James Bond nasceu em 1953, data de publicação do romance Casino Royale, do jornalista e escritor londrino Ian Fleming (1908-1964).
Com a perícia adquirida na 2ª Guerra Mundial, quando colaborou com a British Naval Intelligence, Fleming elaborou um agente secreto elegante mas obstinado, sedutor mas implacável, e muito bem humorado. Como identidade secreta, criou dois números, os dois 00 que representam licença para matar, mais um 7, referente ao seu posto no Serviço Secreto Britânico.
Pronto. Com algumas tralhas tecnológicas, tramas mirabolantes, vilões lunáticos e muitas mulheres sensuais, nascia uma fórmula de sucesso e de diversão. A série de livros, que se estende por quinze títulos, foi adaptada para os cinemas a partir de 1962.
007 Contra o Satânico Dr. No
(Dr. No), de Terence Young, 1962
A primeira aventura do espião, custou apenas 1 milhão de dolares. Quando o orçamento da produção alcançou os 100 mil, a United Artists, detentora dos direitos da personagem, ao lado da MGM, pensou em jogar a toalha e desistir da cara produção, com medo de não recuperar o investimento. No fim das contas, a bilheteria bateu recordes e a venda de biquínis estourou pelo mundo, graças ao traje clássico que Ursula Andress, a mais célebre Bond-girl, utiliza em grande parte do filme. O londrino Roger Moore era o preferido de Fleming para assumir o papel de Bond, mas ele se viu ocupado com a série televisiva The Saint, deixando, assim, a personagem para a consagração de Sean Connery.
Na história, Bond é enviado à Jamaica para investigar a morte de um agente britânico e de seu secretário. Durante a investigação, descobre os planos de um certo Dr. No (Joseph Wiseman), um cientista nuclear chinês que encontra uma maneira de desviar a rota dos foguetes norte-americanos lançados a partir do Cabo Canaveral.
Acessórios: a clássica pistola Whalter PPK calibre 7.65mm, uma pistola Beretta 0.25mm e um medidor de radioatividade.
Bond-girls: Ursula Andress (1 transa), Zena Marshall (1 transa) e Eunice Gayson (2 transas) - esta, inicialmente cotada para coadjuvar em todos os filmes da série, acabou como a primeira pessoa a quem 007 se apresenta com a frase Bond, James Bond, num cassino. Era o começo do fim de uma identidade secreta.
Ursula Andress
Moscou contra 007
(From Russia with love), de Terence Young, 1963
As coisas começam a se definir no mundo de Bond. A trilha-sonora, composta por John Barry, surge pela primeira vez. O orçamento da segunda película chega a 2 milhões, o dobro da primeira. Para se ter uma idéia, só o cenário do vulcão em Com 007 só se vive duas vezes já chega ao custo de Dr. No.
As cenas de ação também se intensificam. Sean Connery e Terence Young, inclusive, correram risco de morte em dois acidentes de helicóptero. Outro detalhe crucial: Desmond Llewelyn (1915-1999) assume o papel de Major Boothroyd, o auxiliar de Serviço Secreto perito em tecnologia. No próximo filme, a personagem já será conhecida como o célebre Q. Llewelyn interpretou-a em dezessete filmes (todos os subseqüentes, menos em Viva e deixe morrer, em que Q não aparece), até O Mundo não é o bastante. Trata-se do ator recordista máximo em atuações sob a mesmo personagem.
Desta vez, 007 (Connery) alia-se a ex-espiões da KGB para roubar um aparelho decodificador do governo soviético, localizado em Istambul, na Turquia. Mas quando Bond consegue o intento, surge a organização que, a partir daquele momento, vai se tornar a maior inimiga do herói: a S.P.E.C.T.R.E., Special Executive for Counterintelligence, Terrorism, Revenge and Extortion. Robert Shaw (o pescador veterano de Tubarão) faz o musculoso capanga da organização, que pretende adquirir o decodificador e eliminar 007.
Acessórios: um rifle AR7 calibre 0.25 com mira infra-vermelha, um cabo para estrangulamento que sai do relógio, uma maleta com uma faca escondida na lateral, uma maleta falsa que lança um gás explosivo, um beeper e um telefone dentro do carro.
