Nos romances de fronteira do escritor Cormac McCarthy, como Meridiano de Sangue e Onde os Velhos Não têm Vez, as explosões de violência são uma forma de meditar sobre a morte, porque quando um evento moral se inicia, mesmo ao acaso, não há nada que impeça seu desfecho violento - tentar evitar essas explosões seria como tentar driblar a própria morte.
conselheiro do crime
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O Conselheiro do Crime, filme dirigido por Ridley Scott a partir de um roteiro original de McCarthy, funciona sob o mesmo raciocínio. O tal conselheiro é um advogado (Michael Fassbender) seduzido pelo extravagante Reiner (Javier Bardem) a entrar num negócio milionário de drogas que estão chegando ao Texas pela fronteira com Juárez, cidade mexicana com uma das maiores taxas de homicídio do mundo.
É curioso que chamem o personagem de conselheiro, porque quem mais recebe conselhos é justamente o advogado: todos avisam do perigo que é mexer com tráfico, cartéis, empresários exuberantes etc. A decisão do conselheiro - aceitar ou não uma participação na encomenda - é o evento moral que McCarthy coloca no caminho dos protagonistas, e o desfecho é de um fatalismo antevisto e esperado, desde o diálogo da primeira cena do filme.
O Conselheiro do Crime soa muito estranho para os padrões dos suspenses hollywoodianos porque o seu miolo não envolve viradas constantes de roteiro. McCarthy descreve o encontro de duas linhas retas rumo à ruína, e desconcerta o espectador o fato de, pelo caminho, termos pouco mais de meia-dúzia de monólogos sobre moral e perversão, cheios de gravidade, como se os personagens já estivessem, sem saber, conversando durante um funeral.
O elenco estrelado (Cameron Diaz dá um show) e a premissa de thriller talvez não sugiram, mas O Conselheiro do Crime é basicamente um filme-ensaio sobre o valor da morte e as decisões que levam a ela. Então boa parte da graça é identificar o que diferencia essas duas retas destinadas a se cruzar: os mandantes do golpe de um lado, com seus hobbies, seus diamantes e seus drinques, e os executores do golpe do outro, a gente suada da fronteira, anônimos de uma grande família cor de poeira, literalmente cobertos de fezes até a tampa.
McCarthy sempre foi conhecido pela sua capacidade de descrever um cenário, desde a origem geológica das rochas do deserto texano. O Conselheiro do Crime pode até dever em termos de ação, mas é um filme nitidamente mccarthyano no sentido em que pinta - sob o perfeccionismo cenográfico que caracteriza os filmes de Scott - com detalhes uma paisagem de tons tão distintos quanto aquela que divide os EUA e o México.
E ao espectador (a quem McCarthy obviamente entende que não tem contas a prestar) resta a desconfortável posição de testemunha da explosão de violência, como as pessoas borrifadas de sangue enquanto assistem a uma morte lenta no filme.
No mais, O Conselheiro do Crime daria uma ótima sessão dupla com o documentário Narco Cultura, que também compara a realidade em Juárez com as cidades americanas de população mestiça, ao Sul do país. Ambos os filmes ilustram bem como o mundo de mimos consumistas e mitos masculinos dos EUA (o gangsta rap no documentário, os veículos de grife e os garanhões de McCarthy/Scott) influencia o que acontece nos dois lados da fronteira.
O Conselheiro do Crime | Cinemas e horários
Ano: 2013
País: EUA
Classificação: 16 anos
Duração: 118 min
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Cormac McCarthy
Elenco: Michael Fassbender, Cameron Diaz, Javier Bardem, Penélope Cruz, Brad Pitt, Dean Norris, Emma Rigby, Rosie Perez, Goran Višnjić, Bruno Ganz, Toby Kebbell, Barbara Durkin, Donna Air, Giannina Facio, Richard Brake, Sam Spruell, Sam Spruell, Alex Hafner, Richard Cabral, Dar Dash, Paris Jefferson, Christopher Obi, Velibor Topić, Gerard Monaco, Fernando Cayo, Carlos Julio Molina, Natalie Dormer, Rubén Blades, Julien Vialon