Filmes

Entrevista

Omelete Entrevista: Neil Gaiman

Autor fala sobre Coraline, os filmes da Morte, Graveyard Book e a emoção de matar o Batman

10.09.2009, às 20H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H31

Na última Comic-Con, eu tive a sorte de poder me sentar com Neil Gaiman, um dos meus ídolos, e conversamos sobre o processo criativo de Coraline, as críticas, o que está por vir e para ouvir o status da adaptação aos cinemas de Morte: O Alto Preço da Vida.

Gaiman começa a entrevista falando sobre alguns dos action figures usados na criação do filme.

Morte

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Batman - Whatever Happened to the Caped Crusader

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The Graveyard Book

None

Coraline e o Mundo Secreto

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Neil Gaiman

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Eles te deram um desses?

NEIL GAIMAN: Eu tenho uma Coraline quase igual a essa. Eles me deram uma, mas ela tem uma bolsinha com um gato dentro e o pijama dela está rasgado e queimado. Ela é do finzinho do filme. Ela fica em cima do meu gaveteiro em casa e é incrivelmente linda. Eu olho pra ela e penso, "Eu tenho uma estrela de cinema ali." Ocasionalmente, porque eu posso, eu tiro a cabeça dela, algo que eu acho que eles não me deixariam fazer aqui, eu acho que as pessoas iam cair de terror. A cabeça é presa com ímãs. É bem legal. Eles tinham milhares de rostos para colocar nela e faziam essas maravilhosas expressões faciais que mudavam quadro a quadro.

Você cria como profissão. Quando você vê algo tátil como isso, é uma sensação diferente?

Sim. Coraline é meio diferente porque tenho uma alegria muito grande em ver essas coisas. Ir aos estúdios, ver aquele lugar e a incrível quantidade de trabalho que vai em tudo... é nesse momento que você percebe que essas pessoas estão sendo Deus. Se você é um cineasta normal e quer filmar alguém na grama, você simplesmente o leva num lugar com grama e filma. Se você quiser fazer uma cena de grama num filme como Coraline, é preciso fazer cada folhinha da grama, porque elas não existem até que você as faça e vai ter que achar coisas interessantes que se pareçam com grama. E se soprar um vento, você terá que mover cada uma delas um frame de cada vez. No painel nós estávamos falando sobre a Outra Mãe: quando terminei de escrever o livro, tudo que eu tinha a dizer sobre ela é que ela não parecia mais a mãe da Coraline. Eu não precisava dizer o que ela parecia, porque eu estava deixando a imaginação das pessoas preencher e deixá-la mais assustadora e estranha do que eu jamais poderia ter feito. Henry tinha que fazer alguma coisa e o que ele obteve foi esse incrível, aterrorizante inseto, que é maravilhoso. As mãos eram feitas de agulhas, que eu não ouso encostar novamente.

Teve algum momento específico que te levou à criação de Coraline? Pergunto isso porque a moral parece tão forte...

A história veio originalmente da minha filha Holly, que tem hoje 24 anos e é perfeitamente normal. Provavelmente a pessoa mais normal da minha família. Quando ela tinha uns 4 anos, o filme preferido dela era Alice, do Jan Svankmajer. Ela chegava em casa do jardim da infância, sentava no meu colo e começava a ditar essas histórias de terror sobre menininhas cujas mães eram possuídas por bruxas do mal e as aprisionavam. Aí as menininhas tinham que se libertar e resgatar as mães. Eu lembro de pensar, "Essas histórias são tão boas! Eu vou contar uma pra ela também." Na verdade, eu primeiro pensei em comprar uma dessas pra ela, então fui à livraria e descobri que ninguém estava fazendo boas histórias de horror gótico para meninas pequenas, então eu comecei a escrever. Eu lembro que teve um momento em que eu cristalizei, e aí percebi que o tema da história era como ter coragem, ou algo assim. Eu levei dez anos para escrever Coraline. Agora as pessoas me perguntam, "Você sabia quando estava trabalhando na história que ela um dia seria um filme de stop-motion, e uma graphic novel e um musical off-Broadway?" Se eu soubesse de tudo isso, não teria levado dez anos para escrever, teria sido mais rápido.

O que sua filha acha do filme?

Ela adora. De verdade! Tive uma alegria enorme em levá-la para assistir. Eu levei minha filha mais nova Maddie para assistir à estréia em Portland e levei Holly para assistir em Londres. Elas adoraram.

Você tem um conto que fala sobre um gato defendendo uma família e em Coraline você tem um gato defendendo uma menina, isso é inspirado no seu próprio gato?

