o bom, o mau, o bizarro
o bom, o mau, o bizarro
o bom, o mau, o bizarro
Como o filme de Leone, precursor do western spaghetti, já era uma releitura dos faroestes hollywoodianos, dá pra se ter uma idéia do tamanho desse pastiche de segunda geração. Ji-woon já havia feito comédia (The Foul King), terror (Medo) e noir (O Gosto da Vingança), e agora adiciona espadas, franjas tingidas, cocares, machados bárbaros, jaquetas de couro, Glenn Miller, óculos de aviador, escafandros, sidecars e lugers ao velho gênero dos pistoleiros solitários em uma terra sem lei.
Terra sem lei, check. Estamos na Manchúria dos anos 30, quando a Coréia luta para se libertar do domínio japonês. O vasto deserto chinês assiste então ao confronto de três coreanos por um mapa, que aponta a localização de um suposto tesouro deixado pela finada dinastia Qing - tesouro que o governo japonês também quer encontrar, sob a pena de perder seu poder sobre os coreanos. Se você já viu o filme de Leone, sabe bem como se dá a interação entre os três personagens (com direito a gente amarrada ao cavalo) - e sabe como tudo termina.
Não é diferente no filme de Ji-woon. O "mau" (Lee Byung-hun) se veste todo de preto como Lee van Cleef, mas seu visual está mais para vilão de animê, correndo com os braços inclinados para trás, de sobretudo esvoaçante. Já o "bom" (Jung Woo-sung) está longe de ser um Clint Eastwood. Quem rouba a cena mesmo é o "bizarro", vivido pelo astro Song Kang-ho, de O Hospedeiro. Falastrão atrapalhado com coração grande, tem todos os alívios cômicos para si - e consegue ser tão careteiro quanto o "feio" de Leone, Eli Wallach.
A questão é saber se Ji-woon consegue adicionar alguma coisa ao original. Porque imitá-lo, sem dúvida, o coreano consegue. O que O Bom, O Mau, O Bizarro tem de melhor perde seu impacto em pouco tempo: o talento para coreografar a ação. Ao contrário dos diretores hollywoodianos, que registram as grandes cenas de ação com muitas câmeras e muitos pontos de vista (para depois ordenar na montagem), Ji-woon não picota demais as cenas. Ele prefere trabalhar com poucas câmeras e colocá-las em movimento em estilosos planos-sequências. O assalto ao trem e o tiroteio na primeira vila são um primor.
Mas não dá pra viver só de pirotecnia. Pelo terceiro tiroteio Ji-woon já está repetindo a si mesmo (e até incluindo música que Quentin Tarantino usara em Kill Bill; ou seja, copiando o copiador-mestre). O filme de Leone é único porque o italiano sabia como inserir as pessoas na vastidão do cinemascope, com um jogo de aproximação e distanciamento da câmera que criava não só tensão, mas dramaticidade. Emular seu estilo é fácil (basta ver como Ji-woon flerta com vários graus de close-up no fim do filme), mas nunca vai ficar igual ao original.