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Cultura Pop no Brasil | Paul Verhoven no Rio e o trailer de #garotas - O Filme

Diretor pode vir ao país no Festival de Cinema da cidade no ano que vem

28.10.2015, às 17H18.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 17H02

Verhoeven vem aí

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Ok, ainda é cedo para anunciar qualquer atração do Festival do Rio 2016, que só rola em outubro do ano que vem, mas esta notícia mexe tanto com os miocárdios cinéfilos que merece a afobação: o holandês Paul Verhoeven vai ganhar retrospectiva e poderá vir ao Brasil. Realizador de cults comoRoboCop – O Policial do Futuro (1987) e Instinto Salvagem (1992), o diretor prepara sua volta às telas para 2016 com o thriller Elle, no qual a francesaIsabelle Huppert embarca num jogo de gato e rato com um psicopata.

Meninas que só querem se divertir... para o deleite do nosso olhar

Sabe aquele verso cantado pela Cindy Lauper nos anos 1980, Girls just wanna have fun? É mais ou menos esse o princípio que move BethMilena eCarina, protagonistas de #garotas – O Filme, só que numa batida menos Ploc, mais inflamada e narrada num ritmo de vertigem como raras vezes o cinema brasileiro já retratou a juventude. É papo de balanço geracional o que se verá na tela, a partir de 12 de novembro, quando entra em cartaz a produção pilotada pelo estreante em longas Alex Medeiros. É um papo de amadurecimento e também de curtição a mil, no risco e na azaração. Mas, por trás do retrato sobre o companheirismo entre três jovens, há um perfume de thriller, ora engraçado, ora safadinho, algumas vezes amargo, com peito e raça de evocar cults do cinema como Depois de horas (1985), de Martin Scorsese, num enredo onde a fofura da amizade vai se diluindo numa montanha-russa de descobertas, perigo e despertar.

“Não gosto daqueles filmes que lançam um olhar saudosista e melancólico sobre essa fase da vida, a juventude, que acaba estabelecendo mais diálogo com pessoas mais velhas, talvez baseado, justamente, numa frustração destas pessoas com o que se passa no presente delas. Não acho que a maioria dos jovens fique pensando: ‘Poxa, estou vivendo uma fase incrível, repleta de sonhos e possibilidades...’ Acho que a maioria dos jovens pensa: ‘Crescer é f....’. Usei até essa frase no filme”, diz Alex Medeiros, diretor-artístico na Rede Globo, onde é responsável por websséries originais. “Eu me esforcei para tentar imprimir esta relevância, independentemente do meio social em que vivem as personagens, tanto que fiz a primeira sessão pública em Guadalupe, um bairro menos abastado do Rio de Janeiro. Os jovens de lá me deram uma resposta muito intensa e positiva, inclusive valorizando, até mais do que eu esperava, certos detalhes da história, como o envolvimento com as drogas e a reação da família”.

Produzida pela Accorde Filmes, a mesma de títulos premiados como Em Teu Nome (2009) e A Oeste do Fim do Mundo (2013), #garotas – O Filme abre seu dique de adrenalina com o reencontro das universitárias Milena (Barbara França) e Carina (Jeyce Valente, um vulcão em erupção à cada cena) comBeth (Giovana Echeverria), amiga do peito de ambas que foi viver em Nova York e resolveu deixar lá sua estrada de histerias noite adentro. Mas Bethregressa véspera do Ano Novo, época na qual os hormônios de suas companheiras de balada estão na fervura máxima. Incapazes de lidar com a fase de caretice da colega, Milena Carina vão levar o agito até ela, levando uma multidão à sua casa. Mas a celebração detona um processo desenhado por Medeiros (com um domínio preciso de ritmo e com molho nos enquadramentos) nas entrelinhas da reviravolta: há comédia, há dor, mas também há suspense. Muita riso vai se rir, mas muita roupa suja vai ser lavada aos nossos olhos.   

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“Tentei usar essa ‘fatia’ de meninas universitárias de classe média alta, com uma visão de mundo libertária, para representar temas universais e atemporais: rito de passagem, conflito, conciliação, consequência... Não tive uma preocupação tão direta com um retrato marcadamente atual, pois, como roteirista, eu sou um observador, e há aspectos do filme que são representações especificamente contemporâneas de comportamento. Por exemplo, há uma visão de sexualidade com menos rótulos e compromissos. Fiz o filme porque tenho algo a dizer: ‘Ninguém tem o direito de te dizer o que fazer com a sua vida. Mais ainda, ninguém tem o direito de te julgar pelo modo que você fala, se veste, ou pelo que faz com seu corpo.’ Sei que esses lemas têm uma relevância peculiar no contexto de polarização moral em que vivemos hoje. E, como realizador, tenho interesse pelo futuro”, explica o cineasta catarinense, que já trabalhou na Disney, cuidando de programação, aquisição e análise de roteiros para a América Latina.

