receptador ganancioso, que o convence a completar mais uma missão, o assalto do título, um carregamento de ouro vindo da Suíça. A partir daí, Mamet desfia os planejamentos do golpe, cheios de reviravoltas e de surpresas, sempre com riqueza de detalhes, sem pontas soltas ou respostas no ar. Em muitos momentos, cria uma tensão insuportável, faz com que o espectador de fato anseie pelo próximo passo, pelo próximo diálogo.
Curiosamente, em meio ao seu perfeccionismo característico, o diretor derrapa no aspecto mais óbvio e simplório: o ritmo cai nas cenas de ação e, nos tiroteios finais, falta emoção. Nada, porém, que comprometa, ainda mais com falas inspiradas, como numa intervenção de Bergman: Todo mundo precisa de dinheiro. É por isso que chamam de dinheiro!.
Mamet trata o seu filme como uma espécie de comédia noir e se justifica: Diferentemente de um filme de gângsteres, violento e sentimental, o Noir é frio, sem sentimento. E a violência sem sentimento passa, automaticamente, pela ironia. Esta clareza de raciocínio, este posicionamento, realmente torna O Assalto um filme singular à sua maneira.