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Crítica

Therese D. | Crítica

Último filme de Claude Miller define a indefinição

04.04.2013, às 19H52.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 01H00

Em 1962, o vencedor do Nobel de literatura François Mauriac colaborou com o diretor Georges Franju para levar ao cinema seu romance Thérèse Desqueyroux. O filme (veja aqui), estrelado por Emmanuelle Riva e Philippe Noiret, segue a mesma estrutura do livro, partindo da absolvição da protagonista da tentativa de envenenar seu marido. No caminho para casa, flashbacks tentam responder o que transformara aquela mulher rica e inteligente em uma assassina – “Onde nossas ações realmente começam?”.

Therese D

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Em seu último filme (o cineasta morreu durante a pós-produção), Therese D.Claude Miller optou por subverter o enredo não linear, contando a história de Thérèse sequencialmente, sem digressões.  A escolha, ao invés de criar uma resposta direta àquela primeira pergunta (deixada em aberto tanto no livro, quanto na primeira adaptação), torna a personagem-título ainda mais ambígua. Thérèse é imprecisa. Tão sábia quanto tola, com um desejo simultâneo por liberdade e repressão.

Essa indefinição da personagem torna-se crível pela atuação de Audrey Tautou. Sua Thérèse é sempre distante, como se flutuasse entre as coisas da vida – o amor, o casamento, o desejo, a família, a independência. Só há emoção na adolescência, nas suas brincadeiras com Anne (irmã de Bernard, seu futuro marido) - um amor apenas sentido, mas jamais racionalizado, pelas personagens – e no cuidado com sua tia Clara.

A narrativa linear, escrita por Miller e Natalie Carter, torna o filme cansativo. Porém, sua sobreposição à fotografia precisa de Gérard de Battista é o que vai, gradualmente, construindo o mundo da personagem. Entre as grandes propriedades de pinheiros no sudoeste da França, se constitui a indefinição de Thérèse. De um lado vê a enseada, onde um barco de vela vermelha, pilotado por um marinheiro português, corta a paisagem e parece cantar a liberdade. De outro, vastos hectares de preciosa madeira, frios e secos, símbolos das suas obrigações com a família, o dinheiro. “Preciso me casar pois tenho muitas ideias”, explica Thérèse.

Em seu último trabalho, Miller disseca o romance de Mauriac para refletir sobre a vida em si: se nossas atitudes, boas ou más, realmente nos levam a algum lugar. Sua conclusão é hesitante como sua protagonista, o que torna Therese D. ainda mais interessante.

Nota do Crítico
Bom
Therese D.
Thérèse Desqueyroux
Therese D.
Thérèse Desqueyroux

Ano: 2012

País: França

Classificação: 14 anos

Duração: 110 min

Direção: Claude Miller

Roteiro: François Mauriac, Claude Miller, Natalie Carter

Elenco: Audrey Tautou, Gilles Lellouche, Anaïs Demoustier, Stanley Weber, Yves Jacques, Francis Perrin, Isabelle Sadoyan, Catherine Arditi, Jérôme Thibault

Onde assistir:
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