Bond-girl: Daniela Bianchi (3 transas).
Daniela Bianchi
007 contra Goldfinger
(Goldfinger), de Guy Hamilton, 1964
Tido por muitos como o melhor filme de Bond, apresenta locações exóticas e variadas, como América do Sul, Miami, Kentucky, Londres e Suíça, além de introduzir situações e desfechos mirabolantes, como um raio laser do qual Bond escapa no último instante, ou como o clássico desligamento de uma bomba pelo agente secreto a três segundos da explosão. Outra bizarrice que dá o tom do filme: Oddjob, o capanga de Goldfinger, mata seus adversários arremessando um chapéu com lâminas.
Ian Fleming inspirou-se no arquiteto húngaro Erno Goldfinger para nomear a personagem-título. Dentre suas criações, o arquiteto projetou a Ponte Trellick de Londres, em 1968. No filme, Gert Fröbe interpreta Auric Goldfinger, um contrabandista de ouro (dãa), milionário e jogador, que planeja roubar simplesmente o Fort Knox dos Estados Unidos. Sean Connery dá um baile, ganha de Goldfinger no carteado, no golfe e, pra valer, na fuga final, quando o vilão cai de um avião.
Acessórios: a estréia do automóvel Aston Martin DB5 (cujo assento ejetor funcionava de verdade), uma pistola com cabo e gancho para escalada, um rastreador, um traje de mergulho com uma gaivota de mentira no snorkell, um parquímetro com gás lacrimogêneo (laboratório de Q) e uma jaqueta à prova de balas (laboratório de Q).
Bond-girls: Shirley Eaton (1 transa), Tania Mallett (nenhuma) e Honor Blackman (1 transa).
Snorkel com gaivota acoplada
007 contra a Chantagem Atômica
(Thunderball), de Terence Young, 1965
Idealizado para ser o primeiro filme da série, acabou substituído por Dr. No, devido a uma pendenga judicial entre Ian Fleming e o co-autor da história, Kevin McClory - que alega ter sido ele, não Fleming, o criador da S.P.E.C.T.R.E.
É também o único longa que possui uma refilmagem, Nunca mais outra vez, realizada exclusivamente pelo co-autor, fora da série oficial. E como McClory tinha predileção por mergulho, 007 contra a chantagem atômica apresenta inúmeras seqüências aquáticas, como o primeiro tanque de tubarões da série (onde o dublê Bill Cumming foi convencido a entrar graças a um bônus de US$ 450,00) ou o desfecho à bordo de um potente iate.
Aqui, a S.P.E.C.T.R.E. volta a agir, desta vez personificada no segundo homem mais poderoso da organização, o vilão Emilio Largo (Adolfo Celi), reconhecido pelo indefectível tapa-olhos. Ele lidera um maligno plano de destruição, ao roubar duas bombas atômicas, escondê-las sob o oceano, e chantagear os governos mundiais em troca de 100 milhões dólares.
Os britânicos enviam todos os seus 00 atrás da S.P.E.C.T.R.E., mas apenas Bond (Connery) segue as pistas que levam às Bahamas - e consegue salvar a pátria.
Acessórios: automóvel Aston Martin DB5, unidade de propulsão submarina, jato portátil (que funcionava de verdade), relógio com medidor de radioatividade, câmera fotográfica com visão infra-vermelha, respirador bucal para mergulho com duração de quatro minutos e sinalizador em miniatura.
Bond-girls: Molly Peters (2 transas), Claudine Auger (1 transa) e Luciana Paluzzi (1 transa).
Jato portátil
Com 007 Só Se Vive Duas Vezes
(You only live twice), de Lewis Gilbert, 1967
A paródia de Dr. Evil na série Austin Powers não existiria sem o modelo precioso de Ernst Blomfeld (Donald Pleasence), o manda-chuva da S.P.E.C.T.R.E. O arqui-rival de James Bond é um arquétipo do vilão moderno: careca, com uma cicatriz gigante passando verticalmente pelo olho direito, falava mansamente enquanto alisava o seu gato branco. Nos filmes anteriores que envolviam a organização, Blofeld apenas aparecia como um vulto ou uma voz. Aqui, só se revela no final do filme, mata o seu capanga Osato (Teru Shimada) por incompetência e, para completar, conta minuciosamente o seu plano maligno para 007. Lógico, Blofeld foge no final.
