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Os Outros | Crítica

Todo o seu início merece figurar em qualquer livro de referência sobre o cinema.

02.11.2001, às 01H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

A atual falta de talentos legítimos no cinema norte-americano provoca um fenômeno interessante: basta aparecer um filme instigante, original, e o seu diretor já passa a ser comparado com os maiores cineastas da história. Com "Os Outros" ("The Others", 2001), a sua terceira película, a primeira falada em inglês, o chileno Alejandro Amenábar ganhou visibilidade. Ganhou, também, o título de novo Alfred Hitchcock (1899-1980). Mas, se muitas vezes a prática de elevar novos talentos ao Olimpo se demonstra apressada, no caso de Amenábar há uma certa coerência. Claro, o chileno está longe dos mestres do suspense, como Hitchcock. Mas "Os Outros" não deixa de ser uma obra de sustos extremamente criativa, com direito a alguns momentos de antologia. Todo o seu início, a sua apresentação, por exemplo, merece figurar em qualquer livro de referência sobre o cinema.

Numa manhã de 1945, finalzinho da Segunda Guerra, num casarão fantasmagórico da ilha britânica de Jersey, Grace (Nicole Kidman) desperta de um pesadelo. Noites antes, os criados haviam fugido misteriosamente. Naquela manhã, Grace recebe a visita de novos candidatos ao emprego. Enquanto exibe os cômodos e detalha as regras, conta a história da família. A espera diária do retorno do marido, o combatente Charles (Christopher Eccleston), se mistura à rotina estafante de cuidados dispensados aos dois filhos, Anne (Alakina Mann) e Nicholas (James Bentley). Afetados por uma doença rara, os filhos de Grace não podem entrar em contato com a luz do sol. A norma primordial da casa: nenhuma porta se abre sem que a anterior tenha sido fechada à chave e sem que as cortinas estejam cerradas.

Não bastasse o clima soturno pontuado pela música sinistra, não bastasse a luminosidade negra e alaranjada da penumbra leve em contraste com a fisionomia singular de Nicole Kidman, Amenábar trata de adicionar toques sobrenaturais ao roteiro. Anne enxerga fantasmas, mas sua mãe, católica fervorosa, rejeita veementemente tal fato. Os relatos da menina, assim como a presença misteriosa dos novos criados, prova que a fé de Grace não explica certas realidades. Em muitos pontos, "Os Outros" lembra "O Sexto Sentido" ("The Sixth Sense", 1999), a estréia arrasadora do diretor indiano M. Night Shyamalan, igualmente muito festejado e comparado ao diretor inglês, de quem não esconde ser fã. O grande mérito de Amenábar, porém, é recriar com qualidade o estilo de suspense genuíno, aquele que consagrou Hitchcock. No lugar dos sustos fáceis, entra a sugestão, a insinuação. Os fantasmas de "Os Outros" não arrastam correntes ou perseguem mortais. Eles estão, sobretudo, na cabeça do espectador.

Nota do Crítico
Ótimo
Os Outros
The Others
Os Outros
The Others

Ano: 2001

País: EUA, França, Espanha

Classificação: 12 anos

Duração: 104 min

Direção: Alejandro Amenábar

Roteiro: Alejandro Amenábar

Elenco: Nicole Kidman, Christopher Eccleston, Alakina Mann, James Bentley, Eric Sykes, Elaine Cassidy, Renée Asherson, Keith Allen, Michelle Fairley, Alexander Vince, Gordon Reid, Ricardo López, Fionnula Flanagan

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