Desenhos animados e bichos são erroneamente associados apenas ao público infantil, convenção criada por algum gênio de marketing e eternizada em várias propagandas e filmes. Por ser baseado em uma animação e ter um cachorro como protagonista, Vira-Lata (Underdog, 2007) cai no mesmo clichê e é totalmente voltado às crianças. É um "filme-família", para usar a expressão que está tão na moda em Hollywood. A idéia é que, na obrigação de levar os pequenos ao cinema, os pais também consigam se divertir. Algumas falas mais afiadas podem arrancar um ou outro riso, mas nada perto do efeito que o filme provoca nas crianças , que se empolgam com as superbabadas, os vôos desequilibrados e o humor físico.
Tomando como base o desenho animado produzido durante os anos 60, o filme começa com um beagle desajeitado que acaba envergonhando o departamento de polícia da cidade. Na rua, desolado, ele é facilmente capturado e levado para um laboratório, onde servirá de cobaia para um cientista maluco. No meio das experiências, ele consegue escapar e começa a fazer a maior bagunça no lugar. Algumas explosões químicas depois, ele ganha poderes como superforça, capacidade de vôo, velocidade acima da média e a capacidade de falar como um humano.
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Ao fugir dos vilões, ele acaba se salvando ao encontrar o vigia noturno Dan Under (James Belushi), que o leva para casa. Recém enviuvado, ele vem tendo problemas com seu filho (Alex Neuberger), que anda deprimido e logo rejeita o animal, já rebatizado de Engraxate. A relação dos dois muda de rumo quando ele descobre no pequeno cão, uma "pessoa" com quem conversar e que ainda por cima tem superpoderes.
As referências aos grandes heróis dos quadrinhos são muitas. Numa cena, parecia até que o menino ia falar para o seu novo melhor amigo que "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". Não precisou. Em poucos segundos lá estava ele salvando o dia. Os atos heróicos chamam a atenção do cientista maluco, que estava ainda mais maluco por saber que seus experimentos tinham funcionado, mas estavam longe do seu alcance. Começam, então, os planos para capturar o animal, que eventualmente dão certo e começa levam ao clímax do filme, com direito a pílulas azuis e mais referências ao desenho.
A própria idéia de um filme do Vira-Lata já era estranha por si só. Durante a minha infância, quando o desenho animado era exibido na TV, lembro que nunca foi o meu preferido, mas mesmo assim acabava assistindo de vez em quando. Era bizarro demais, com aquele vilão que dava ordens falando "Simon diz...", uma cadela-repórter que cantava "Onde, onde será que está?" em momentos de perigo e um super-herói que falava em rimas e era mais atabanado que rabo de cachorro feliz. Mas se todas as imagens e trailers deste longa provavam que o fracasso era iminente, e os críticos foram quase unânimes em chutar o cachorro, que ainda não estava morto. Vira-Lata está longe de ser uma obra-prima, mas perto do cenário que era pintado, não ficou tão ruim assim - e se puder, prefira as cópias com o som original, que têm a voz do supercão dubladas por Jason Lee (My Name is Earl).