A história acontece no Japão, mas um complexo prólogo antecede a ação. Quando uma espaçonave norte-americana desaparece durante uma missão, a culpa cai sobre os soviéticos. Em seguida, quando um similar russo se perde, a situação soa como retaliação dos Estados Unidos. Quando a guerra se mostra iminente, Bond (Connery) segue uma série de pistas que o levam até o Mar do Japão. No país, 007 passa por cidadão japonês e chega até a se fingir de morto para escapar da perseguição da S.P.E.C.T.R.E., a verdadeira responsável pelo sumiço das naves.
Acessórios: um traje protetor com oxigênio (para a hora do enterro falso), um decifrador de combinação de cofre, um cigarro munido com dardos, um bastão de madeira com lâmina na ponta, ventosas de escalada e o carro é um Toyota 2000 GT.
Bond-girls: Akiko Wakabayashi (2 transas), Karin Dor (1 transa), Mie Hama (1 transa).
Cigarro com dardo
007 a Serviço Secreto de Sua Majestade
(On Her Majestys secret service), de Peter R. Hunt, 1969
Há alguns anos, Sean Connery já andava descontente com o excesso de participações na série. Durante as entrevistas do filme anterior, no Japão, a imprensa insistia em chamá-lo de James Bond. Além disso, ele e sua mulher eram perseguidos por fotógrafos.
Para não agravar o ânimo do ator, que tentava fugir de tal estigma, o estúdio revogou a obrigação contratual que exigia a participação em mais uma película. O papel foi oferecido a dois futuros Bonds, Roger Moore e Timothy Dalton, mas ambos declinaram. Assim, foi feita uma triagem entre mais de 400 atores, de onde o australiano George Lazenby, ex-vendedor de carros e ex-modelo, saiu vencedor.
Outro detalhe: antes de dirigir, Peter R. Hunt era o montador dos filmes de Bond. John Glen o substitui na edição e, a partir de 1981, também assume a direção.
A trama é atípica. Bond inicia a jornada com um pedido de demissão, uma vez que não conseguiu encontrar o foragido Blofeld (Telly Savalas, careca, mas sem a cicatriz). Em viagem por Portugal, o ex-agente apaixona-se por Tracy Draco (Diana Rigg), filha de um gângster (Gabriele Ferzetti). Surpreendentemente, o bandido oferece ajuda para encontrar Blofeld, contanto que Bond se case com Tracy. Quando descobre que seu arqui-rival agora planeja destruir a agricultura do mundo com um vírus letal, 007 retorna ao Serviço Secreto. No fim das contas, com a situação resolvida, o agente se casa com a moça, mas Blofeld, que era dado como morto, mata Tracy e foge novamente.
Uma das teorias para a galinhagem de Bond é que ele resolve curtir a vida depois que sua esposa é assassinada. Com 007 a serviço secreto de Sua Majestade, a hipótese ganhou força. O filme é muito bom, aliás, apesar da falta de carisma de Lazenby. Uma série de perseguições na neve marca o início de outra peculiaridade da série.
Acessórios: 2 em 1 - abridor de cofres e fotocopiadora, câmera fotográfica miniatura.
Bond-girls: Diana Rigg (2 transas), Angela Scoular (1 transa) e Catherina von Schell (1 transa).
Catherina von Schell
007 - Os Diamantes São Eternos
(Diamons are forever), de Guy Hamilton, 1971
O desempenho de Lazenby não agradou. O ator justifica a sua saída dizendo que abandonou a personagem acreditando que a fórmula do super-espião iria se tornar anacrônica na Era de Woodstock. Em todo caso, um cachê reforçado consegue trazer Connery de volta - 1,25 milhão de dólares, recorde na época, mais a promessa de que a United Artists realizaria dois filmes não-007 com Connery, à sua escolha. Mais tarde, o escocês doou seu cachê para a Scottish International Trust.
