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O Casamento de Rachel - Mostra SP 2008

Diretor de O Silêncio dos Inocentes coloca drama em festa de casamento - ou vice-versa

09.10.2008, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 03H04

O novo filme do diretor Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia) se chama O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, 2008), mas a protagonista é Kim (Anne Hathaway), a irmã da noiva. Pelo menos é o que pensa Kim.

A personagem acaba de sair de uma clínica de reabilitação para viciados em drogas, onde esteve internada nos últimos nove meses, remoendo uma tragédia familiar ocorrida há dois anos. Ter que se contentar com drinques de água tônica na festa do casório de Rachel (Rosemarie DeWitt) e Sidney (Tunde Adebimpe) é o menor problema. Difícil, como expressa um personagem, é viver sabendo que todos os convidados ali conhecem seus outros problemas.

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E então Kim reage instintivamente como se estivesse em uma reunião de abstêmios - falando de si mesma. Isso desperta rancores no verdadeiro centro das atenções, Rachel. Com as brigas, para lembrar o passado basta um passo.

Também documentarista, Demme não rodava um longa de ficção desde Sob o Domínio do Mal. Aqui ele decide aderir ao estilo (fora de moda?) da câmera na mão em espaços estreitos, nervosa atrás de amplificar o drama, o que remete a Festa de Família (1997) e seus sucessores. A diferença é que em O Casamento de Rachel a câmera não precisa vagar muito para achar algum ponto de interesse. Porque o casamento de Rachel é um carnaval.

Poodles, saris, guitarristas, funk, tendas, hip hop, comida indiana, batas africanas, fardas de guerra e passistas e uma bateria de carnaval de verdade compõem o casamento - que em si já seria de um colorido original, com a branca e mirrada Rachel abraçando o enorme negro Sidney. Casamentos são terreno do exagero, mas este se supera. O caso é que Demme trata tudo com naturalidade. Aliás, a naturalidade ele faz questão de frisar, pois o pai de Rachel a toda hora discursa sobre a alegria de ver as duas famílias juntas. Amores interraciais deixaram de ser um tema em si e viraram uma realidade.

O mais interessante do filme é que, no meio desse monte de informação, ainda temos que nos preocupar com Kim - que no fim das contas é a protagonista. Ou não? Sempre que se concentra em alimentar a tensão familiar, Demme força a mão. O diretor nos impõe armadilhas dramáticas (o prato do menino, o homem no cabeleireiro) e o desenvolvimento do conflito fica bem truncado. Mas na cena do casamento em si, Demme filma mais a festa do que Kim. A ovelha negra da família não é o centro das atenções, enfim, como ela imaginava.

E na hora em que Kim se dá conta disso (a bonita imagem do barco sob a piscina), em que encontra um equilíbrio entre dividir seu sofrimento e guardá-lo para si, é como se alcançasse uma redenção. É possível ver O Casamento de Rachel como um drama de mão tremida e pesada, mas é possível vê-lo também como uma opção de Jonatham Demme pelo caminho contrário do tradicional. Ao invés de falar de Kim só de dentro para fora, como uma consciência que se espalha para toda a festa, é a festa, com todas as suas cores e seus sons, que impregna Kim.

Afinal, não é disso que todo recém-reabilitado precisa, voltar à rotina sem ser recebido com paternalismo?

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