Colunistas

Artigo

Gay Nerd | A importância do Orgulho LGBTI

Por que ser um LGBTI orgulhoso ajuda a construir um mundo melhor

04.08.2016, às 14H23.

Segundo o dicionário Michaelis, orgulho é um "sentimento de respeito que alguém sente por si mesmo". É a partir desta definição que brota o sentido dos movimentos de Orgulho LGBTI ao redor do mundo.

None

O início da história do movimento LGBTI como conhecemos hoje está associado a 28 de junho de 1969, na ocasião da famosa Rebelião de Stonewall em Nova York. Naquela época era comum que a polícia invadisse bares e lugares LGBTI para prender as pessoas, afinal de contas o simples fato de fazer parte desta comunidade era uma afronta à lei vigente. A homossexualidade, por exemplo, era considerada um desvio psiquiátrico.

Em 28 de junho, LGBTIs revoltados e cansados de tamanha repressão resolveram revidar. O bar Stonewall Inn virou palco de guerra quando mulheres trans negras iniciaram o motim para acabar com a violência gratuita que toda a comunidade arco-íris enfrentava. A Rebelião de Stonewall é considerada o marco (início) da luta por direitos de LGBTIs e é por isso que o mês de junho é o mês do orgulho em todo o mundo. É nesta época que vamos às ruas celebrar o orgulho de sermos quem somos e ainda lembrar a sociedade que estamos aqui, lutando por nossos direitos.

Mas Isaque, por que é importante celebrarmos o Orgulho LGBTI?

Há mais de 40 anos lutamos por direitos iguais e colocamos a voz no trombone para mostrar que existimos e não voltaremos a viver em Nárnia (a.k.a. no armário). Esta luta está inteiramente conectada com a representatividade (na cultura pop e na vida real) que discutimos, aqui no Omelete, a cada Gay Nerd. O mundo real é um lugar tão diverso e rico que podemos exigir esta pluralidade nos produtos de entretenimento que tanto amamos e investimos precioso dinheirinho.

Portanto, celebrar o Orgulho LGBTI é mostrar que estamos felizes e orgulhosxs de sermos quem somos. É mostrar que estamos presentes fazendo valer nossas vontades e direitos. É conquistar, passo a passo, um espaço antes negado a cada umx de nós. É fazer ouvir as nossas vozes.

O massacre de Orlando no dia 12 de junho é mais um marco, desta vez triste, na história da comunidade LGBTI. Um ataque desta natureza deixa explícito o quanto ainda existe ódio e intolerância contra cada um de nós. Uma tragédia que me fez chorar desesperadamente pois cada uma daquelas vítimas também sou eu, também é você, também somos nós. Lutamos a mesma luta por um lugar ao sol, por aceitação, por viver harmoniosamente em um mundo que não aceita pessoas que são quem são. Uma tragédia desta proporção em pleno mês do Orgulho é um ataque a todxs nós.

É depois de um episódio destes que os motivos para continuar a luta se intensificam. Precisamos continuar nos fazendo presentes para acabar com este tipo de violência e celebrar o amor, a empatia e a tolerância.

A luta do Orgulho LGBTI não é por privilégios, como os movimentos conservadores acreditam. Queremos direitos iguais perante a lei, queremos não ter medo de sair de casa e não voltar, queremos ser bem representadxs e inclusxs em todos os setores da sociedade. Seja no game, no livro, na série de tv, no cinema ou nos lugares em que trabalhamos. É por isso que é importante ir à Parada do Orgulho LGBTI todos os anos. É por isso que um espaço como este, dentro do maior veículo de cultura pop do Brasil, é tão importante. É por isso também que assumir a própria sexualidade ou identidade de gênero é tão importante.