A trama acontece em Las Vegas, onde o Serviço Secreto suspeita que se concentra uma máfia de contrabando de diamantes sul-africanos. Ao mesmo tempo, cria-se uma trama de dominação mundial, mas a diversão concentra-se mesmo nos cassinos do deserto e nas perseguições de carro pelas avenidas iluminadas de Las Vegas. De novo, Bond descobre que Ernst Blofeld, agora na pele do ator Charles Gray, esconde-se por trás da direção do cassino. Para piorar, o arqui-rival encontra uma maneira de se clonar. Antes de encurralar o verdadeiro vilão, Bond elimina uma porção de carecas malignos. Destaque também para os divertidos assassinos Mr. Wint (Bruce Glover) e Mr. Kidd (Putter Smith), as únicos personagens homossexuais com destaque na série.
É a última aparição de Ernst Blofeld e da S.P.E.C.T.R.E. na série oficial, uma vez que Kevin McClory obteve a exclusividade das personagens na justiça (ver Thunderball) e se dedicou a filmar a sua versão de 007 contra a chantagem atômica.
Acessórios: pistola com gancho para escalada, uma ratoeira de bolso, kit de impressão digital removível, máquina de modificação de voz, controlador de eletromagnetismo (recomendado para manipular máquinas de cassino).
Bond-girls: Jill St John (2 transas), Lana Wood (nenhuma).
A invicta Lana Wood
007 - Viva e Deixe Morrer
(Live and let die), de Guy Hamilton, 1973
A estréia do londrino Roger Moore, a trilha sonora de Paul McCartney e um ótimo naipe de vilões são os atrativos do oitavo filme da franquia.
Uma vez que Connery dispensou a astronômica quantia de 5,5 milhões para viver a personagem, começou outra corrida atrás do protagonista. Cogitou-se escalar um norte-americano para o papel, nomes como Paul Newman, Burt Reynolds e Robert Redford, mas o produtor Albert R. Broccoli (1909-1996), responsável pelos dezesseis primeiros filmes, preferiu um britânico, aquele que era a opção de Fleming desde a primeira película. Assim como o atual Pierce Brosnan, Moore imprimiu um humor sarcástico à personagem, conhecida na época pela sua elegância.
Aqui, 007 é enviado a Nova York para investigar a morte de diversos investigadores ligados ao tráfico local de heroína e à figura do chefão criminoso Mr. Big (Yaphet Kotto). Suas pistas levam a uma ilha caribenha, de posse do diplomata Dr. Kananga (também Kotto), onde Bond descobrirá a sinistra ligação entre as duas pessoas.
No caminho do espião, uma cartomante (Jane Seymour, a recordista suprema de transas, que Bond seduz com um baralho de Tarô marcado), um mestre do vudu que se deita com serpentes (Geoffrey Holder) e um assassino com mecanismos biônicos no lugar da mão direita (Julius Harris).
Viva e deixe morrer também possui uma das façanhas mais incríveis da série, quando Bond escapa de um criadouro de crocodilos pulando sobre uma fileira alinhada dos répteis. Como nenhum dublê ousou se arriscar, o próprio dono dos animais, Ross Kananga, tentou a acrobacia. Conseguiu na quinta tentativa, utilizando botas de couro de crocodilo! Na terceira chance, os bichos já sabiam do truque e insistiam em manter a boca aberta. Na quarta, Kananga levou uma dentada no sapato. O nome do vilão é uma homenagem ao bravo dublê improvisado.
Acessórios: uma Magnum 0.44, uma pistola com balas de ar comprimido (que inflam o objeto atingido), um relógio digital (na época era uma inovação e tanto!), um rolex com imã e serra de corte, um comunicador disfarçado de isqueiro, um detector de escutas escondidas e uma escova de cabelo com comunicador morse.
Bond-girls: Madeline Smith (1 transa), Gloria Hendry (2 transas) e Jane Seymour (4 transas).
A recordista Jane Seymour