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O Quarto do Pânico | Crítica

O quarto do pânico

07.06.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Meg Altman (Jodie Foster) decide se mudar.

Junto com sua filha, Sarah (Kristen Stewart), aluga um casarão em Nova York, vasto, quatro andares, elevador, cômodos a rodo. No dia do reconhecimento, acompanhada do corretor, descobre também uma sala secreta. Dentro do Quarto do pânico, um cubículo revestido de aço, construído para situações de perigo, é possível monitorar todo o lugar. Já na primeira noite na nova casa, o azar. Três bandidos invadem o casarão. Para se proteger, Meg e Sarah refugiam-se na caixa inviolável. Burnham (Forest Whitaker), o cabeça do grupo, tenta controlar os seus parceiros, um excitadíssimo, o outro altamente psicótico. Temos que fazer as duas sairem. E eu não quero ajuda do Joe Pesci aí, diz Burnham, referindo-se ao segundo comparsa, contratado à sua revelia.

Disparada logo no início do filme, enigmática, a citação fica no ar durante um bom tempo. Somente depois que alguns corpos pegam fogo e desabam escada abaixo, a referência a Esqueceram de mim (Home alone, de Chris Columbus, 1990) se explicita. Perceber as semelhanças da comédia estrelada por Macaulay Culkin e Joe Pesci com O quarto do pânico (The panic room, de David Fincher, 2002) mostra-se imprescindível na hora de analisar a nova iniciativa do polêmico diretor de Se7en (1995) e Clube da luta (Fight Club, 1999). Esqueceram de mim exibia um humor negro escrachado, escancarado. O quarto do pânico, por sua vez, um suspense repleto de seqüências de ação, mostra-se mais sombrio, hipnótico, tenso, malvado.

Depois de se consagrar com temáticas desafiadoras, sentimentos humanos como instinto, fúria e insanidade, Fincher decidiu descansar. Quarto aborda outra faceta de natureza psicológica, a sensação de perigo constante e de prisão na sociedade atual, mas não impacta como os filmes anteriores. Aqui, com roteiro de David Koepp, o responsável pela adaptação de Homem-Aranha (Spider-Man, de Sam Raimi, 2002) para as telas, Fincher prefere privilegiar sua segunda grande qualidade: o estilo técnico virtuoso e a apurada utilização de computação gráfica. E decide, segundo suas próprias palavras, curvar-se ao entretenimento. A semelhança com o filme de Columbus deixa isso claro - algo que não desmerece em nada a produção. A tensão só aumenta, prende o espectador e consolida o filme como um suspense de alta qualidade. E algo mais.

Produto original

Antes de escolher Jodie Foster para o papel principal, Fincher contava com a participação de Nicole Kidman. Quando a atriz machucou o joelho no set de Moulin Rouge - Amor em vermelho (Moulin Rouge!, Baz Luhrmann, 2001), porém, o diretor precisou improvisar uma alteração. Na época, Jodie preparava-se para integrar o júri do Festival de Cannes. Convidada por Fincher, no limiar do início das filmagens de Quarto, a atriz topou na hora. Deixou o festival e incorporou a personagem em meros nove dias de preparação. Depois, precisou abandonar as gravações por um tempo, época da sua segunda gravidez. Todos os imprevistos e os atrasos não afetaram a atuação. Pelo contrário.

Se a participação de Nicole resume-se numa pontinha, sua voz ao telefone, numa conversa entre Meg e a nova esposa de seu ex-marido, a versatilidade de Jodie adiciona ao filme um elemento tão forte quanto a estética de Fincher. De mãe desprotegida, Meg precisa se tornar uma valentona. Em certo momento da película, Sarah confessa: Minha mãe é louca. E Jodie Foster faz tudo parecer verossímil. Comparativamente, as transformações de Meg Altman durante o filme equivalem-se às de Kevin McCallister de Macaulay Culkin.

No entanto, logicamente, como um bom autor, Fincher separa as coisas, foge da simples reverência e faz da fórmula um produto original. Quando tudo começa a descambar para o cômico, o diretor retoma o terror da proposta inicial. Consegue, com uma destreza hitchcoquiana, transformar o cenário em personagem e passear em planos-sequências, ao mesmo tempo em que aborda temas variados como o casamento e a revolta, a bondade e o perdão. E ainda há mais. Ninguém deve se assustar com o sensacionalismo do título. Ele não resume todas as idéias contidas no filme. É preciso conferir. Afinal, seria difícil detalhar outros elementos de O quarto do pânico sem revelar mais surpresas.

O Quarto do Pânico
(Panic Room) EUA, 2002

Direção: David Fincher
Roteiro: David Koepp
Elenco: Jodie Foster, Kristen Stewart, Forest Whitaker, Dwight Yoakam, Jared Leto, Patrick Bauchau.

Imagens © 2002 Columbia Pictures.

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