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Entrevista

Omelete Entrevista: Peter Segal, o diretor de Agente 86

Cineasta fala sobre testes de público, seu elenco, inspirações e uma possível seqüência

19.06.2008, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H37

O diretor Peter Segal não dá chance para o azar. Gosta de cercar-se de planos, de opções de piadas e depois testa tudo junto ao público antes de montar seu filme. Ao menos não esconde que usa de todos esses artifícios para entregar ao público o longa-metragem mais universalmente engraçado possível. Um curioso contraponto ao estilo de Mel Brooks - que garante que jamais "emburreceu" seu texto para fazê-lo encontrar público.

Brooks, claro, é o criador da série Agente 86, clássico sessentista cuja nova adaptação às telas que Segal dirigiu. Inseguro ou não, o diretor teve a benção do veterano comediante, que gostou do novo filme e foi só elogios à produção. Confira agora a entrevista com ele e assista aos melhores momentos da conversa na galeria de vídeos, abaixo.

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Peter Segal

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Peter Segal

Peter, como foi a contratação de Anne Hathaway? Ela foi a primeira pessoa a ser testada para o papel, não?

PETER SEGAL: A primeira coisa que tivemos certeza depois de nosso primeiro encontro com Steve foi que a relação entre 99 e Max teria que ser carregada de química. E nesse ponto quase todas as atrizes em atividade em Hollywood queriam o papel dela. E Anne veio por Steve, pois ela é louca pela série The Office, queria muito conhecê-lo e insistiu para ser testada logo no começo. Eu fiquei curioso e ela acabou sendo a primeira a conversar conosco e a primeira a fazer um teste. Nesse dia eu estava com uma lancheira vintage da série original, uma de 1965 que eu ganhei de presente, com Barbara Feldon e Don Adams, e enquanto os dois conversavam eu olhei para eles e olhei para a lancheira e fui tomado por uma sensação de que aquilo estava certo. Mas mais que o visual, ela estava determinada a mostrar que podia ficar à altura dele em termos de comédia. Numa cena em particular, Steve começou a improvisar e ela seguiu sem problemas. O resultado era tão bom que eu comecei a anotar no canto do roteiro. Ou seja, aquele primeiro encontro deles acabou rendendo material que está no filme!

Eu estive no set há um ano e notei que Steve improvisa o tempo todo. Quão difícil é optar por um take ou outro, já que todos são hilários?

PS: É engraçado, pois na sala de edição testamos várias dessas possibilidades. Sabe, isso é algo que nasceu com os Irmãos Marx. Eles testavam as piadas no palco antes de as filmarem.

Você leva várias opções de piadas ao público em exibições-teste?

PS: O que eu gosto de fazer é ligar uma câmera infravermelha no cinema e ver os rostos das pessoas que estão assistindo ao filme. Assim podemos vê-las além de ouvi-las rindo. Então usamos várias dessas cenas. Se uma não causa o tipo de reação que estamos esperando, tentamos outra na próxima sessão. É ótimo ter esse arsenal. E mesmo que uma piada cause a reação esperada, tentamos ir além, com outra ainda mais engraçada. Os Irmãos Marx trabalhavam nos filmes deles: Eles testavam o material que criavam em teatros de estrada. Assim quando eles iam aos sets, com a iluminação, as equipes posicionadas, eles não perdiam tempo. Eles sabiam quais piadas funcionariam. Muitos comediantes trabalham assim e não acho que deveria ser diferente. Eu aprendi quando fiz meu primeiro filme a usar microfones na platéia, mas aí, com os avanços da tecnologia, você pode pegar uma handcam, colocá-la na visão noturna e esconder algumas na platéia. Porque quando eu estou no cinema com um grupo de pessoas só vejo as costas delas. Dá pra tirar alguma coisa disso, quão paradas elas estão, se estão prestando atenção, se estão rindo. Mas eu nunca podia ver os rostos. Com as câmeras é uma história completamente diferente. Dá pra saber o que interessou as pessoas, o que elas gostaram, onde o filme está ficando mais lento... dá pra arrumar essas coisas porque você pode vê-las nos rostos.

Parece uma ferramenta realmente interessante, mas você, como um criador, não sente que isso te deixa meio amarrado?

PS: Não. Acho que você não pode ser arrogante em comédia. Você está lá para arrancar uma resposta emocional e visceral. Eu já ouvi de outros diretores "eu não me importo que isso não gere uma gargalhada, eu acho engraçado". Bom, ótimo, então eles têm um filme inteirinho pra mostrar pros filhos. Mas se você está buscando um filme de sucesso você tem que prestar atenção ao público. Você não precisa ceder a eles, mas tem que prestar atenção.

Falando sobre comédia, quais são suas comédias preferidas e comediantes?