No momento em que vivemos, o grande ponto positivo é que nossas vozes estão sendo ouvidas e estamos avançando em diversos aspectos da causa LGBTI. O Papa Francisco admitiu recentemente que a Igreja Católica deve um pedido de desculpas às pessoas (LGBTIs e outras minorias) que massacrou ao longo de sua história. O Stonewall Inn, e os arredores do bar em Nova York, foram transformados em Monumento Nacional dos EUA, protegido para preservar a história do movimento. São coisas pequenas, mas que nos mantém vivxs na luta diária por mais representatividade, amor e igualdade.

As vozes de ódio e intolerância, felizmente, estão perdendo a intensidade. Há ainda muito caminho a ser trilhado, com certeza. Há ainda muito preconceito a ser descontruído, com certeza. Mas estamos num caminho de positividade e avanços.

Portanto, queridx leitxr, venho através desta coluna pedir que se você puder levantar a bandeira da igualdade e do amor (ainda que simbolicamente), faça. Não é preciso ser militante ou gostar de política para celebrar o Orgulho LGBTI. Não tenha medo de ser quem você é. Não tenha medo de colocar a cara no sol, de mostrar para o que veio. Pequenas ações são suficientes: apoie aquele artista LGBTI, sua drag queen favorita, aquele personagem que arde o coração ou aquele escritor que te representa. Entenda os seus direitos e as lutas das outras letras da sigla, afinal somos todxs umx só.

Quanto mais LGBTIs levantarem a voz para lutar por amor, mais fraca ficará a voz do ódio. Quanto mais LGBTIs levantarem a voz, mais rico e diverso ficará o mundo real e o do entretenimento. Não é o momento de voltarmos para os armários, mas o momento de brilhar fora deles. Seja você, tenha orgulho do que é... BRILHE!

Afinal de contas, o Orgulho LGBTI não pode e não deve durar apenas um mês do ano. Ele deve estar presente em todos os dias de nossas vidas e das pessoas que nos cercam. Muitas pessoas lutaram antes de nós para que pudéssemos conquistar esta visibilidade. Portanto, vamos utilizar o espaço que temos para lutar e melhorar a vida das próximas gerações. Vamos mostrar que violência, intolerância e ódio são destruídos com amor e respeito!

E assim nossa jornada pelo mundo Gay LGBTI Nerd continua... Vamos juntxs!

P.S.: O YouTube promoveu a campanha #ProudToBe / #OrgulhoDeSer para celebrar nosso Orgulho. Confira alguns dos melhores vídeos:

 

 

 

 

 

P.S. 2: Muitas marcas tem apoiado as causas LGBTI e nenhuma conseguiu fazer isso tão bem como a Skol. Confira a campanha:

P.S. 3: BRILHE, LGBTI, BRILHE!

P.S. 4: Quando o ataque de Orlando aconteceu, eu estava de férias em Nova York. No dia 14 de Junho, compareci à vigília, em frente ao Stonewall Inn, que homenageou as 49 vítimas. Foi um dos momentos mais intensos da minha vida, principalmente quando a multidão de milhares de LGBTI começou a gritar "Digam os nomes deles". A pessoa que estava no palanque recitou o nome de cada uma das vítimas, enquanto todos levantaram os celulares com as lanternas acesas. Definitivamente um momento de muita emoção. No vídeo abaixo, artistas se reuniram para contar a história de cada uma das vítimas do ataque. É intenso e muito triste, mas necessário para a memória da nossa comunidade.

Adotamos a sigla LGBTI por ser a mais completa para se referir à diversidade de gênero e identidade sexual nos dias atuais. O T se refere a "TRANS" (travestis, transexuais e transgêneros) e o I a "Intersexual", pessoas com características de ambos os sexos e que podem se reconhecer como homem ou mulher, independente das características físicas. Utilizamos a letra X em algumas palavras como recurso de indeterminação de gênero. Dessa forma, quem não se identifica com o "o" ou o "a", indicativos de masculino e feminino, também está incluídx.

*Gay Nerd é uma coluna quinzenal que mistura nerdices aos temas LGBTI


Isaque Criscuolo é editor do Imerso, nerd, adora um lipsync e acredita que menos é mais

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.