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Comic-Con 2013 | Painel Spotlight on Neil Gaiman

Autor fala de panquecas, Internet e diz que mal começou a escrever The Sandman Overture

22.07.2013, às 05H35.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

"Você já disse que Morte e Destino aparecem, mas a gente vai ver a Delirium no Sandman novo?", perguntou uma fã ao microfone do painel Spotlight on Neil Gaiman, um dos últimos da Comic-Con 2013, neste domingo. "Espero muito que sim", respondeu Gaiman. E sorriu.

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Neil Gaiman

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Neil Gaiman

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Jonathan Ross e Neil Gaiman

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Como a plateia caiu na gargalhada, o autor teve que explicar. "A trama da HQ está pronta. Não pense que a trama não existe", disse. Mais gargalhadas. "Eu sei mais ou menos o que vai acontecer. Mas essas coisas tipo 'a Delirium vai ou não vai aparecer' são coisas que eu só vou descobrir escrevendo", complementou.

Gaiman havia explicado antes que, sim, The Sandman Overture - seu retorno a Sandman após 25 anos - já tem uma edição pronta, que sai no final de outubro com desenhos de J.H. Williams III. Mas ainda precisa escrever o resto. "Quando chegar fins de agosto, quando acabar minha turnê promocional, sessões de autógrafos [de seu último livro, O Oceano no Fim do Caminho], tudo acabar mesmo, só vou ter Sandman na cabeça e aí tudo vai ficar mais rápido, mais fácil e a Shelly Bond [editora-executiva da Vertigo] vai poder dormir tranquila."

The Sandman Overture começa em 1916, segundo Gaiman, e tem relação com o capítulo de Morpheus na graphic novel Noites Sem Fim - foi um dos grandes tópicos do painel especial sobre Gaiman, com mediação do apresentador de TV e escritor Jonathan Ross. Os outros foram O Oceano no Fim do Caminho, sua colaboração na inserção de Angela no Universo Marvel, seus próximos contos e livros, e como andam os projetos de levar suas criações Belas Maldições, Deuses Americanos e o próprio Oceano no Fim do Caminho ao cinema e à TV.

Ross lembrou que Oceano ficou uma semana em primeiro lugar entre os livros mais vendidos dos EUA - superando até Inferno, de Dan Brown. E pediu para Gaiman contar a gênese deste novo recente literário.

O escritor disse que o livro - "muito, muito pessoal, mais do que todos os meus romances" - foi escrito enquanto a esposa Amanda Palmer estava gravando e mixando um álbum novo, no início do ano passado, e não lhe dava muita bola. "Quando eu escrevo um livro, é normal eu ficar muito fechado, autocentrado e o resto do mundo não interessa. Eu descobri que é exatamente a mesma coisa com a Amanda quando ela grava (...) Os telefonemas eram só 'a gravação está indo bem, te amo, tchau'. Então eu resolvi: vou escrever um conto para você, para fazer você me amar."

"Então, ao invés de mandar flores, vou mandar um conto, um conto com coisas de que você gosta: vai ter eu, porque você gosta de mim; você não é tão chegada em fantasia, então não vou forçar tanto na fantasia; vou tentar ser sincero; e, apesar de eu ser inglês e homem, vou tentar colocar sentimentos, porque você gosta de sentimentos", Gaiman continuou, tirando risadas da plateia. Como a gravação da esposa foi se prolongando e ele teve mais ideias, o conto acabou crescendo. "Chegou num ponto em que eu mandei um e-mail pra minha editora: 'Acho que escrevi um livro. Sinto muito, mesmo. Eu sei que não era o que vocês esperavam. Juro que não faço mais.'"

Oceano é dedicado à esposa de Gaiman não só por isso, mas porque o escritor queria contar a ela como fora sua infância no sul da Inglaterra. E um dos elementos do livro, um homem que se suicida dentro de um carro, veio de uma história que o pai de Gaiman lhe contou há poucos anos - sobre um inquilino sul-africano na sua casa que roubou o Mini Cooper da família e suicidou-se. Mais relações pessoais: "A família não é exatamente a minha, mas a geografia é real e o garoto [protagonista] sou eu, isso com certeza".

