A celebração dos 75 anos de Batman é um dos destaques da programação da San Diego Comic-Con, e criadores se reuniram no painel Batman 75: Legends of the Dark Knight para discutir a importância do Homem-Morcego nos quadrinhos.
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Denny O'Neil e Neal Adams, roteirista e desenhista do Batman nos anos 70 que começaram a explorar o lado sombrio do personagem depois da "alegre" série de TV de 1966, puxaram a fila de convidados, que incluía ainda Frank Miller, Jim Lee, Grant Morrison, Scott Snyder e Geoff Johns. Eles começaram falando da figura de Batman e seus símbolos - "um dos mais conhecidos do mundo", segundo Johns.
"Batman é basicamente uma figura satânica, ele pega elementos dos vampiros, e além de ser um mocinho ele é um mocinho rico, então por isso tem apelo junto aos capitalistas do Ocidente", começa Morrison, sempre impagável. "Ele pega um trauma e se torna esse estranho pináculo das conquistas humanas. Você pode vencer todos os seus medos. Ele é assustador e sexy, etc., mas ele é inspirador, do tipo 'vou fazer algo louco porque sei que é possivel'. Isso é infinitamete interessante para mim", diz Snyder, atual roteirista da série do Morcego.
O'Neil emenda, diz que Superman era dificil de escrever, "porque é difícil criar tramas contra um deus, mas Batman você podia colocar em perigo genuíno e situações humanas". "Eu não acho que tenha havido algum Batman 'errado'. Não acho que o Batman dos anos 50 fosse errado, mas era parte do seu tempo, e foi importante para mim para aprender a ler. Eu não entendia por que Superman voava e Batman não. Por que você tem uma capa se não sabe voar? Eu não acho que ele funciona bem num contexto de ficcao cientifica, mas de resto tudo funciona, e ele é relativamente facil de escrever, de criar drama com ele", continua O'Neil.
Frank Miller diz que foi influenciado por essa fase. "Eu lembro de ser criança descobrindo o Batman de Denny e Neal e naquela época eu tinha sonhos febris com o Batman de Adam West. Eu nao poderia ter feito Batman sem eles dois", conta. "Foi só com Denny e Neal que eu percebi que o personagem tinha não apenas um legado mas também um futuro."
Morrison concorda: "Eu via a série de TV como tragédia grega, não cafona, de jeito nenhum, porque ela passava risco de vida [para o Batman] o tempo inteiro. E para mim o Batman de Denny e Neal Adams foi o que abriu perspectivas do que poderia ser feito nos quadrinhos com ele".
"Nunca houve uma regra de como deveriam ser as orelhas, os bat-móveis, os uniformes, e essa liberdade dada aos criadores é o que ajudou a criar essas historias", diz Lee. "Sim, mas ele corre com aquele garoto de calça colada e isso o faz um alvo ambulante. E ainda tem o símbolo! Uma das minhas conquistas de que mais me orgulho como profissional foi me livrar daquele maldito círculo amarelo", diz Miller.
Para Johns, o Batman de Frank Miller é o que define o personagem para ele. Snyder emenda: "Eu via a série dos anos 60 e nao via que aquilo era cafona quando eu era pequeno. Mas como eu cresci em Nova York, eu me identifiquei com O Cavaleiro das Trevas e Ano Um porque aquele mundo em ruina, grafitado, era muito próximo de mim. Quando encontrei Miller ano passado, um elogio que ele me fez foi que 'eu dei um puta corte de cabelo para o Batman'". Lee comenta sua parceria posterior com Miller em Batman & Robin: "Trabalhar com Frank foi importante para mim, e quando sugeri voltarmos com a oval [no peito] ele me deu um tapa e falou: 'ele é a porra do Batman!'".
Sobre os filmes, Miller acredita que o Batman dos quadrinhos ainda é o melhor, e Morrison diz que "como fã de Batman eu gosto de todos, mesmo os filmes de Joel Schumacher". O'Neil e Adams emendam. "Christopher Nolan é um cara que tem tremendo respeito pelo material original e isso nem sempre é considerado; o Batman dele é o meu Batman", diz o roteirista. "Os três filmes [de Nolan] são bons. Gostei do terceiro filme mas não achei que era exatamente Batman. O pessoal que está cuidando do novo filme tem tudo para fazer algo ótimo. Se me perguntarem de ben affleck vou dizer que acho ele excelente", diz Adams.
Todos parecem acreditar que Batman é, nas palavras de Adams, um amálgama de suas muitas versões. Perguntado por um fã, porém, o desenhista diz que faria tudo de novo, se pudesse, todo o elenco feminino da mitologia. "Desculpe, mas elas são entediantes", diz. Morrison emenda: "Batman permite esses vários humores e ângulos, como Frankenstein. Por isso ele é humano, ele tem essas contradições".
"Dá para fazer qualquer coisa com ele e fazer funcionar. Pode ser comédia, série de criança ou a versão mais sombria, Ele é como um diamante que não quebra e tem várias faces", completa Miller.
Quando Adams diz que Bill Finger é cocriador do Batman, o público aplaude. Durante anos, Finger não teve o mesmo crédito dado a Bob Kane pela gênese do personagem. Para O'Neil, tudo o que envolve o personagem - e os quadrinhos em geral - "só ficou respeitavel quando virei as costas, porque quando começamos [a fazer quadrinhos] éramos quase pornógrafos". Ele diz que Finger era um cara tímido que não batia no peito pelos seus direitos, e quando questionado sobre sua relação com Bob Kane, O'Neil desconversa: "HQ não é um roteiro, nao é uma receita, Bill sabia disso. Não colocava limites e sim abria perspectivas, e eles trabalhavam num formato restrito. E quanto a Bob... Que tempo bom está fazendo! Adoro voltar a San Diego, adoro o clima daqui!".
Na programação da Comic-Con, Finger é um dos homenageados, inclusive com a presença de seus herdeiros aqui em San Diego. Já no Brasil, as comemorações dos 75 anos do Cavaleiro das Trevas acontecem na Comic Con Experience com a presença de Scott Snyder e outros convidados importantes - leia mais.