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Pina | Crítica

Wim Wenders recria, em 3D, expressividade da coreógrafa Pina Bausch

22.03.2012, às 19H00.
Atualizada em 17.11.2016, ÀS 07H07

Eles se conheceram em 1985. Depois de muito insistir, a namorada de Wim Wenders conseguiu convencê-lo a assistir um espetáculo de dança do Tanztheater Wuppertal. Foi o suficiente para o cineasta apaixonar-se por Pina Bausch e sua mistura de dança, teatro, arte e vida.

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Por mais de 20 anos, Wenders e a coreógrafa planejaram levar este mesmo encanto ao cinema, em um filme que transmitisse toda a intensidade da companhia de dança contemporânea. Dois dias antes de começaram as filmagens do documentário em 3D, em 30 de junho de 2009, veio a notícia: aos 68 anos, vítima de um câncer fulminante, falecia a bailarina. Passado o luto, Wenders decidiu seguir com o projeto. Agora não mais como um documentário, mas como um tributo. Um filme para Pina, como descrito nos créditos iniciais. O diretor então gravou os espetáculos A Sagração da Primavera, Vollmond e Café Mülle, mesmo sem saber que forma daria ao filme, apenas buscando registrar o toque da coreógrafa ainda fresco nos movimentos de seus dançarinos.

O longo período entre a ideia e concretização do filme não foi em vão. Segundo Wenders, não havia como catalisar a expressividade do trabalho da bailarina. A resposta veio com o boom da tecnologia 3D, em 2008. Aonde proclamava-se futuro da animação digital e do cinema comercial, o diretor viu - assim como Werner Herzog em A Caverna dos Sonhos Perdidos - o meio pelo qual transformaria o cinema em uma experiência sensorial, onde a tela ganharia textura e aproximaria o filme do espectador. O 3D de Pina é elegante. O movimento dos bailarinos ganha profundidade, volume, leveza. Na sequência de A Sagração a Primavera, por exemplo, releitura para o clássico balé sobre uma jovem que deve ser sacrificada como oferenda ao deus da primavera, a câmera diagonal coloca o espectador em meio às idas e vinda dos bailarinos, no fluxo da composição homônima de Stravinsky. O palco coberto de terra torna-se palpável. Agitação e movimentos bruscos refletem a dor e angústia da jovem sacrificada. Um momento arrebatador.

Foi apenas na segunda parte das filmagens, entre abril e junho de 2010, que Wenders definiu a (não) estrutura da sua homenagem. Como em um fluxo de consciência, surgem os espetáculos consagrados e os bailarinos do Tanztheater Wuppertal Pina Bausch. Não existem entrevistas ou depoimentos diretos. Os únicos testemunhos surgem em off, sobre imagens dos bailarinos posando para um retrato, onde Wenders busca percorrer os espaços das suas mentes quando em silêncio, como se estivessem pensando em Pina. Essas reflexões sobre o trabalho e vida da coreógrafa vêm acompanhadas, é claro, de dança. Em contraste com os espetáculos apresentados nos palcos, tributos individuais invadem os espaços urbanos - ruas, parques, espaços de concreto, de vidro, escadas rolantes, um trem suspenso, um túnel (decorado com os grafites dos Gêmeos) -, como o da brasileira Regina Advento, há 20 anos na companhia de Bausch, que sobre um gramado salta em cadeiras e oferece a leveza do movimento a sua mentora.

Os "pensamentos" também são um retrato da pluralidade da companhia, oferecidos no idioma de origem dos seus integrantes: português, alemão, francês, japonês... Seus diferentes traços aparecem visivelmente em Kontakthof, coreografia bem-humorada e de movimentos minimalistas que opõe homens e mulheres, jovens e velhos, ao mesmo tempo que cria harmonia entre as etnias e idades de seus bailarinos. Plural é também a trilha que embala as danças, passando de Stravinsky ao "Leãozinho" de Caetano Veloso. Tudo reflexo da criatividade ilimitada de Pina, que transformava a cenografia - feita de terra, água, mesas e cadeiras - em parte atuante do espetáculo.

Para quem em vida foi imortalizada por Federico Fellini, como a princesa Lherimia de E La Nave Va, e por Pedro Almodóvar (a coreografia de Café Mülle é apresentado já nas primeiras cenas de Fale com Ela), receber uma homenagem póstuma de um cineasta como Wenders é apenas coerente. Muito além do seu papel como diretor, contudo, Wenders constrói o filme com respeito de amigo e admirador, perpetuando a força e os movimentos da coreógrafa, levando a dança, o teatro, a arte e a vida de Pina ao mundo.

Pina | Cinemas e Horários

Nota do Crítico
Ótimo
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Ano: 2010

País: Alemanha, França

Classificação: 18 anos

Duração: 106 min

Direção: Wim Wenders

Elenco: Regina Advento, Malou Airaudo, Ruth Amarante, Pina Bausch, Jorge Puerta, Mechthild Grossmann

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