Jonathan Ross então puxou uma das excentricidades de Gaiman, que é escrever à mão, em cadernos. Gaiman disse que, desde meados da década de 90, é a maneira que encontrou para se ver livre de e-mails e outras interrupções que teria escrevendo no computador - "porque aí surge a vontade de confirmar no Google como se escreve 'parallel' e quando eu vejo perdi uma hora comprando coisas que eu não queria no eBay".

O método, porém, traz outras complicações: tentando escrever um conto num caderno com papel artesanal, que um fã havia feito com pétalas de rosa, o escritor teve de desistir porque a caneta começava a arrancar as pétalas. E o problema acabou fazendo ele desistir do conto na metade da primeira página.

O conto era "Como o Marquês Recuperou seu Capote", passado no universo de Lugar Nenhum. Gaiman, porém, recentemente voltou a Lugar Nenhum após a adaptação que a BBC fez do livro para radionovela. Inspirado, retomou o conto e diz que sai no ano que vem, numa antologia editada por George R.R. Martin.

A primeira pergunta da plateia foi sobre os trabalhos recentes de Gaiman com a Marvel. O britânico respondeu que vai supervisionar - primeiramente na série Guardiões da Galáxia - a chegada à editora de Angela, saída diretamente no universo de Spawn. Apesar de ter demorado para entregar material - seu crédito passou de "corroteirista" para "consultor" -, Gaiman disse que escreveu mesmo páginas com Angela que vão sair. "[O editor] Joe Quesada, [o roteirista] Brian Bendis e eu tivemos conversas longas e bem interessantes. O jeito como ela vai se integrar com o Universo Marvel vai surpreender, espantar e, espero, encantar vocês."

E Marvelman? "Tenho ouvido murmúrios de que Marvelman com sorte, talvez, quem sabe volte. Mas ouço esses murmúrios há anos. Eu não desmentiria os rumores, acho que mais cedo ou mais tarde é inevitável." Jonathan Ross gabou-se de que já leu Marvelman #25, edição que Gaiman escreveu mas nunca foi publicada.

Questionado sobre a possibilidade de vermos um filme baseado em Belas Maldições, Gaiman balançou a cabeça para cima e para baixo e respondeu em duas palavras: "Grande probabilidade". Ross interveio: "Mais alguma novidade em termos de filmes sobre os quais você não pode falar?". Gaiman fez a lista: Oceano no Fim do Caminho, já com roteiro à caminho, terá direção de Joe Wright; O Livro do Cemitério será um filme da Disney, Ron Howard está na produção, e as filmagens acontecerão no segundo semestre de 2014. E John Cameron Mitchell vai fazer um filme baseado no conto "Como Falar com as Garotas nas Festas"'.

Sobre Deuses Americanos: "Eu quero muito que vire série de TV", respondeu, com aplausos da plateia - o seriado atualmente está na fila de projetos na HBO. O escritor também está trabalhando em contos com o protagonista de Deuses Americanos, Shadow, e quer fazer três deles antes de escrever Deuses Americanos 2. O primeiro já saiu em Coisas Frágeis e ele diz estar no metade do segundo.

O processo criativo mudou depois da fama? "Para mim, o processo criativo sempre foi preocupar-se um monte e beber enormes quantidades de chá. Nesse aspecto, não mudou nada. Minha maior preocupação é que, com o sucesso, é difícil alguém me dizer quando eu faço porcaria." Para contornar a preocupação, Gaiman diz ter uma rede de amigos a quem apresenta seus escritos, e em cujo julgamento confia.

Para fechar, um fã pediu conselhos para aspirantes a escritores: "Escreva. Simplesmente escreva. Sente-se, coloque uma palavra depois da outra. Vá pra algum lugar onde não tenha Internet, onde ninguém incomode. Escreva, escreva. Termine o que escrever. Você vai aprender mais com uma coisa que tenha terminado do que com mil que tenha começado e abandonado... Se você já fez uma panqueca, sempre tem aquela panqueca que você acha que vai ser uma ótima panqueca e aí ela gruda, queima, fica num formato que não parece de panqueca, aí ou você come, ou dá pro filho ou joga fora. Então lembre-se de que as histórias podem ser assim: as primeiras que você fizer vão ficar enrugadas, estranhas, queimadas. Aí você tem que seguir em frente, até fazê-las boas."

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