Com fotografia de Alexandre Berra, #garotas – O Filme foi edificado a partir de uma preocupação central do diretor: gerar química entre as atrizes e produzir naturalismo para dar viço e espontaneidade às atuações. “Isto foi alcançado por meio de muitos ensaios e improvisos, até chegarmos a um ponto em que elas tinham um entendimento das personagens muito maior que o meu. Discutimos exaustivamente, inclusive no próprio set, quem era cada personagem por dentro e como ela se expressava. Foi por meio deste processo que refinamos a ideia de que cada personagem tivesse uma maneira muito própria de falar. Beth emite suas opiniões de forma muito direta, quase não usa frases de duplo sentido, em contraste com a forma como evita falar de seus sentimentos. Milena fala muitos palavrões, quase como vírgulas, pois está sempre negando as percepções sobre sua aparência mais delicada. Carina utiliza muita ironia e construções de frases propositalmente artificiais, porque gosta de demonstrar sua inteligência como forma de lidar com uma insegurança interior” explica MedeirosOs diálogos têm frases e expressões que são típicas da atualidade, muitas delas trazidas pelo elenco durante os ensaios. Outras expressões são típicas do Rio e acho que podem reverberar com significados diferentes em outras regiões. E há expressões que foram criadas por mim, sem relação direta com algo que eu já tenha ouvido. No todo, procurei criar um glossário que fosse próprio do universo de #garotas”.

Esperado com curiosidade pelo circuito, pela promessa de desbravar o microcosmo dos jovens adultos do Brasil, o longa de Medeiros prepara sua chegada às telonas propondo um diálogo com a tradição audiovisual brasileira na representação de adolescentes e da turma dos 20 e poucos anos.  

“Estive envolvido com todas as temporadas de Malhação desde 2008, como responsável pela equipe transmídia da Rede Globo. O programa fala de jovens há 20 anos e representa um legado importante não somente em termos das narrativas que construiu, mas dos talentos que revelou, como é o caso da nossa protagonista. Mas estou retratando uma faixa etária mais avançada, na casa dos 20 e poucos anos e, no cinema, tenho uma liberdade muito maior para tratar de temas como sexo e drogas. Alguém me disse que #garotas é uma espécie de “pós-Malhação from Hell”...”, diz Medeiros. “No cinema, temos filmes importantes sobre jovens feitos no Brasil. Vou destacar dois, que me agradam: As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodansky, e Desenrola, de Rosane Svartman. Para mim, são complementares. O primeiro é mais dramático, centrado num menino e passado em São Paulo. O segundo é mais engraçado, centrado numa menina e passado no Rio. Os dois têm vários temas em comum, mas tratados de forma bem diferente. Mas eu procurei não seguir nenhum caminho que eu já tivesse visto. Para a estrutura narrativa, me baseei no clássico modelo de ‘24 horas que mudam sua vida’. Ele permeia muitos filmes americanos interessantes, desde Loucuras de Verão, de George Lucas, até os filmes produzidos por Judd Apatow, como Superbad – É Hoje. Também posso citar como referências filmes como À Prova de Morte, de Tarantino; e Trainspotting, de Danny Boyle. Uma das características marcantes do#garotas é a presença de um humor rasgado, sem filtros. E quis usar esta mesma abordagem sem filtros para tratar dos conflitos característicos com as amigas e a família”.

Confira sem moderação, #garotas assegura boas gargalhadas, mas vai além delas.

Nas trilhas de Toscana

Como seguem abertas até 3 de novembro as inscrições para a 19ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, agendado de 22 a 30 de janeiro de 2016, é difícil prever o que já esteja assegurado para o evento, responsável por abrir o circuito brasileiro de festivais. Mas é forte a especulação acerca da presença de Deserto, o primeiro longa-metragem dirigido pelo ator Guilherme Weber, com base no romance Santa Maria do Circo, do escritor mexicano David Toscana. Produção da Bananeira Filmes, o projeto segue os passos (e os percalços) de uma trupe de artistas que viaja o país Sertão adentro com um espetáculo.  A descoberta de uma cidade abandonada vai mudar a rotina do grupo, que, cansado de uma vida errante, decide fundar ali uma nova sociedade, revendo os valores e mesmo as identidades que possuíam até então. Mestre absoluto da arte de atuar, Lima Duarteestá no elenco, que reúne ainda Everaldo Pontes, Cida Moreira, Fernando Teixeira, Márcio Rosário, Claudio Castro, Magali Biff e Pietra Pan.  

“O livro do Toscana foi um incrível ponto de partida. Mas o roteiro traçou rumos originais, e não foi só pela transposição da paisagem do deserto mexicano para o semiárido nordestino - o símbolo mais renitente para a arte brasileira - mas pela criação de novos personagens e rumos” adianta Weber, que contou com a escritora Ana Paula Maia na confecção do roteiroO universo do circo foi remodelado para uma trupe de teatro, porque eu também queria um olhar sobre este ofício tão curioso que é o do ator, criaturas que vivem emprestando seu corpo para o verbo, construindo edifícios de mentira com os tijolos da verdade. Tenho um olhar bem romântico sobre o ofício, apesar de os personagens do filme serem bem cruéis. Acho que pesa o ator que eu sou nesta homenagem aos atores”.

