Reflita comigo... se aqui no Brasil uma pessoa armada invadisse uma propriedade privada, fazendo reféns e exigindo mudanças nas leis, como você a classificaria? Como criminosa, não? Então... nos Estados Unidos, pelo menos na moral distorcida hollywoodiana, tal pessoa seria considerada um herói.
Em Um Ato de Coragem (John Q, 2002), o vencedor do Oscar Denzel Washington interpreta John Quincy Archibald, um operário, pai de família enfrentando sérios problemas financeiros. Apesar dos infortúnios, John é tão bem-intencionado e bondoso que sua esposa, Denise (Kimberly Elise), não consegue brigar com ele, nem mesmo quando seu carro é levado pela financiadora.
A maior crise da vida de John começa quando ele está torcendo pelo seu filho Mike (Daniel E. Smith), num jogo de baseball infantil. O pai assiste desesperado ao menino desmaiar no campo, aparentemente, sem motivo. No hospital, a família recebe a notícia de que o garoto tem um sério problema de coração e que precisa de um transplante urgente. Caso contrário, morrerá em algumas semanas. O problema é que o seguro de John não cobre uma operação dessa magnitude, culpa da redução de sua jornada de trabalho meses antes. O custo da cirurgia, segundo a diretor da Hospital, Rebecca Payne (Anne Heche), chega a 250 mil dólares e ela nada pode fazer a respeito.
Claro que John se recusa a aceitar a morte do filho e tenta desesperadamente achar uma saída para a situação. Vende todas as suas parcas posses, pede ajuda aos órgãos do governo pertinentes e conta com a colaboração de amigos. Mesmo assim, os esforços provam-se inúteis com a notícia de que Mike terá alta no dia seguinte. Faça alguma coisa, brada sua esposa ao telefone. E ele faz.
O Ato de Coragem do infeliz título brasileiro (Desde quando apontar uma arma a alguém é sinônimo de coragem?) é a decisão que John toma de entrar armado no hospital, dominando a ala de emergência, fazendo reféns e trancando todas as portas. Em poucas horas, o cerco da polícia e o circo da mídia estão ao redor do local, junto a centenas de manifestantes.
O resto da história é absolutamente previsível. O próprio filme dá as dicas do que vai acontecer durante algumas cenas costuradas aleatoriamente. A única dúvida que resta é se o diretor Nick Cassavetes (Loucos de amor) terá um ato de coragem e terminará o filme de uma maneira que não ofenda a inteligência dos expectadores.
Infelizmente, a solução mais covarde é aplicada e o filme acaba como tantas outras produções cinematográficas... digno, no máximo, de um aluguel em vídeo ou de uma quarta-feira com meia-entrada. Assim, você pode checar a interpretação de Denzel, um ator capaz de tornar real qualquer personagem, por mais fraca que seja.
Ano: 2002
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 118 min
Direção: Nick Cassavetes
Elenco: Denzel Washington, Robert Duvall, Anne Heche, Kimberly Elise, Daniel E. Smith, Larissa Laskin, James Woods, Ethan Suplee, Shawn Hatosy, Heather Wahlquist, Ray Liotta, Eddie Griffin, Dina Waters, Shera Danese