Para um filme que começa com uma alegoria tão rebuscada - uma mulher nua engolida por um crocodilo - até que O Exercício do Poder (L'Exercice de L'Etat) trata de política de forma bastante clara e direta.
o exercício do poder
o exercício do poder
o exercício do poder
O ministro dos transportes da França, Bertrand Saint Jean (Olivier Gourmet), estava tendo uma ereção enquanto sonhava com a tal refeição, quando é acordado no meio da madrugada por um telefonema. Um ônibus cheio de crianças caiu numa ribanceira, e a fatalidade desperta a velha discussão nacional sobre a possível privatização dos transportes. Bertrand coloca então seu gabinete para trabalhar: precisa enlutar pelos mortos, sinalizar aos sindicatos que permanecerá contrário à privatização e, ao mesmo tempo, enquadrar-se nos planos reformistas do governo.
Bertrand se torna - segundo a alegoria do começo do filme, que tanto o excitava - a morena pelada de traços finos que engatinha voluntariamente para dentro do réptil. É um homem "sensível" ("4 mil contatos na agenda e nenhum amigo", reclama o ministro ao seu motorista) que aprende a ser digerido pelo mundo político. Para o diretor Pierre Schöller, essa espécie de suicídio do indivíduo, como a teoria da pulsão de morte freudiana, está ligada ao desejo. Aliás, quando entrevista um candidato a motorista para o ministro, seu principal assessor diz justamente isso, que "tudo é uma simples questão de desejar".
O filme usa muito bem a figura nada sensual do ator Olivier Gourmet para ridicularizar essa afrodisia do poder, particularmente na cena em que ele vai beber na casa do seu motorista atlético e "roqueiro" e visivelmente se encanta com a namorada do sujeito. "Você vota?", pergunta o ministro à mulher, para subjugá-la (e vencer o motorista por tabela). Bertrand fica sem ouvir a resposta, porém, o que o emascula (para fins cômicos). Nessa ele só perde para Nicolas Sarkozy, que posava para fotos nas pontas dos pés pra parecer mais alto.
O Exercício do Poder é o segundo filme de uma trilogia que Schöller chama de "republicana", que ele planeja encerrar futuramente com um longa sobre a Revolução Francesa. O primeiro, Versalhes, de 2008, sobre os excluídos da sociedade, também partia de um simbolismo (pessoas que moram na floresta que ladeia o Palácio de Versalhes) para tratar de responsabilidade política. Mas mais do que isso, tanto Versalhes - cujo protagonista vira pai de um filho que não é seu - quanto O Exercício do Poder questionam o papel dos homens na sociedade moderna. Se as privatizações são um nervo francês, não é por acaso. Elas tiram do Estado sua figura do patriarca provedor.
O Exercício do Poder | Cinemas e horários
Ano: 2011
País: França
Classificação: 16 anos
Duração: 112 min