Betti nas coxias de Henry James

Há dez anos, o ator Paulo Betti fez sua estreia como diretor de longas-metragens ao lançar Cafundó, com Lázaro Ramos, pelo qual ganhou prêmios no Brasil e elogios no exterior. Uma década depois, ele retoma a experiência como realizador à frente de A Fera na Selva, uma adaptação de uma novela publicada em 1903 pelo escritor americano Henry James (1843-1916). Betti e sua ex-mulher, a atriz Eliane Giardini, assumem os papéis centrais: ele, João, ela, Maria, que se reencontram para passar a limpo tensões do passado. Ele já havia contado essa mesma história nos anos 1990, em forma de peça. Orçado em R$, 1,4 milhão, o longa-metragem baseado na Fera... já está rodado, tendo sido filmado em Sorocaba (SP), e entra em montagem na semana que vem, para estrear em 2016.    

“Acabei uma novela, Império, com um personagem forte, o Téo Pereira, e, em seguida, mergulhei na montagem de Autobiografia Auto-risada, no teatro. Fiquei três meses fazendo a peça e parti pra filmar. Foi um mergulho no meu passado, nos cenários de minha vida”, diz Betti. “Eu filmei em Sorocaba e procurei aproximar o personagem de mim, de meus lugares prediletos. Isso calibrou muito o filme ainda mais com a participação de figurantes que eram meus irmãos, minha família, meus amigos. Na preparação do filme, fizemos um cineclube projetando obras de referência e outros filmes baseados na literatura de Henry James. Mais de 2 mil pessoas frequentaram o cineclube no Sesi de Sorocaba: logo, a cidade toda se envolveu. Todos leram a novela que a produção enviava por PDF e, também, o roteiro do filme. Era uma figuração artisitica de altissimo nivel. O diretor de fotografia foi Lauro Escorel me ajudou muito a dirigir. A atriz Eliane Giardini também. O envolvimento foi diferente, especial”.

Feiúra que dá riso

Um dos diretores do seriado Romance Policial - Espinosa, do canal GNT, o carioca Vicente Amorim vai levar às telas uma versão do seriado A Vida Sexual da Mulher Feia, um sucesso de público e crítica baseado no livro homônimo de Claudia Tajes e encenado nos palcos por Otávio Müller. O ator também vai assumir o papel central no filme, cujo roteiro saiu das mãos de Cláudia Gomes e de Julia Spadaccini.

Jatahy n’outros tempos

Referência no quesito experimentação de linguagem nos palcos brasileiros, aclamada também no exterior, a diretora teatral Christiane Jatahy – hoje às voltas com a estreia do espetáculo A Floresta Que Anda, neste sábado (31 de outubro) no Espaço Sesc, no Rio – prepara seu segundo longa-metragem como cineasta. Ela está trabalhando no roteiro de Os Outros Tempos, que será estrelado pela atriz Mariana Lima. A trama segue os passos de uma mulher em um hotel. Jatahy despertou a atenção do cinema ao lançar o drama experimental A Falta Que Nos Move, em 2009.  

Animando o planeta

Uma lista recente do site Awards Daily, encarado como um dos principais termômetros para os indicados ao Oscar, incluiu o filme brasileiro O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, como um possível concorrente à estatueta na categoria filme estrangeiro. O desempenho avassalador do longa-metragem em solo francês, onde ele conquistou o prêmio máximo do Festival de Annecy, em 2014, ajudou a projetá-lo pelo planeta afora. Mas Abreunão para quieto:

“Estou na pré-produção de meu novo longa, Viajantes do Bosque Encantado, sobre duas crianças-bicho perdidas em uma floresta onde acontecem coisas estranhas relacionadas com OVNIS, guerras e seres encantados. Tem outras coisas acontecendo, como a série Vivi Viravento, em produção pela Mixer, e a série de O Menino e o Mundo, em desenvolvimento na França, por um notório produtor de animação de lá”, diz o diretor.

CURTA ESSA

Uma Família Ilustre será um dos destaques da homenagem que o festival Curta Cinema presta à produtora e documentarista Beth Formaggini em sua 25ª edição, que vai de 4 a 11 de novembro no Rio de Janeiro. Sob a direção de Ailton Franco Jr., a mostra congrega cerca de 280 títulos (nacionais e estrangeiros) distribuídos em projeções no Cine Odeon, no Centro Cultural da Justiça Federal, no Cine Arte UFF, no Cinemaison, na Casa Nuvem e no CineCarioca Méier. Da obra de Beth, serão exibidos ainda Nós somos um poema (2007), codirigido por Sergio Sbraggia; Angeli 24h (2010) e o tocanteCasimiro, que ela produziu em 2008 para dois mestres já finados: Mario Carneiro e Paulo César Saraceni.  

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