Aviso de spoilers: esta edição da coluna contém pontos importantes do fim do mangá de Naruto e do primeiro episódio da minissérie Naruto Gaiden: Nanadaime Hokage to Akairo no Hanatsuzuki. Se você se importar com spoilers, recomendo ler o texto depois desses capítulos.
Naruto acabou. Mas nem tanto. Os últimos episódios do mangá foram publicados em novembro do ano passado. O filme The Last: Naruto the Movie estreou em dezembro no Japão e chega ao Brasil no fim de maio. Funcionou para mostrar a transição entre os episódios 699 e 700, ou seja, como Naruto e Hinata se apaixonaram e tiveram filhos. Foi o primeiro filme a entrar no cânone do mangá. O episódio 700 mostrava Naruto finalmente como Hokage e todo mundo de Konoha casado e com filhos (menos a Ten-Ten, coitada). Fim digno de novela, dattebayo.
É só o começo. The Last inicia oficialmente o Naruto: Shinjidai Kaimaku Project, cujo nome significa "projeto de abertura das cortinas da nova geração". Apelidada de NaruPuro, ou Naruto Project (não confundir com o site brasileiro), a iniciativa vai comemorar os 15 anos da série. Uma das maneiras ações é o Live Spectacle Naruto, peça de teatro com os primeiros episódios do mangá. Não sei se é boa, mas adoro as fotos dos atores caracterizados. Parece o melhor concurso de cosplay em grupo do mundo.
Além da peça, tem o lançamento da Naruto Hiden, uma série de livros com histórias entre o fim da Quarta Guerra Mundial Ninja e o capítulo 700. Já foram lançados os com histórias de Kakashi, Shikamaru e Sakura. O com todos de Konoha sai em 1º de maio, e depois vêm os livros com Gaara e Akatsuki. Aí, em agosto estreia Boruto: Naruto the Movie, mais um filme. Mesmo o outro se chamando The Last. É.
Agora, começaram a sair os episódios de Naruto Gaiden: Nanadaime Hokage to Akairo no Hanatsuzuki. Significa mais ou menos "História Paralela de Naruto: o Sétimo Hokage e a Primavera Escarlate". O nome parece novela mexicana, e o primeiro episódio publicado também. Protagonizado pela Uchiha Salada (ou Sarada, mas prefiro a outra opção pela zoeira), o capítulo termina com uma trama de busca dos verdadeiros pais biológicos. Os fãs não perdoaram. Acho que serão 10 episódios, cada um com um dos ninjas da nova geração.
Vamos concordar em uma coisa? Naruto não vai acabar. Com tantos projetinhos aqui e ali, e um 'anúncio surpresa' do NaruPuro marcado pra julho, não dá pra acreditar no fim. Provavelmente, ficaremos mais alguns anos com a nova geração: Boruto, Salada, Himawari, os novos Ino-Shika-Chou. Veremos Naruto como Hokage, Sakura cuidando da casa (foi só o que ela fez no capítulo 700 e no primeiro Naruto Gaiden) e Sasuke sendo um renegado/mestre do Boruto/pai ausente da Salada. Quais são os próximos passos?
Corta pro momento saudade-dos-velhos-tempos-mesmo-nem-sendo-tão-velha: faz 10 anos que conheci Naruto. Lembro que fui na AnimeDreams 2005 (na época, era em janeiro e não costumava ser cancelada de última hora) e um estande tinha uma placa dizendo algo como "a cada música de Naruto que vocês pedem pra tocarmos, um filhote de panda morre". O anime estava em plena moda e fiquei curiosa.
Fiquei apaixonada. Via um episódio atrás do outro, comprei CDs da trilha sonora e escutei mil vezes. Devo ter matado vários bebês pandas. Procurava tudo sobre o anime na internet. Cheguei a participar de um grupo de RPG de Naruto via MSN com fãs do resto do país. A gente simulava lutas entre personagens que nunca tinham se encontrado, estudava os capítulos pra criar estratégias de cada jutsu. (Fui duas personagens nesse grupo, tentem adivinhar quais escolhi. Respondo na próxima coluna, se quiserem.)
Pouco depois que alcancei a série, chegaram os fillers. Dois anos de fillers. Meu entusiasmo em ver Naruto e Sasuke lutando e ouvir No Boy, No Cry e Nakushita Kotoba se esvaiu ao ver tramas como o "curry da vida". Abandonei e fiquei só no mangá. Depois, até isso abandonei.
Voltei a ler anos depois para saber as intenções do Itachi, a identidade do Tobi, toda a história do Minato. Shippava Naruto com Hinata, Shikamaru com Temari e Gaara com qualquer pessoa, desde fosse feliz. Tirando o Gaara, todos os meus ships agora fazem parte do cânone. Com as novas histórias, estou vendo os filhos dos personagens com quem me preocupava. É um mundo perfeito, que não imaginava ver nem nas fanfics.
Ao mesmo tempo, é pior que qualquer fanfic. Porque eu talvez fosse mais feliz sem saber os passos exatos daqueles personagens depois da guerra. Ver que Naruto virou Hokage já seria uma conclusão satisfatória. Mas agora sabemos a profissão exata de todos os seus colegas de Konoha. Sabemos o que eles fizeram durante o salto no tempo. Sabemos como são seus filhos, quais suas personalidades. Provavelmente saberemos todas as duas aventuras.
Sabemos que aquela criança abandonada e sem amigos cresceu para ser um pai ausente. Que a Sakura talvez não seja mãe da Salada. Será que precisamos saber tudo isso? A história já terminou, estamos apenas discutindo se nossas teorias pro futuro serão confirmadas ou não. Eu, que deveria ficar feliz em ver meus ships darem certo, sinto algo errado.
Talvez tudo fosse melhor na minha imaginação. Talvez o Kishimoto devesse deixar o futuro e as novelas mexicanas pras fanfics, nos deixar imaginar a nova geração. Aliás, sempre que penso em aventuras da nova geração, a primeira coisa que vem à cabeça é Dragon Ball GT. No caso de Naruto, o envolvimento do autor é maior, mas ainda assim...
É claro que as histórias podem ser legais, não duvido que sejam. Mas faz uma década que conheci esse mundo, não quero mais uma história de genins, mais uma ameaça a Konoha. Vou olhar os spoilers de vez em quando por curiosidade, mas preferia imaginar esse futuro. E vocês?
*Míriam Castro é repórter do Estado de S. Paulo e, nas horas vagas, vê anime e fala besteira no Twitter e no mikan³.
