O primeiro filme de A Saga Crepúsculo chegou aos cinemas em 2008, num momento em que o cinema estava apostando alto em adaptações de livros. A ideia da Summit Entertainment era ter sua própria franquia, com o sucesso equivalente ao de Harry Potter e afins. Ao todo, os cinco filmes de Crepúsculo arrecadaram mais de US$ 3.3 bilhões na bilheteria mundial e podem ser considerados um sucesso financeiro. No entanto, os longas foram alvo de um hate gigantesco na época de lançamento, algo que fez muitos fãs terem vergonha de assumir o amor pela saga. Felizmente, isso mudou ao longo dos últimos anos.
Primeiro é importante falar sobre todo o ódio que foi destinado aos filmes de Crepúsculo. Muitos criticaram a forma como os vampiros de Stephenie Meyer foram retratados, reclamando especialmente do fato de os seres brilharem ao sair no sol, ao invés de virarem cinzas. Narrativamente, a autora explicou isso afirmando que seus vampiros são praticamente indestrutíveis e seus corpos são semelhantes a diamantes, o que explica o brilho no sol. Ao criar uma série com o foco para adolescentes, Meyer escolheu mudar algumas características clássicas dos vampiros e criar algo com mais sentido para a história que ela queria contar.
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A pergunta que fica é: por que o entretenimento destinado para jovens - especialmente para garotas - sempre é altamente questionado e tratado com desdém? Dentro da narrativa de Crepúsculo, em que vampiros vão para a escola como um método de camuflagem para esconder sua verdadeira identidade, faz sentido que eles não virem cinza no sol. Ao invés de matá-los, a luz solar revela suas identidades e eles ficam longe da cidade em dias mais claros, algo bem semelhante a outros vampiros da cultura pop. A crítica exagerada ao visual dos personagens só faz sentido para quem não conhece a história e ainda é carregada de homofobia, já que uma das formas de “desmerecer” os vampiros era dizer que brilhar no sol era algo “muito gay”.
Porém, se antes era motivo de vergonha falar nas redes sociais que é fã de Bella e Edward, já faz algum tempo que os admiradores da saga publicam fotos com orgulho, sobem hashtags e comemoram quando os longas chegam a novos serviços de streaming, como aconteceu recentemente na Netflix. Além de ter uma pitada de nostalgia, o movimento também mostra como cada vez mais os fãs da cultura pop querem mostrar com orgulho os seus gostos. O conceito de guilty pleasure (o “prazer culposo”), em que é preciso ter vergonha de algo que se gosta, felizmente está cada vez mais ultrapassado. Se uma série ou filme entretém e entrega momentos divertidos e emocionantes para o seu público, não há nada do que se envergonhar.
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Crepúsculo não é uma obra-prima, mas nunca se propôs a ser isso. A ideia dos filmes sempre foi mostrar uma história de amor (que é bem problemática, mas isso é papo para outro texto) e de descoberta na adolescência, já que Bella (Kristen Stewart) sempre se sentiu deslocada em sua vida como mortal e encontrou nos vampiros um lugar em que finalmente se sentiu aceita. A trama do filme não é nem de longe original, mas ela é redondinha com sua proposta e bem executada no cinema, vide algumas sequências bem densas com a família de vampiros Volturi. A Saga Crepúsculo é puro entretenimento e está tudo bem. Afinal, nem todo o filme ou série precisa passar uma mensagem, ensinamento ou lema de vida. Às vezes é bom só assistir algo leve, com uma trilha sonora boa e uma pitada de fantasia para se divertir.