Na verdade, o gato da história foi inspirado num gato de verdade que apareceu na nossa casa, e ele se metia nessas monstruosas brigas com coisas durante a noite. Eu nunca soube contra o que ele lutava, tudo que eu sabia é que eu tinha que cuidar dele na manhã seguinte. Em Coraline, eu acho que o gato veio principalmente porque eu queria um gato e nós estávamos vivendo numa casa em que não era permitido ter animais, então eu não podia ter um. Às vezes, como escritor, são as coisas que você não pode ter e que você quer que acabam indo para a história. No caso de Coraline, foi daí que veio.

Você ficou feliz com a reação a este filme, porque parece que ele foi elogiado universalmente?

O que eu mais gostei não foi o fato que as pessoas curtiram - embora eu tenha adorado isso, logicamente. O que adorei mesmo foi como as reações foram sensível. A crítica do New York Times começava dizendo, "Este é um filme de terror para crianças, e isso é bom" e aí procedia explicando porque fazer um filme de terror para crianças é bom. Assustar as crianças em pequenas doses que eles consiguem lidar é uma coisa boa. Eu acho que vindo da Inglaterra, da tradição britânica de assustar crianças, isso sempre me pareceu como algo muito sensato a fazer. Eu adorava o seriado inglês Doctor Who, que comecei a assistir com três anos de idade. Eu assistia atrás do sofá dos meus avós, porque eu sabia que se você assistisse atrás do sofá os monstros não conseguiriam vir te pegar. Eu amo que Coraline existe dentro dessa tradição. Sim, dá medo. Nós não escondemos que é um filme assustador. As pessoas nos perguntaram pra quem é o filme, Henry e eu tentamos explicar que o filme é para menininhas corajosas de todas as idades e gêneros.

Qual é o próximo projeto seu que está perto de ser realizado?

A coisa mágica do cinema é que você realmente nunca sabe. A não ser que seja algo como Coraline... e até Coraline já tinha dez anos quando entreguei a Henry o manuscrito, em 2000, dezoito meses antes de ser publicado. Eu acho que provavelmente The Graveyard Book é o próximo. Neil Jordan está escrevendo e dirigindo. A única coisa que é frustrante é que não posso dizer em que estúdio que está porque eu sei que essas coisas estão sendo acertadas nos bastidores. Mas a situação está muito boa para The Graveyard Book.

E Morte: O Alto Preço da Vida?

Eu não sei se já está morto, mas com certeza está deitado em algum caixão com uma flor no peito. No entanto, qualquer coisa pode voltar à vida e coisas em caixões podem te atacar a qualquer momento. Em 2002, eu tinha certeza que Beowulf estava não apenas completamente morto, como morto para sempre. Até que, em 2004, Bob Zemeckis de repente o ressucitou. Morte estava com a New Line, e agora a New Line é basicamente um armário de arquivos na Warner Bros. Se ela voltar, ou se nós encontrarmos um lugar dentro da Warner para fazê-lo, será feito. O problema que o filme da Morte tem é que os personagens pertencem ao [universo de] Sandman, que pertence à DC Comics, que pertence à Warner Bros., o que significa que eu não posso tirar nada de lá. Qualquer coisa que for minha eu posso decidir para onde vai e o que acontece. Eu posso pegar um Coraline e escolher o Henry Selick. Eu posso escolher quem seria o melhor cineasta para este filme - no caso Henry - e enviar, como eu fiz, o manuscrito de Coraline e ficar com ele sete anos enquando ele descobria uma maneira de realizar o filme e um lugar onde ele poderia ser feito. Quando ele finalmente encontrou a [produtora] Laika, se acertou lá e conseguiu persuadi-los a fazer o filme, eu senti que toda a minha fé foi justificada. No caso de Morte, tem um ótimo roteiro, eu adoraria fazer esse filme algum dia, mas não estou mais aguardando ansiosamente.

Você se divertiu fazendo [a história do Batman da DC Comics] Whatever Happened to the Caped Crusader?

Foi uma alegria. Foi como uma carta de amor. É aquilo que você pensa, "Eles me deram a chance de matar o Batman! Não só de matar o Batman, como fazer o último quadrinho do Batman." Eu vou escrever o último quadrinho do Batman que eu gostaria de ler. Porque existem 70 anos de Batman, e eu vou trazer todos estes 70 anos pro meu quadrinho. Vou esmagar tudo. Vou tentar colocar tudo - todos os filmes, e tudo que foi feito para TV e tudo estará lá de alguma forma e isso foi uma alegria muito grande.

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