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Diferente da ótima safra de filmes baseados em HQs, as adaptações dos videogames não conseguem decolar. Não era falta de dinheiro e agora, com a estréia de Terror em Silent Hill (Silent Hill, 2006), prova-se que também não é falta de capacidade das pessoas envolvidas, afinal Roger Avary é roteirista de Regras da atração (2002) e Pulp Fiction (1994 - ao lado de Quentin Tarantino), e Christophe Gans é o diretor de Pacto dos Lobos (2001).
Mais uma vez, o que atrapalha é o roteiro. Quando se está jogando, o que importa é a diversão imediata, que exige reflexos apurados e não deixa espaço para muita reflexão. No caso da famosa série de terror criada pela Konami, o importante é destruir os monstros deformados sempre que der e fugir o mais rápido possível quando não houver outra alternativa. No cinema, isso não basta. É preciso provar ao espectador que cada elemento mostrado em cena tem um motivo para estar ali. É o tal do mise en scène e sem essa coerência não há como contar uma boa história.
Quando o filme começa, Rose (Radha Mitchell) e Christopher (Sean Bean), os pais de Sharon (Jodelle Ferland), estão gritando e correndo atrás da menina, que perambula pelas redondezas de sua casa. Ao ver que ela está prestes a se jogar de um penhasco, a mãe consegue salvá-la. Contrariando o que aprendemos nos desenhos animados do Pica-Pau, ela faz de tudo para acordar a menina, que é sonâmbula e fica repetindo as palavras Silent Hill. Silent Hill.
Alguns minutos depois, descobrimos que a garota é adotada e que nasceu na tal Silent Hill, que hoje virou uma cidade fantasma. Mais uma vez desafiando o bom senso, é pra lá que as duas vão, em busca de respostas. Começa então uma sucessão de cenas tão previsíveis que dá pra fechar o olho e narrar o que está acontecendo só pelo som: Hmmm, perseguição em alta velocidade quer dizer que um vulto vai aparecer na estrada e o carro vai bater. BUUMMM! Quando a mãe acordar a sua filha não estará mais lá. O que é isso agora? Uma criança com voz tenebrosa? Pode apostar que é uma menina com longos cabelos negros cobrindo parte do seu rosto. Alguém ainda se impressiona com isso?
A parte boa é que deste momento em diante, o filme mergulha de cabeça no universo visual do game, com cenários nebulosos, monstros sem rosto, muitas grades, corredores claustrofóbicos, etc. Tudo muito lindo, conseqüência do ótimo trabalho feito pelo departamento de arte, que soube usar muito bem os desenhos criados pela Konami.
A história, porém, passa a ser um desinteressante jogo de caça ao tesouro. Rose vai seguindo pistas deixadas nos desenhos feitos por sua filha enquanto tenta se livrar dos tais monstros que surgem após um toque de recolher que é sempre seguido por um imenso breu.
A prova final do questionável desempenho são as gargalhadas que surgem na platéia. Não são os risos nervosos que se ouve em O Albergue (2005), mas sim expressões de deboche, destas que deveriam botar medo em qualquer cineasta empenhado em fazer um filme de terror.
Ano: 2006
País: EUA
Classificação: 18 anos
Duração: 127 min
Direção: Christophe Gans
Roteiro: Roger Avary
Elenco: Radha Mitchell, Sean Bean, Laurie Holden, Deborah Kara Unger, Kim Coates, Tanya Allen, Alice Krige, Jodelle Ferland, Colleen Williams, Ron Gabriel, Derek Ritschel, Eve Crawford, Amanda Hiebert, Nicky Guadagni, Roberto Campanella, Maxine Dumont