Era grande a expectativa em torno de The Science of Sleep (2006), novo trabalho realizado por Michel Gondry, o mesmo diretor de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança. Infelizmente, desta vez o cineasta não conseguiu repetir a fórmula de sucesso que equilibra sonho e realidade. Ambos os filmes flertam com o imaginário do protagonista, mas tudo que parecia mágico e divertido se transformou em pretensão.
Segundo a trama, Stephane Miroux vê seus sonhos invadirem constantemente a vida real. Quando dorme, se transforma no carismático apresentador do programa "Stephane TV", explicando sua "ciência dos sonhos" na frente das câmeras de papelão. Na vida real, tem um trabalho chato numa editora de calendários em Paris. Flerta com a vizinha Stephanie, mas a moça não está disposta a encarar alguém como ele. Guy, colega de trabalho de Stephane, até tenta ajudá-lo na conquista, mas nada funciona. Incapaz de chegar ao coração de Stephanie na vida real, o jovem procurará as respostas em seus sonhos.
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Com esse argumento, percebe-se que o objetivo de Gondry era realizar uma combinação de conto de fadas com comédia romântica. Ele não consegue uma coisa, nem outra. O que surge na tela é uma trama confusa com uma ambição de parecer intelectual. As seqüências de sonho de Stephane parecem ter como único propósito demonstrar a habilidade técnica de Gondry. São pequenos pedaços desconexos que não pertencem a um todo. Em certos momentos soam canhestras e cansam pela falta de empatia. A confusão fica completa quando Gondry aproveita "A Interpretação dos Sonhos", de Sigmund Freud, para criar cenas lúdicas sobre o que acontece na mente de Stephane. Ele mistura inconsciente, ato falho e subconsciente de forma equivocada, se apropriando erroneamente dos conceitos do psicanalista para justificar suas intenções. Cineastas como Terry Gilliam e Tim Burton beberam dessa fonte com mais respeito e dignidade.
Por outro lado, a trama funciona quando Gondry sustenta suas idéias na narrativa convencional. Nesses momentos, o filme ganha em dinamismo e humor, com diálogos afiados e importante significado na dramaturgia. Pena que o elenco não ajude. Gael García Bernal e Charlotte Gainsbourg não possuem a química necessária para convencer sobre seus sentimentos e aspirações. Parecem caricaturas de pessoas do mundo real.
Já os efeitos especiais são interessantes. Com o uso de animação stop motion, Gondry cria um universo interessante visualmente. São cores e objetos cênicos selecionados, que completam esteticamente uma proposta pobre de sentido. Um claro caso de belas imagens agrupadas com "brilho" próprio, mas que não pertencem a um contexto. Fica claro que faltou a mão segura no roteiro de Charlie Kaufman, co-escritor de Brilho eterno com Gondry.