Há alguns anos fui ao Sachsenhausen, lugar que foi uma espécie de "campo de concentração-piloto", no subúrbio de Berlim. Foi um dos lugares mais sombrios nos quais já pisei. Mesmo hoje, mais de 50 anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial, o ar ainda é pesado, não há flores, o gramado parece menos verde que o normal e - ao menos no dia que passei ali - o céu estava cinza. No caminho, depois de descer do trem, várias casas. E eu ficava pensando como aquelas pessoas conseguiam viver ali, perto de um lugar onde tanta desgraça tinha acontecido.
Os campos eram afastados das cidades, o que reforça a teoria de que nem todos sabiam o que acontecia lá dentro, o que era aquela fumaça preta e o cheiro insuportável que emanavam de lá. É essa ingenuidade o principal combustível de O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pijamas, 2008). O título se refere a essa naïvité do filho de um militar alemão promovido a chefe de um desses campos.
O Menino do Pijama Listrado
O Menino do Pijama Listrado
Bruno (Asa Butterfield) acha que as pessoas que vivem a alguns metros de sua casa são fazendeiros, mas não entende porque eles são tão infelizes e andam com aqueles "pijamas listrados". Altamente entediado, no meio do nada e sem os amigos com quem brincava em Berlim, Bruno decide sair um dia para explorar e anda até a cerca que separa os judeus ali presos do mundo externo. É lá que conhece o menino do título, com a mesma idade que ele, mas sem a alegria de viver. Para o pequeno judeu não há brincadeira, bola nem comida.
O filme escrito e dirigido pelo inglês Mark Herman, baseado no livro de John Boyne, tem todos os elementos-chave que um drama do holocausto pede. É emotivo. Trata do tema mostrando as atrocidades cometidas naqueles dias e o sofrimento imposto. E ainda expõe como jovens arianos eram convertidos ao nazismo.
O fato do protagonista ser um menino, que é o grande diferencial da história contra os concorrentes que também já trataram o tema, acaba parecendo muito mais uma jogada de marketing. As saídas encontradas pelo cineasta deixam tudo com um jeito de comercial piegas, daqueles que usam crianças ou animais para comover o público, sem mostrar a que realmente veio. Não à toa, todo o filme é falado em inglês (com sotaque britânico), mais uma prova da sua veia comercial.
Sem confiar na inteligência do público, o diretor pega a audiência na mão em vários momentos, iluminando com neon o caminho que está criando para o seu filme. O inexperiente Asa também não ajuda muito com seu jeito robótico de atuar. E apesar do desfecho, o longa-metragem não consegue sair do lugar-comum. Começa a parecer que o maniqueísmo do tema está chegando perto do seu saturamento. Não dá para apagarmos o nazismo da história da humanidade. Mas podemos selecionar melhor as histórias que queremos contar.