PS: Minha comédia preferida de todos os tempos é O Jovem Frankenstein. Ironicamente, de Mel Brooks, de novo. E o que é ótimo nela é que ele pegou aquele material de base e o conduziu de forma muito séria. Ele não fez sets engraçados, ele não fez figurinos engraçados. Ele tratou a história como um drama, mas injetou aquele humor típico de Mel Brooks. Em termos de comediantes, eu fui abençoado com a chance de trabalhar com tantos, de Steve [Carell] a Adam Sandler, Chris Farley, Jack Nicholson, Jack Lemon, Eddie Murphy, pra citar apenas alguns. Eles são todos heróis pra mim.

Qual foi o momento mais engraçado no set?

PS: O momento mais engraçado no set foi quando Alan Arkin estava errando a pronúncia de "Krstic" e Steve tinha que corrigi-lo. Steve e Alan não conseguiam parar de rir e a cada take Alan inventava um jeito novo de errar a pronúncia: "Krishnic", "Chris-tic", "Chris Kringle", "Fish Stick"... e Steve tentando corrigir. Esse foi um daqueles grandes momentos em que você vê dois grandes comediantes simplesmente se divertindo. Sendo crianças.

Essa foi sua piada favorita no filme?

PS: Ahhhh, é uma das minhas favoritas. Acho que tem tantas boas. Outra das minhas favoritas, que também é feita por Alan, eu não vou estragar, mas é mais adiante no filme. Mas tem várias boas.

Eu gostei muito do jeito que você fez aquelas cenas meio "Bournianas" com a câmera tremendo. Como você as fez, assistiu os filmes de Bourne pra pegar o jeito?

PS: Sim. Eu sou um estudante. Eu não fiz escola de cinema, mas adoro assistir filmes e é assim que eu aprendo. Eu acho que Paul Greengrass é um diretor maravilhoso. Nós não temos a pretensão de seu um Bourne, mas eu queria dar um gostinho daquilo, então eu falei com Dean Semler, nosso diretor de foografia, e discutimos os estilos que queríamos usar para o filme. E em vários momentos nós sabíamos que seria com a câmera na mão, bastante fluido, pra dar alguma tensão. Eu queria que eu todas as cenas de ação você se sentisse lá e não que a câmera estivesse colada a uma grua gigante e que tudo fosse suave. E ao fazer isso você chega a um estilo que se vê em filmes contemporâneos que às vezes é superutilizado. Às vezes eu acho que as pessoas sacodem a câmera a invés de buscar boa tensão ou boa história, então eu não queria incorrer nesse erro. Queria ter certeza que a câmera trabalharia a favor da história. Então aprendi assistindo a um monte de filmes bons - e mesmo a alguns ruins.

E você teve algum outro tipo de referência, fora Bourne e, claro, Agente 86?

PS: Ah sim. Eu busquei várias coisas, como Dr. Fantástico para a cena da Sala de Guerra e como ela foi filmada, ou alguns dos filmes de [James] Cameron e aos próprios filmes de James Bond, até porque Richard Kiel [o gigante Jaws dos filmes do espião] foi nossa inspiração para a contratação de Dalip Singh para Golpe Baixo (The Longest Yard) - e quando notei que Kiel tinha ido de Golpe Baixo [o original de 1974] para 007 - O Espião Que Me Amava (The Spy Who Loved Me, 1997), pensei: Por que não fazer o mesmo e trazer Dalip pra cá? Porque quando eu era criança eu me lembro de ver esses vilões gigantescos e ver como James Bond os enfrentava... Era tão impossível e ele obviamente ganhava. Eu adorava isso então pegamos emprestado essa idéia.

Partindo da hipótese que este filme será um sucesso, teremos seqüências? Veremos os dois agentes se casando e tendo gêmeos?

PS: Isso quem vai decidir é o público. Se eles gostarem e quiserem mais, teremos prazer em dar a eles. Mas essa história do casamento é interessante. Eu estava conversando com Mel Brooks e ele me contou que eles foram forçados pela emissora a casar Max e 99 e fazê-los terem filhos. Eles nunca quiseram isso e achavam que isso havia arruinado a tensão entre os dois. Então, minha intenção é seguir as pegadas de Mel e Buck Henry - e os trabalhos iniciais deles no programa eram mais sofisticados do que o restante da série, quando a emissora começou a interferir demais.

De quem foi a idéia do derivado, Bruce and Lloyd, e o que esse filme levará ao universo de Agente 86?

PS: A Warner Bros teve a idéia desse derivado e eles nos procuraram para discuti-la. Eles nos mostraram que era algo novo, interessante e inédito, já que se passava simultaneamente ao filme e sentimos que Masi e Nate conseguiriam levar essa história, algo na veia de Rosencrantz e Guildenstern [história criada por Shakespeare para detalhar dois dos personagens de Hamlet]. Então resolvemos servir de cobaia e dar uma chance à idéia.

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